VIII - Billy

92 60 10
                                    

Billy

Eu sempre fui um menino muito de boas, sabe? Na minha, nunca quis guerra com ninguém, mas acho que a minha solidão transformou a minha personalidade do jeito que ela é. Acredito que boa parte dos brincalhões, principalmente os homens, são pessoas frustradas com os seus próprios sentimentos e conceitos. Necessitam sempre de ajuda, uma família que não deu o amor necessário, problemas em amizades, problemas de autoestima, enfim! Eu sou brincalhão porque sou infeliz, meus pais não me dão atenção que eu preciso, ou pelo menos precisava, me sinto inferior aos meus amigos, sei lá, é um sentimento estranho, mesmo sendo popular e motivo de risadas de todos que me cercam. Mas é isso que dói, saber que sua presença só é notada e querido por causa de minhas brincadeiras, eu sou mais minhas brincadeiras do que o próprio Billy. Atualmente o meu melhor amigo está em uma cama de um hospital, meus professores estão morrendo, não posso mais ir até a praça de noite para andar com meu skate, minha outra melhor amiga foi internada em um hospital psiquiátrico. Hoje fui até o hospital retirar o curativo que estava em minha cabeça, não estou com raiva da Katie, muito pelo contrário, eu acho que ela está tão louca como a Maggie. Onde já se viu? Acreditar em coisas sobrenaturais? Fantasmas? Lógico que isso é coisa da cabeça de minhas amigas, eu prefiro acreditar que o Senhor Oliver está envolvido nisso do que em qualquer outra teoria. Desde que eu tenho consciência de minha existência, lembro que sempre morei na casa da frente da casa dos Oliver's, isso não é coisa boa, sempre tinha que fechar minha janela para dormir, a luz de velas e pessoas com capuz na janela da casa do Carlos me assombravam. Quando eu perguntava ao Carlos o que era isso ele sempre me falava que era a religião de seu pai, cada um com sua doidera, não é mesmo? Hoje fui até uma lojinha de eletrônicos e comprei um binóculos para espionar de mais perto a janela do quarto do Oliver. Hoje no hospital aproveitei e fui até o quarto do Carlos para ver meu amigo e me deparei com uma cena muito estranha, o Oliver estava com a mangueira, não sei se é assim que se fala, que permite que o Carlos respire, na mão, ele tinha retirado da boca e do nariz do filho, também estava segurando um travesseiro, indo em direção ao rosto do Carlos.

- Senhor Oliver? - Fala em tom de susto. Ele automaticamente larga o travesseiro na cadeira que estava ao lado, olha para mim, volta a olhar para o filho e dá um beijo em seu rosto e coloca os aparelhos novamente. - O que o senhor estava fazendo? - Sabe quando você faz uma pergunta e uma série de respostas aparecem em sua mente? Pois é! A minha cabeça estava explodindo de possibilidades, afinal, qual pai que quer ver o próprio filho morto? Ou ainda pior, qual pai teria coragem de matar o próprio filho?

- Queria beijar ele melhor, esses aparelhos atrapalham, sabe?

Isso não me convenceu, o olhar dele não demonstrava sentimentos pelo filho, nem sequer um mínimo de tristeza, isso levantou ainda mais minhas suspeitas, o que o Oliver queria fazer?

- Você tem alguma notícia sobre ele? - Pergunto, tentando amenizar a bagunça em minha cabeça, e tentando absolver mais informações do Oliver.

- O Médico falou que o caso dele ainda é estável, mas todos os órgãos, incluindo o cérebro estão respondendo bem. Não há nenhum sinal de morte cerebral ou coisa do tipo, também os reflexos estão aparecendo com mais intensidade e as chances de ficar alguma sequela depois que ele acordar são quase nulas, mas mesmo assim a demora está me assustando bastante, parece que ele só vai acordar quando essa cidade estiver em paz.

Paz? O que seria paz na cabeça de um assassino, penso. Paz para um assassino seria eliminar todos seus inimigos? Né? Eu não sei, então começo com minhas brincadeirinhas.

- O que seria paz para você? - Pergunto, abrindo a janela do quarto. E escuto umas leves risadas do Oliver.

- Paz? - Mais risos. - É um conceito muito amplo para a juventude! Mas em minha opinião a paz é mais que um estado do mundo físico, ele passa pelo mundo espiritual, tanto nas pessoas vivas como para as mortas, a paz não pode ser para todos, ou é para uns ou é para outros. Eu acho que a paz é como uma caixinha de lápis, os mais diferentes tipos de sociedades são as cores, por mais que existam diversas cores, na caixinha só cabe determinada quantidade.

Eu tentei chegar em algum lugar e agora acho que estou mais distante, ele soube filosofar muito bem.

- E para você Billy? O que seria Paz?

- Paz? A paz para todos nesse momento é descobrir quem é o filho da mãe que está fazendo isso com a nossa cidade. - Olho fixamente para os olhos dele. - A paz seria arrancar a cabeça desse miserável e pendurar lá na pracinha para todos mijarem e defecarem em cima. - A minha tentativa de identificar alguma reação estranha nos olhos do Oliver falhou. Os olhos dele permaneceram congelados e paralisados, não houve sequer uma expressão facial estranha no rosto dele.

- Muito bem Billy, seu senso de justiça está apurado. - Enquanto ele levanta e coloca o casaco para ir embora o Carlos abre os olhos.

- OLHA! - Grito, apontando o dedo em direção ao Carlos, Oliver olha para o filho e sai da sala apressadamente, o escuto gritando, chamando a enfermeira no corredor do hospital. - Carlos, Carlos, você consegue me escutar? Você consegue falar? - O Carlos não falava nada, apenas olhava em direção aos sons que eram direcionados para ele.

Oliver chega na sala, acompanhado de duas enfermeiras e um doutor. Mandam eu me retirar da sala. Fico do lado de fora sentado, esperando por notícias. Quando a porta do quarto é aberta eu me levanto rapidamente. Espero o Oliver terminar de conversar com eles e depois me aproximo.

- E aí? Foi normal o que ele fez? Ele vai ficar bem? Está melhor? - Pergunto apressado, pois já deveria estar em casa e claro, eu queria novidades sobre o meu amigo.

- Sim! Foi normal o que presenciamos e ele vai ficar bem. O Médico falou que dentro de mais alguns dias ele já estará falando e andando, enquanto isso ele vai continuar aqui nessa sala, mas ele está oficialmente fora do coma.

Eu dou um pulinho de alegria e abraço o Oliver espontaneamente, ele me abraça também, porém com pouquíssima intensidade. Quando voltamos a nos olhar, percebo que não há nada de alegria nos olhares do Oliver e isso me machuca bastante.

- Que pena que a Maggie não pode saber desse acontecimento, vou avisar a Katie, tenho que avisar. Estou muito feliz senhor pelo Carlos. - Aperto a mão do Oliver e vou para casa.

Subo as escadas correndo para ir até o quarto e ligar para Katie. Foi justamente o momento que o Oliver chegou em sua casa. Da janela do meu quarto percebo que dentro do carro está o novo xerife da cidade que escutei comentários no hospital, percebo pelo chapéu e estrela no peito, estranho. Eles abrem a mala do carro e tiram um grande pacote dentro do carro, os dois carregam com dificuldade, parece que o pacote é realmente muito pesado. Pego meu binóculos e começo o olhar, no mesmo momento percebo que um braço sai do pacote preto que eles estão carregando com dificuldade, o Xerife ficou bastante nervoso quando isso aconteceu e rapidamente deu um jeito de esconder o que eu acabei de ver. Eles olham, de um lado para o outro. Inesperadamente o Oliver olha em direção a janela do meu quarto, eu paralizo, os nossos olhares se encontram e eu fecho a cortina rapidamente, mas sei que ele viu que eu estava olhando. A ideia de fechar a cortina só confirmou o que ele pensou no momento, eu estava espionando. Pego meu celular com dificuldade, minhas mãos estavam tremendo bastante e ligo para a Katie. Ela não atende.

Ligo Novamente. Ela não atende.

Ligo Novamente. Ela não atende.

Vejo que chegou uma mensagem dela em meu celular:

22:57 Billy, não estou afim de atender, meu pai acabou de sair de casa. Eu e minha mãe achamos que ele tem alguma coisa haver com as coisas que estão acontecendo na cidade.

Não sei se ela está certa, mas com o que ela sabe somado ao que eu sei poderia sair algo de mais concreto. A necessidade de haver uma conversa só aumenta. Então, resolva mandar uma mensagem também. Enquanto estou escrevendo percebo que a campainha de minha casa não para de tocar.

- Vai atender Moleque, eu estou no Banheiro! - Minha mãe grita do banheiro.

Eu desço as escadas escrevendo minha mensagem para a Katie, abro a porta sem olhar no olho mágico, um erro que não espero nunca mais cometer se houver outra oportunidade. Quando eu abro, só consigo ver um vulto de um martelo atingindo minha cabeça, caiu no chão e meu celular é arremessado. Olho em direção à porta e vejo o Oliver com o Martelo na mão, me levanto com dificuldade, minha cabeça dói muito, percebo que há muito sangue pingando no chão, minha camisa branca está encharcada. Corro em direção ao celular e consigo enviar a mensagem. Quando Olho para trás sou atingindo com outro golpe.

KARMA - A Morte Do Seu Lado Onde as histórias ganham vida. Descobre agora