Capítulo 20 - Beijos certos, pessoa errada

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Anelyn

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Anelyn

Eu me sinto febril, fora de órbita, confusa e completamente desconcentrada desde que desci daquela roda gigante. Mal consigo prestar atenção às palavras de agradecimento e despedida que Anna e Dave falam ao me abraçar quando Nicolas e eu os deixamos no orfanato. Forço um sorriso simpático e aceno para a irmã Sara antes de voltar para o carro.

O caminho até em casa é sufocante. Eu nunca tive crises de pânico ou ansiedade, mas agora começo a questionar essa possibilidade. Minhas mãos soam e tremem, minha boca está seca e não fosse pelo som ligado, Nicolas já teria ouvido minha respiração irregular e densa, e o pequeno gemido que me escapa da garganta ao tentar me controlar e esconder esse turbilhão de confusões da percepção dele.

Como eu poderia ficar impassível — como, aliás, ele parece estar —, depois do que fez? Ele me beijou, sem o menor motivo, sem o menor aviso, sem nunca, jamais, ter demonstrado qualquer indício de ter se quer um ínfimo desejo assim por mim, exceto, é claro, na vez em que tentou me beijar no armário na festa de Melissa, mas ele nem ao menos sabia que era eu naquela ocasião. Tudo o que sempre fez foi deixar claro que eu nunca seria uma opção em sua lista, mesmo que fosse por algum motivo duvidoso, cruel e machista. Então, por que agora ele me beijou? E por que daquela maneira tão... diferente?

Eu não tenho experiência em beijos, mas o meu coração me diz que o beijo que Nicolas me deu, é aquele beijo com que a gente sonha em receber de alguém. Que desejamos quando estamos apaixonadas, mas ainda não pudemos sentir, somente imaginar, ao fechar os olhos e pensar em infindáveis gostos e sensações que os lábios daquela pessoa vão te dar ao tocar os seus.

O beijo dele foi o beijo com que eu mesma sonhei quando finalmente me visse apaixonada por alguém. Alguém que não é ele. Que não pode ser ele. Eu recebi o beijo certo da pessoa errada e agora eu preciso lutar comigo mesma para esquecer isso e, acima de tudo, não me permitir desejar que esse beijo se repita nunca mais.

Nicolas para o carro na garagem e eu rapidamente desfivelo o cinto de segurança, ao mesmo tempo em que ele diminui o volume da música e chama meu nome, quase em um sussurro, antes que eu desça do carro.

— Nós precisamos conversar. — diz, recuperando o tom de sua voz. Continuo calada, sem fala, com a mão na maçaneta da porta, mas incapaz de desviar meus olhos dos dele. — Eu quero explicar o que... o que eu fiz mais cedo. Na verdade, e-eu não sei porque fiz aquilo, eu admito. Foi um impulso. Eu achei que... Deixa pra lá. Eu só quero deixar claro que foi um acidente e... — ele para de falar, fitando-me por um longo instante, então umedece os lábios antes de continuar. — Não vai acontecer de novo. Nós podemos esquecer? Fingir que nada acon...

— Podemos. — respondo, interrompendo-o, então saio do carro, apressadamente e só paro quando atravesso a porta do meu quarto.

É claro que ele não sabe por que fez aquilo — me jogo de bruços em minha cama, abraçando o travesseiro sob a lateral do meu rosto —, se fosse outra garota, daquelas com as quais ele sempre sai, ele saberia que o beijo foi movido pelo desejo, pela atração física, mas no meu caso, não tem como explicar, pois Nicolas Mitchell não poderia e jamais admitiria, caso acontecesse, atrair-se por uma garota como eu. Tão diferente dele e das que está acostumado a preferir.

Sob O Mesmo Destino (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now