CAPÍTULO 2 - A BRUXA

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Anastácia saiu do pequeno quartinho que ocupava, praticamente dentro da cozinha e admirou a pilha de cartas que se espalhava pelo chão. Ela poderia escolher qualquer uma daquelas, mas aquele dia estava sendo particularmente longo e tedioso, o que lhe deu ainda mais necessidade de escrever uma nova carta.

Ela pegou um dos infinitos cadernos e diários que Valentim possuía, que ela descobrira um dia trancados em um baú, e arrancou uma folha em branco. No dia que quebrou o cadeado do baú e encontrou aqueles cadernos seu primeiro pensamento foi o de ler tudo para se divertir às custas de seu não-Mestre, mas quão grande foi sua decepção ao se deparar com páginas e páginas de nada? Folhas e mais folhas em branco. Não havia nenhuma anotação, absolutamente nada. Anastácia nunca entendeu por que Valentim trancaria a sete chaves cadernos e diários novinhos em folha. Mas ela já havia desistido de tentar entender qualquer coisa a respeito da vida do mago.

Ela puxou um banquinho e, sobre a mesa rústica, pôs-se a trabalhar. Escreveu mentiras sem fim, falou de festas luxuosas, comidas exóticas, pessoas extravagantes e de como ela havia recebido pedidos, ou melhor, súplicas, de outros magos e feiticeiras para tê-la como sua aprendiz. Mentiu tanto ao ponto de começar ela mesma a acreditar naquelas histórias e terminar a carta se sentindo alegre e bem-disposta.

Dobrou a carta ao meio, pingou gotinhas da cera quente de uma vela para selar e caminhou decidida rumo ao quarto de Valentim. Ela não iria ficar dependendo de serviços de entrega de cartas como se fosse uma humana comum. Pelo menos isso, ela teve tempo de observar e aprender com o mago, como enviar cartas imediatas. Na longa viagem de trem que os levou até Barreira de Ouro, ele enviara pelo menos umas cinco cartas, parecendo alguém muito ocupado e ágil. Mas aquela era uma memória que já se apagara da mente de Anastácia, aquela versão viva e energética de seu Mestre. A única coisa que restou foi a lembrança das palavras que ele dizia e a forma como estalava os dedos a cada carta enviada.

Anastácia entrou no quarto sem bater ou pedir licença. Ela já estava acostumada com aquele ritual diário. Valentim nunca se mexia ou reconhecia sua presença. Ele estava sempre na mesma posição, de barriga para baixo com a cabeça escondida entre dois travesseiros ou, muito raramente, virado de ponta a cabeça na cama com os braços e as pernas abertas com seu corpo formando um X. Ele nunca saía de lá. Anastácia nunca vira nem mesmo o mago indo ao banheiro. Talvez os magos não tivessem necessidades tão mundanas. Às vezes, ela se perguntava se ele tinha um penico debaixo da cama, mas tinha pavor de confirmar essa suspeita e se tornar ela responsável por mais isso – esvaziar e lavar o penico do mago Valentim.

Anastácia se ajoelhou diante da cama, de onde pendia para fora a mão direita do Mestre, quase como se ele já estivesse esperando por sua aprendiz para tirar proveito de seus dedos possuidores de grande magia.

Ela apertou a carta em sua mão e moveu o dedo indicador sob o polegar, enquanto sussurrava "Carta Imediata, Dinorah Aveleira. Carta Imediata, Dinorah Aveleira. Carta Imediata, Dinorah Aveleira".

Anastácia sempre tinha que tentar quatro ou cinco vezes antes que funcionasse. Então finalmente ela conseguia o movimento perfeito entre o polegar e o indicador e puf! A carta desaparecia deixando para trás uma fumacinha dourada.

Naquele dia, porém, ela precisou de quase dez tentativas e quando a carta finalmente evaporou, a fumaça que se formou era preta e densa, fazendo Anastácia levar um susto tão grande que caiu sentada para trás.

– O demônio! – Valentim gritou saindo de debaixo da pilha de travesseiros.

Anastácia sentiu seu coração em sua garganta. Faz seis meses que Valentim não abria a boca e quando ele o fazia era para chamá-la de demônio? Mas rapidamente ele voltou a sua posição original e não emitiu mais nenhum som. Anastácia se levantou e saiu do quarto na ponta dos pés. Não pôde deixar de lançar um último olhar para a fumaça preta. Sim, ainda estava lá.

Sentiu uma pontada de arrependimento e de vontade de pegar a carta de volta, sem entender muito bem o porquê. Mas agora isso não seria possível. Àquela altura ela já deveria estar nas mãos de Dinorah.

***

Oi pessoal! Agora vocês foram devidamente apresentados a Anastácia, nossa aprendiz de bruxaria e feitiçaria. No próximo capítulo chegou a vez dele... isso mesmo! O demônio dá as caras!

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um beijo e um queijo

Andréa Romão

Andréa Romão

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O Demônio, a Bruxa (e a irmã dela) [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now