Sweet Tears | knj+pjm

dez

 Jungkook acordou mais tarde que o normal, com a cabeça latejando de dor. Sua cama parecia dançar e as coisas demoraram para criar forma. Piscando os olhos com força, várias vezes, conseguiu pegar o celular. Todas as notificações tinham o nome de Jimin e a mensagem mais recente dizia "você deve estar cansado do trabalho, não é? mas me liga depois". Trabalho. Jungkook queria ser digno de trabalho. Não tinha capacidade pra nada. As notas da escola não significavam nada. E os pais sempre diziam que não queriam ver seu bom filho trabalhando. Mas tudo bem. Não é como se ele pudesse realmente fazer algo.

 Esticou as mãos à sua frente para tentar focar melhor a visão e percebeu que ainda usava sua camiseta de manga longa preta do último encontro com Sana. Ah, o encontro com Sana. Era por isso que ele estava daquele jeito. Colocou a mão em concha sobre a boca e soltou um pouco de ar. Imediatamente foi tomado pelo cheiro de álcool e sentiu vontade de vomitar. E o fez. Foi correndo ao banheiro e jogou toda a desgraça do corpo na privada. Mas a mente era a mesma. Ele não ia conseguir esquecer o porquê de ter bebido tanto. Sana do outro lado da mesa, com sua blusa de gola alta cor de vinho, olhos redondos com pouca maquiagem, e uma voz firme e audível. Apesar da pose, ela estava triste. Decepcionada.

 Jungkook se lembrava muito bem da última vez que alguém o olhou daquele jeito. Lembrava-se bem da última vez que se sentiu mal com o que fazia de modo tão natural.

 Criou forças para manter o corpo ereto, segurando as lágrimas que queriam escorrer. Enquanto ouvia o barulho da descarga, um sentimento cresceu em seu peito. Raiva. Ele tinha raiva. Trocou a camisa que estava usando e pegou a chave da moto, sem deixar de tomar um gole de whisky antes de sair.

-*-

 Namjoon não havia dormido, estava arrasado, culpado, deprimido. Talvez tivesse falado demais para Jimin. Poderia apenas ter ficado em silêncio. Oferecido o café e uma torrada com geleia. Mandou uma mensagem para o garoto e foi ignorado. Passou pela praia, mas não o encontrou. Viu Sana chegar do encontro e acordar de manhã para a academia. Mandou outra mensagem e dessa vez Park ao menos visualizara. Ainda não estava na hora para ele, mas Kim não aguentava mais.

 Ele não aguentava mais ver Jimin sofrer.

 O garoto tinha um sorriso lindo, que fazia seus olhos sumirem nas bochechas e seu rosto ficar rosado. Quando estava na casa do Namjoon, o mais velho sentia como se ele fosse verdadeiro com quem era o tempo todo. Dançava e cantava errado, se divertia com os video games e adorava testar efeitos de câmera. Como Jeon Jungkook não via o quão doce era o namorado?

 Namjoon terminou o quinto pacote de carne seca sem perceber. Checou a hora. Perdeu o horário de caminhada. Não estava com fome. Mas precisava de algo fresco para compensar o sódio no sangue. Tomou um banho gelado e se vestiu tentando não refletir como estava mal. Um jeans claro, converses e uma camisa larga de manga longa. Branca. Ele se sentia bem de branco. Juntou em sua mochila o uniforme de basquete, mesmo sem ter certeza se iria.

 Resolveu ir a um restaurante familiar não muito longe da quadra, onde servia uma salada com grãos maravilhosa. Tinha gosto de brisa de verão. Tentava evitar pensar em Jimin, porém veio a sua mente ter a companhia dele nesse almoço. Será que ele conhecia o restaurante? Se não, ele gostaria do lugar? Imaginava-o super feliz provando a salada e sorrindo de boca cheia no outro lado da mesa. Instintivamente, Namjoon abriu a conversa do amigo, para ver se havia alguma resposta.

 Antes que pudesse perceber o "digitando..." abaixo do nome de contato, foi surpreendido por uma buzina aguda. Olhou de canto de olho para a rua mas não viu nada. Será que já tinha passado? Provavelmente não era pra ele. Guardou o celular no bolso. Namjoon tinha um pouco de medo dessas coisas. Não havia realmente muita gente na rua. Começou a andar mais perto da parede, procurando um beco que havia por ali. Poderia se encostar na parede dele como quem não queria nada e observar melhor sem parecer muito assustado.

 Chegando ao beco estreito, fingiu sentir falta de algo, se encostando na parede para olhar a mochila. Com a cabeça baixa percebeu que não havia nenhum veículo na rua. Deve ter passado rápido. Aquelas buzinas para avisar que se você atravessar a rua, o motorista não vai poder frear. Havia apenas uma senhora e um homem engravatado a rua. A senhora quase na esquina, com uma cesta de empurrar vazia. O homem parecia esperar um táxi. Suspirou aliviado, e se repreendeu pela paranoia. Enquanto recolocava a mochila nas costas, viu um carro surgir na rua, que parou na frente do homem de terno e o levou embora. Estava tudo bem.

 Mas mal avançou muito pela calçada quando a mesma buzina aguda tocou, dessa vez bem mais perto. O rugido alto de um motor potente o obrigou a se virar. Jungkook tirava o capacete com pressa. Os olhos estavam cansados e suas veias chamavam atenção ao longo do pescoço. Descia da moto girando os pulsos. Namjoon deu alguns passos pra trás assustado.

- Jungkook, para. Calma. Você está bêbado. Jungkook!

- Acredite, não estou mais tão bêbado assim. - Jeon murmurou perto do rosto do garoto.

A diferença de altura já não era mais a mesma de antes. Jungkook era mais encorpado e musculoso. Mais viciado e doentio. Mais descontrolado e solitário. Namjoon parecia o mesmo de sempre pra ele. Bonito, inteligente, calmo, divertido. E agora, com aquela cara de assustado. Tão irritante. Tão irritante.

- Eu odeio você, Joonie-ah!

Namjoon só pode fechar os olhos antes de sentir uma das maiores dores da sua vida.

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