quatro

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A chuva estava leve quando Namjoon avistou Jimin pela orla. Ele dava aqueles seus mesmos passos pesados, com os ombros baixos, deixando o vento rodopiar seu corpo. O rosto erguido contra a chuva fina, mesmo de longe, emitia tristeza. Era uma dança gótica e bizarra que o homem acostumou-se a assistir. Que apesar do impulso íntimo de querer resolver as coisas à sua maneira, indo ele mesmo conversar com o namorado doentio, não havia muito o que fazer. O mais novo precisa superar isso sozinho, para que não caísse em outro jogo parecido.

Naquela tarde, o show de despedida fora vago. Pelas nuvens acinzentadas, mal puderam ver o pôr-do-Sol. Mas isso não deixava o espetáculo menos significativo. Namjoon lembrou-se de um velho amigo, que amava chuvas no fim da tarde. Já Jimin visualizara nas nuvens escuras a mesma sensação de aprisionamento que era sair com o namorado.

Mas é só uma paranóia. Se para Jungkook está tudo bem, para ele também estava.

Jimin subiu os degraus para o mirante de dois em dois. Gostava de ver o amigo. Hoje ele tinha, infelizmente, os cabelos cobertos por um chapéu cinza. Mas estava elegante como sempre.

- Boa noite, Jimmy. - Namjoon o recebeu com aquele seu sorriso doce, com covinhas. - Não se incomoda com a chuva?

- Não muito. Mas está ficando forte.

O pequeno tinha o moletom ensopado. Provavelmente viera andando por todo o caminho, absorto em pensamentos sobre Jungkook. Os cabelos descoloridos colavam em seu rosto, e uma gota de água escorria no pequeno nariz. Namjoon puxou a manga do casaco e secou o rosto do amigo.

- Essa chuva veio do nada. Não precisava ter vindo.

- Eu sempre venho à praia. Independente do tempo. Já me machuquei várias vezes...

Foram surpreendidos por uma corrente de vento, que fez Jimin tropeçar entre algumas gargalhadas. Namjoon segurou o chapéu e apertou o pequeno guarda-chuva que carregava no bolso. Não daria para os dois.

- Gosta de video games, Jimin?

- Eu costumava a jogar com frequência.

- Encara uma caminhada até a minha casa?

Sua resposta foi um sorriso aberto e empolgado. Jimin não jogava fazia meses por dois motivos angustiantes: a) não gostava de jogar sozinho; b) Jungkook odiava games. Na verdade, Jungkook odiava muitas coisas. Gostava apenas de seu skate, de ir à academia três vezes por semana e de ouvir JRock.

Park evitava pensar no namorado quando estava com Namjoon. Ele era o único amigo que não conhecia sua relação. Sentia-se leve, sem cobranças. Ali, ao lado do homem, debaixo de uma chuva nada generosa, com os tênis e meias molhados, andando até o outro lado da cidade, seria um dos melhores momentos para Jimin naquela semana.

- Eu moro naquela rua. - o mais novo comentou, apontando para um ponto em que Namjoon não identificara. - Minha casa fica em cima de uma padaria. Na verdade, a padaria também é da minha família.

Talvez o outro sugerisse que ficasse por ali, mas vendo a empolgação e o sorriso no rosto do colega aquele dia, já sabia que a resposta seria algo como "deixe de ser idiota, eu volto mais tarde". Pena que seu guarda-chuva era pequeno demais.

Jimin gostava de conversar. Normalmente seus pais, colegas e namorado não prestavam muita atenção no que ele dizia, porém Namjoon respondia e ainda pedia para repetir partes que não entendera. Conduzindo o assunto, descobriu que o misterioso e sério amigo era esportista e nerd.

- Não sou um praticante assíduo nem um fã louco. Apenas jogo basquete. Mas não é nada demais, ajuda a manter a saúde.

- Mas aposto que entre os seus games, tem algo referente à NBA.

- Obviamente.

- Você não parecia ser desses. Não tem cara de nerd.

- É completamente sem nexo a mania que as pessoas tem de rotularem as outras, partindo pela aparência e comportamento social. Somos muito mais complexos do que isso, não acha? - Namjoon falava mais consigo do que com o companheiro, que sentiu-se culpado. - Já ouvi cada absurdo dos outros. Por gente que nem ao menos tentou me conhecer. "Achei que você fosse outro tipo de cara", "não pensei que você era desse tipo de gente". Criar uma pré-definição para alguém, apenas pelo o que ela se mostra por fora é tão... tão idiota. Tão coisa-de-humano.

- D-desculpa.

- O quê? Ah, não, eu que peço desculpas, não me ofendi. Vindo de você, não ofende. - respondeu sem graça. Xingava-se internamente por fazer Jimin achar que tinha feito algo errado. - É que... algumas pessoas me feriram bastante. E a justificativa delas era a que eu parecia ser outro tipo de pessoa. Eu e essa mania de ser um lixo.

-*-

  Quando chegaram na aconchegante casa, Jimin espirrava baixinho, tentando fazer-se de forte para a gripe que provavelmente pegara. Antes de destrancar a porta, Namjoon tentara virar a maçaneta, para ter certeza que Sana não estava lá. Naquele horário ela provavelmente já deveria ter saído. Seria constrangedor se a prima citasse o nome de Jungkook perto de Jimin. Eles poderiam tratar como uma coincidência, mas seria coincidência demais ambos serem de alguma família Jeon. Imagina então se resolvessem falar um pouco sobre seus Jungkooks.

Um encontro desses poderia acabar com a vida de Namjoon. Ou melhor. Jeon Jungkook acabaria com a vida dele.

Jimin tem que descobrir sozinho. Tem que lidar com isso sozinho.

- Tem uma toalha?

- Que tal um banho quente, Jimin?

- Desculpa dar trabalho...

Como Jungkook consegue fazer mal a ele?

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'Sweet Tears' também é publicado na plataforma Social Spirit, em minha conta @/nykluving . Link: https://www.spiritfanfiction.com/historia/sweet-tears--jimon-10351439

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