Capítulo 26

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Avril esfregou os olhos mais uma vez, na esperança que aquela moleza que sentia fosse ir embora com o movimento, apenas para voltar a bufar irritada e dar início mais uma vez àquele ciclo: tentar se levantar, não se sentir bem e tornar a sentar, respirar fundo algumas vezes na espera que surtisse algum efeito, mesmo sabendo que não iria. Seu corpo estava debilitado demais, e, de alguma forma, não ter se estabilizado era um bom sinal: seu organismo estava mais focado em proteger outro organismo do que se estabilizar de fato, e aquilo já era mais do que ela podia esperar.

Claro que a coleira em seu pescoço definitivamente não estava facilitando a tarefa de se recuperar, mas Avril desistira de reclamar sobre aquilo depois que um dos enfermeiros narrara que ela ficara por algumas horas sem ela depois de seu pai implorar que Ross permitisse. Por intenção ou não, ela tinha colocado Tony em uma posição bastante delicada, o mínimo que ela podia fazer no momento era ser menos apressada porque, sendo bastante realista, não era como se ela fosse deixar aquele lugar tão cedo.

Uma movimentação estranha dos seus vizinhos de cela atraiu a atenção de Avril, mesmo que tarde demais. Quando seus olhos se ergueram para as grades que a mantinha ali, seu pai já estava de frente para ela, sua péssima aparência sendo mais do que o suficiente para fazer com que todo o ar saísse de seus pulmões em um único movimento. Não apenas havia muito mais hematomas em seu rosto do que se lembrava antes de apagar e ferimentos que, mesmo olhando rápido, eram fáceis de classificar como frescos.

Ela não conseguia se lembrar da última vez que vira seu olhar tão frio e distante.

- Pai... O q...? – começou ela em um sussurro, a garganta ardendo por ainda estar muito machucada. Um movimento discreto no ombro de Tony fez com que ela abaixasse o olhar, sem nenhum problema identificando o escudo de Steve preso em seu braço, dificultando ainda mais na tarefa de produzir sons entendíveis – Você o prendeu?

Quando não obteve resposta e a expressão dele se tornou menos controlada, Avril começou a se desesperar. Não era fácil separar o homem do seu escudo, não era um bom sinal.

- Pai... Cadê o Steve?

- Morto – respondeu o homem de uma vez, deixando que a arma caísse de seu braço com um movimento só. O olhar em choque de Avril começou a permitir que lágrimas lhe escapassem, mas não atingiu Tony – Pelo menos para mim. E se você não der a resposta certa, acredito que vai tomar o mesmo rumo que ele.

- Do que você está falando? – perguntou ela entre as tentativas de controlar sua respiração, os lábios tremendo contra sua vontade – Não tem graça! Tony, cadê o Steve? O que você fez com ele?

Tony ignorou a filha, se adiantando mais um passo para as grades, já que não podia de fato ficar frente a frente com ela, e nem sabia se queria. Quanto mais olhava para a sua figura ainda debilitada, mais algo dentro de seu peito de agitava.

- Você sabia?

Uma pergunta simples e vaga, que não carregava o menor significado se não se soubesse do que se tratava. Só que Avril sabia, e aquilo estava claro em seus olhos surpresos e confusos.

- Ele te contou...? – arriscou ela, logo percebendo que não era o caso. A forma como Tony recuara, a indignação visível em seus olhos. Aqueles eram vestígios do sentimento de traição onde não se descobre pela própria pessoa – Aquele cara contou, não foi? O falso psiquiatra.

- Eu sempre disse que você estava corrompendo o Rogers, mas nunca acreditei que você fosse o transformar na porcaria de um mentiroso – disse Tony em um fio de voz, aos poucos ganhando altura, sua ira se intensificando e ganhando mais forma em seu rosto – Você mentir para mim até que não me soa tão estranho, embora não me faça sentir nem um pouco melhor.

The Real Side II: Dark TimesWhere stories live. Discover now