1 - Uma vida "normal"

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(T1E3)

- Bom dia, papai. Preparei seu café!

- Obrigado, filho, mas se apresse você já perdeu muita aula nessas últimas semanas, não quero que fique mais atrasado do que já está.

Na verdade eu havia entrado na escola com um pouco de atraso, meu pai e eu viajávamos bastante quando eu era criança. Não eram viagens longas nem para lugares distantes, mas eram frequentes e acabei me atrasando para entrar na escola.

A maioria dos meus colegas de sala era um ou dois anos mais novo que eu. Mesmo assim, eu era o melhor da minha turma.

- Não estou atrasado nos estudos! Pelo contrário, o Sr Phillips sempre diz que estou bem avançado em relação aos meus colegas!

- De qualquer forma, não quero que perca mais aula. Vida normal filho!

Vida normal... era isso que ele vinha me dizendo desde que soubemos que sua doença era terminal. Mas como agir normalmente diante daquilo? Será que ao menos ele acreditava que isso era possível?

Eu vinha tentando seguir seu desejo e agir normalmente, mas no fundo estava devastado e sabia que ele também estava.

Talvez ele quisesse que eu fosse para a escola apenas para não precisar escutá-lo tossir o dia todo, e talvez eu estivesse indo por esse mesmo motivo. Era desesperador ficar escutando seu sofrimento e saber isso só iria piorar, mais e mais até...

Eu gostava da escola, do conhecimento em si. Mas confesso que me sentia um pouco deslocado. Às vezes achava meus colegas bem imaturos. Amadureci muito naquelas últimas semanas e não sabia se teria mais a mesma paciência para as bobagens deles.

Nunca entendi a forma como os meninos estavam sempre se provocando ou provocando as meninas, as insultando para chamar-lhes a atenção, sempre achei aquilo "ridículo", como escutei Diana Barry dizer uma vez.

E também não entendia essa necessidade que os garotos têm de chamar a atenção das meninas a ponto de fazer insultos e brincadeiras um tanto inapropriadas só para receber um olhar desaprovador como retorno.

Fui ensinado a tratar todos com cortesia (principalmente às mulheres), ser cavalheiro. E estava satisfeito com a atenção que recebia das meninas, elas sempre me cumprimentavam, eram educadas comigo. Não via necessidade de mais atenção que isso.

Se meu pai ouvisse esse pensamento diria: "Por enquanto, filho. Por enquanto!" E riria da minha indiferença pelo sexo oposto, ou melhor, atual indiferença como ele dizia. Não que eu não me interessasse por elas. Gostava de observar uma menina bonita como qualquer garoto. Só não estava desesperado pela atenção delas.

O conselho que recebi de meu pai, em relação aos meus colegas era não participar de tais gracejos se não concordasse com eles. Ser gentil e solícito quando necessário, mas não me afastar dos amigos.

"Não seja um imbecil só porque os outros preferem ser!" ele dizia, "Mas não se isole, haverá momentos nos quais esses garotos serão bons companheiros!"

Iria precisar memorizar aqueles conselhos, logo não os teria mais...

Enfim, com a chegada da Sra Kincannon, que cuidava da casa e atendia meu pai quando eu não estava. Podia sair para a escola.

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No caminho, porém, vi algo que me intrigou. Havia alguém no bosque, ainda estava longe, mas parecia ser Billy Andrews.

A fazenda dos Andrews ficava do outro lado do bosque, ele não passaria por ali no caminho para a escola! E se tratando de Billy, havia uma grande chance de ser encrenca.

My Anne with an EOnde as histórias ganham vida. Descobre agora