Bater de Asas do Cisne

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Ou melhor dizendo, que ele deixou de conhecer. Essas eram seus melhores amigos de infância, seu mestre e seu companheiro Isaak.

— O que é isso?... — a mão de Hyoga já se encontrava em sua testa, na tentativa de conter a leve dor que sentiu por um instante. — Devo estar delirando...

Com um movimento rápido, o jovem saiu do chão e andou de volta para Kohoutek. Ainda era esquisito a sensação daquelas imagens em seu ego. Não eram totalmente irreconhecíveis, mas também não havia nada nem ninguém parecido com aquelas pessoas na aldeia. Estava ficando louco?

Sua pergunta ficou sem resposta, pois um tumulto entre pessoas tomou-lhe o foco. Ele correu para ver o que era e, para sua surpresa, nada mais passava de uma briga. Uma briga injusta entre um menino ruivo e um homem forte. O garoto, ninguém mais era que Jacob. Tinha gente tentando contê-lo, todavia o mesmo não estava sozinho. Outros como ele, de porte físico grande e musculoso, empurravam os aldeões para longe, enquanto alguns tiravam caixas de alimentos e agasalhos das casas dali.

— SEU MOLEQUE MEDÍOCRE! — o gigante chutou Jacob, causando-lhe gritos agonizantes. — VAMOS, SAIA DA FRENTE!!

— NÃO VOU SAIR!! — ainda que derramando muito sangue pelo canto da boca, Jacob não se desprendia de uma caixa. Aquela era a mesma que ele e Hyoga tinham trazido para a cabana.

— SEU PIRRALHO! VOU LHE ENSINAR UMA BOA LIÇÃO! — Erguendo o punho para acertá-lo, o homem esmagando o menino com sua enorme mão, mas Hyoga se disparou entre eles e segurou com firmeza.

— Não ouse tocar no Jacob!!! — o peso e a força que o desconhecido fazia era intensa, tanto que foi preciso segurar aquela mão com as suas duas pequenas.

— Mais um intrometido... E você quem é para se meter em meus assuntos?? — com fúria, a força posta pelo gigante aumentou contra o corpo de Hyoga, fazendo-o agachar aos poucos.

— HYOGA!!! — Gritou o mais novo pelo aquariano.

— UGH!! — O suor escorria pelo rosto e os dentes rangiam de forma que parecia que iam se quebrar.

O esforço não teve que ser contínuo, pois o estranho levantou a mão e deu um soco que afundou o loiro na neve, criando uma grande cratera. Hyoga já iniciava a não sentir mais o próprio corpo, contudo tentou se pôr de pé.

— Você não desiste mesmo, hein, loirinho? Saiba que vai pagar muito caro por ter me impedido de matar aquele moleque. — sendo ágil, o desconhecido agarrou o russo pela cintura e apertou-lhe até ele cuspir muito sangue, sabendo que havia quebrado uma costela. Vendo a agonia do menor em tamanho, o gigante jogou-o de volta ao chão com o máximo de força. — HAHAHA!! Que patife você é. Tentando bancar o herói sendo que não pode com um cara de meu tamanho. Desperdício de tempo.

— Argh...argh... — a respiração do siberiano estava desacelerada e de sua boca jorravam litros de sangue. A dor de seu osso partido consumia seu abdômen e a sensação do gelo nas mãos ardia.

Estava debilitado. Em desvantagem. Seus olhos queriam se fechar e ir logo para o descanso eterno chamado morte.

— Hyoga! Você vem ou não?

Uma voz masculina infiltrou-lhe a mente. Um borrão branco cobria o rosto daquele moreno de roupa vermelha e com um estranho objeto nas costas. Ao lado dele, um chinês de cabelos longos negros e também com um objeto semelhante ao do moreno, diferenciando-se apenas na gravura. E um mais novo de cabelos verdes e outro mais severo de cabelos azuis.

— Vamos, levante daí, Hyoga! Ficar se lamentando não vai ajudar em nada!

Outra voz. Os cinco rapazes desapareceram e deram lugar a um homem de cabelo azul petróleo e armadura dourada. Ao lado dele, um garoto de cabelos verdes espetados, roupa branca e uma marca no olho.

— Não faça eu me arrepender de ter ganhado essa cicatriz, ouviu bem?

"Quem..."

— são vocês?... — murmurou o russo, caído e em dor.

— Hã? — o homem gigante estranhou o loiro ainda poder falar depois de receber uma surra. — ainda está vivo?

Os olhos de Hyoga permaneciam fechados e a respiração começava a ficar mais lenta.

— Filho... Por favor... Levante...

Outra voz anônima. Essa ele conhecia. A mãe dele estava em uma posição de oração. Entre os dedos, ela segurava um crucifixo, o mesmo que ele usava no pescoço.

— Vamos Hyoga!!! Levanta logo!

O moreno voltou a falar, acompanhado dos demais quatro jovens. O Cavaleiro dourado e o garoto da cicatriz também estavam ali, atrás da mãe dele e dos rapazes. Um choque percorreu seu cérebro e começou a queimar em seu corpo. Aos poucos, o siberiano levantou, com uma aura azulada.

— COMO AINDA PODE ESTAR DE PÉ DEPOIS DE EU TER QUEBRADO UMA DE SUAS COSTELAS???? VOCÊ DEVERIA ESTAR DEFINHANDO! — O gigante deu um passo para trás em espanto, devido a incrível hostilidade que, agora, aquele russo demonstrava.

Este iniciou uma série de movimentos. O último, em especial, semelhava-se ao de um Cisne abrindo suas asas para levantar vôo.

— PÓ DE DIAMANTE! — Disparando rajadas de gelo contra o desconhecido, os olhos de Hyoga se abriram em reflexo.

Ao terminar seu ataque, o homem agora não passava de uma estátua de gelo. O russo olhou para os capangas dele com seriedade.

— E então? Também querem acabar como o seu amigo? — falou em tom sombrio.

Soltando todas as caixas e abandonando Kohoutek, os cúmplices saíram correndo de medo. O pequeno povoado urrou em alegria com o ato heróico do aquariano, que sorria para todos como se tivesse feito apenas o certo. Logo, lembrou-se de Jacob e foi acudí-lo, pegando alguns mantos e levando para perto de uma lareira para se aquecer.

— Você... Foi um verdadeiro herói, Hyoga. — o menino riu, ainda que estivesse todo machucado.

— Você que foi forte. Você não hesitou nem por um momento e não persistiu até o fim em não deixar aquele homem levar as nossas coisas. Estou orgulhoso, Jacob. — o mais velho acariciou a cabeça do garoto. — Não sei como fiz aquilo... Foi como se... Todo meu corpo fosse feito de gelo e de repente o soltasse de uma vez.

— Bem, o que importa é que agora a aldeia está a salvo. Duvido que aqueles brutamontes vão querer aparecer por aqui novamente.

— Também acho.

A conversa acabou em risadas sinceras e também em um susto. Com um enorme baque, um estrondo tinha vindo de atrás da cabana.

— Fique aqui. Vou ver o que é. — Hyoga então saiu e contornou a moradia, se deparando com algo instigante. Era o mesmo objeto que aqueles rapazes de seus pensamentos carregavam, entretanto o desenho lapidado era o de um Cisne.

Devagar, a estranha caixa se abriu e mostrou um Cisne composto por partes de armadura. Curioso, o russo tocou-as de leve. Como um filme, o loiro viu cenas que nem esperava ter vivido. A batalha das doze casas contra Camus e Milo, a luta contra Isaak como Marina, o mundo de Hades. Tudo aquilo voltou a sua memória em um piscar de olhos.

— Como?... — Hyoga olhava para a armadura de Cisne com estranheza. A proteção apenas piscava, como se tivesse vida própria. — Eu estava sem saber disso esse tempo todo?

Saint Seiya - ZeusOnde as histórias ganham vida. Descobre agora