Dragão de Rozan

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Aqui estava ele. Um jovem de 16 anos, meditando na ponta do abismo das grandes cachoeiras de Rozan. Seu nome era Shiryu. Ele não fazia ideia de quem era, só sabia que se chamava Shiryu e que vivia ali por informações dada por uma jovem chamada Shunrei, que dizia ser sua amiga de infância.
Como esses eram os únicos fatos pelo qual sabia, o rapaz apenas meditava e convivia com aquelas quedas d'água imensas, sem nunca reclamar ou questionar a Shunrei sobre nada. Tirando tudo isso, sua vida era tranquila e calma.

— Shiryu, trouxe bolinhos de arroz! — a voz fofa da garota animava de vez em quando a Shiryu. Era comum ela sempre vir e trazer lanches para enganar o estômago do chinês, pois este passava muito tempo encontrando paz interior em frente aos picos.

— Ah, obrigado Shunrei. É muito gentil da sua parte. — sorrindo para a mais nova, algo que a fez corar, ele pegou o prato e começou a se deliciar com o alimento que a mesma havia preparado. Ela tinha ótimas mãos gastronômicas.

— Hm... Quem dera o Mestre Ancião estivesse aqui... — Murmurou a jovem enquanto observava o rapaz se alimentando dos bolinhos. De fato, o ida sem volta de mestre ancião tinha a deixado um pouco abalada, juntamente com a última guerra santa contra Hades e a luta contra os deuses do sol e da lua, onde Shiryu teria perdido a memória. Por esses motivos, Shunrei não queria mais perder ninguém e jurou proteger com a vida aquele diante dela.

— Disse alguma coisa, Shunrei? — o chinês olhou de soslaio para a jovem, que agora tinha uma pequena e lenta lágrima decorrendo sua bochecha. — Você está bem? Parece triste...

— A-ah... N-não é nada... Só... Só algumas memórias bem antigas... Bem, eu vou ajeitar os quartos para podermos dormir, está quase anoitecendo. — a mesma então se retirou, enxugando rapidamente aquela incômoda lágrima do rosto.

Há, claro, um outro pequeno item que incomodava a Shiryu. De quando em quando, ele ouvia Shunrei susurrar os mesmos nomes o tempo inteiro, tais como "Athena", "Mestre Ancião" ou "Promessa". Todas elas teriam de ter uma só razão para fazê-la chorar silenciosamente. Ele fingia que não notava, porém não tinha momento nenhum em que Shiryu não escutava alguns abafados soluços vindo do quarto da amiga. Aquilo o preocupava, mas permanecia quieto para não incomodar.

— Hm... Amanhã vou perguntar o que realmente está acontecendo pra ela ficar assim. — destinando-se a pequena casa não muito longe dali, já que a lua já jazia no ar, o ex Cavaleiro fora até seu quarto, deitou-se e dormiu pensando em como iria fazer sua pergunta para Shunrei sob os sons de pingos de chuva batendo contra o teto.

O sono dele poderia ser facilmente quebrado caso escutasse algum som anormal. Tal foi como aconteceu. O barulho da porta da sala se abrindo acordou ao dragão antes adormecido, fazendo-o arrastar um pouco a porta para o lado para espiar o que era.

Havia duas silhuetas pouco nítidas ali. Uma claramente parecia pertencer a Shunrei. Já a outra era masculina, algo que seria difícil, principalmente para alguém perdido de suas lembranças, de identificar.

— O que? I-isso é sério? — não havia dúvidas de que era a chinesa que falava. Sua voz aparentava receio devido ao gaguejar de palavras.

— Sim, Shunrei. Você precisa contar pra ele. Talvez... Será necessário que novamente ter de lutar para um bem maior. — agora era o homem que se pronunciava debaixo daqueles sons de chuva colidindo contra o teto com selvageria — Por isso estou lhe pedindo.

— M-mas... Mas ele já passou ppr tanta lutas... Pra quê mais uma? Vocês têm mesmo a intenção de matá-lo? Porque se for assim, ele não vai!! — os prantos da chinesa já ficavam claros. Ainda não sabia ao certo de quem dialogavam, entretanto era perceptível que ela estava totalmente contra a tal indivíduo o fazer. — Ele não merece isso...

— Shunrei, eu não posso ficar discutindo o inevitável. A armadura de dragão já está inquieta e, uma hora ou outra, ele irá despertar o cosmo, a armadura virar e ele vai se lembrar de tudo! Por favor, me escute e pare de chorar... — as mãos do desconhecido seguravam os ombros de Shunrei firmemente, enquanto ela chorava.

— Snif... E-eu sei que esse é o dever dele... M-mas eu não quero, Nachi... Não quero que aconteça a ele o que aconteceu com o Mestre ancião...

— Eu sei como você se sente... Perdemos muitos amigos naquela guerra e quase perdemos mais alguns quando Ártemis tomou o controle temporariamente... Mas ouça, isso é o que os cavaleiros fazem... Por isso, assim que Shiryu acordar, prometa-me que irá contar tudo a ele, está bem? — soltando a garota, se distanciou para deixá-la menos pressionada e esperou até que se acalmasse.

— E-Está bem... Irei dizer... — respondeu já retomando o fôlego e respirando bem fundo.

Movido pela curiosidade, o chinês afastou mais um pouco a porta a fim de ver o rosto do tal Nachi com quem Shunrei conversava. Nisso, fez-se um barulho suficientemente alto para que as duas figuras se virassem surpresas.

— O-o que está fazendo acordado Shiryu? — falou a jovem um pouco espantada, pois acreditava que o amigo teria dormido profundamente.

— Eu... Eu escutei a conversa de vocês... E... Eu ia justamente perguntar por que você chorava quando estava sozinha, Shunrei, mas acredito que... Já obtive a resposta. — se aproximando do chabudai no centro da sala, ele sentou-se com a coluna ereta e prestativo. Queria saber mais sobre aquilo.

— Bom... Já que você está acordado e todos nós estamos reunidos aqui, não há melhor hora para revelar, não é, Shunrei? — Nachi virou-se para a chinesa e aguardou a resposta, que veio em forma de um breve aceno. — Ótimo.

Com total serenidade, sabendo que tal assunto era meio frágil diante dos dois, Nachi explicou a Shiryu o que ocorrera para ele ter perdido a memória e quem ele fora antes do acontecimento. Desde o momento em que fora levado ao centro de treinamento dos orfãos até a guerra santa final de Hades e Athena. Citou, então, finalmente o nome de Dohko, que também era conhecido por todos os Cavaleiros como mestre ancião, por ter sido um dos mais antigos dentre o exército inteiro de Athena. Falou que este fora seu mestre e o ex Cavaleiro de Libra, e que ficou vigiando o local onde Hades havia sido selado por longos 243 anos.

— Mas... Uma pessoa comum não chega a tal idade. — afirmou o moreno, olhando o Cavaleiro de Lobo com estranheza. Isso o fez ter certeza de suas lembranças estavam real e totalmente apagadas.

— Ele alcançou isso graças ao Misopetha-Menos que ganhou de Athena, Shiryu. Com isso, o coração dele batia de forma mais lenta, fazendo com que seus 243 anos fossem apenas 243 dias. — continuou calmamente.

Após isso, explicou todos os fatos acontecidos até a luta dos cavaleiros de bronze contra Apolo e Ártemis, onde, devido ao grande choque entre o punho de Seiya contra Apolo, que já estava com seu cosmo extremamente elevado, causou-se um enorme clarão. Dito isso, ele completou que esta foi a causa da amnésia do dragão.

— Foi realmente trágico quando soubemos... Pensamos por um instante que vocês tinham morrido por conta do calor exaustivo emanado de Apolo. Porém, fora apenas a perda de memória. Você e os outros são muito conhecidos entre os aspirantes do santuário por seus milagres. — ao falar isso, Nachi sorriu, algo que fez Shiryu orgulhar-se de si e seus companheiros fiéis. Ao olhar pela janela, o cavaleiro de lobo levantou-se. — Devo-me ir. Fiquei encarregado de vigiar vocês, mas creio que Jabu e Marin irão querer informações sobre como me saí no meu dever.

— Entendo perfeitamente. — imitando a ação do outro, Shiryu também se ergueu e apertou a mão de Nachi com firmeza — Diga a eles que logo estaremos de volta.

— Eu direi. — finalizando a sentença, o rapaz se direcionou a porta de saído, colocando um capuz por cima da cabeça e acenando.

Infelizmente, algo fez com que ele parasse seus passou, porque os três ali presentes sentiram tremores estrondosos vindos do chão. O chinês notou que o teto começara a rachar, logo pegou Shunrei nos braços e saiu o mais rápido que pôde. Observando a casa destruído, ele e Nachi se entreolharam surpreendidos.

— O que foi isso? — disse o libriano, observando aquela casinha pela qual sentia aconchego devastada.

— Não faço a mínima ideia, mas, seja lá o que foi, fiquemos de olhos e ouvidos abertos.

— Uhum...

— Mas que pena, não consegui atingir meu alvo... — uma voz risonha e sarcástica ecoou.

Saint Seiya - ZeusWhere stories live. Discover now