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CAPÍTULO 29
AGNES

Meus pés estavam enfiados aquecida pelo sol, meus olhos se perdiam na imensidão azul a minha frente.

Minhas mãos para sobre o ar tentando alcançar algo que eu sabia ser impossível, toda aquela vida, toda aquela paz. Aos poucos meus braços endurecem esticados em direção a imensidão azul, perdendo a cor viva, agora tudo era pele e osso.

Um sorriso singelo brota em meu rosto.

Gratidão pelo que vivi.

Vir para praia foi a melhor decisão que tomei, foi acalentar a alma e adormecer o corpo para voltar a fazer parte da vida que é esse universo.

Movo meus olhos para o céu e deixo toda mágoa, eu era muito pequena embaixo de todo o peso da vida ao meu redor. E ao mesmo tempo eu fui grande por mudar a vida daqueles a minha volta.

Então eu era grata, eu sentia em mim que havia cumprido um proposito. E ao olhar Melina e Zola junto me fazia ter certeza disso.

O céu agora tinha cor de liberdade, onde eu caminharia nas nuvens com o coração leve sem sofrimento, sem mais nenhum sofrimento, eu me desprendia da carne e viraria vento.

A muito para mim já não existia morte e nem vida, somente uma viagem sem volta.

Eu tinha parado de lutar contra a doença a muito tempo, mesmo todo dia vendo a tristeza no olhar de Melina, eu sabia que assim como eu ela aprendia com tudo o que eu passava. E eu não tinha desistido de lutar, eu tinha escolhido parar.

Entre o céu e o mar existiam diversos infinitos que eu estava curiosa e animada para desvendar, eu já tinha me desprendido desse mundo.

- Agnes, meu amor. – Mel passa as mãos em meus cabelos. – Quer comer? – Ela estica um pote cheio de melancia em minha direção e eu simplesmente nego com a cabeça.

Eu me sentia em inercia e meu corpo parecia flutuar, eu já não sentia mais a dor que doía nos ossos, eu já não segurava mais a vontade de chorar.

Imagens de memórias que deixariam saudades me fizeram chorar, um choro silencioso, algo unicamente meu.

Eu sentia a angústia de Melina pelo olhar que ela me lançava. E sem dizer nada ela lançou os braços ao meu redor e eu senti que meu mundo estava me dizendo adeus. E eu me desprendia da minha ancora desse mundo.

E tudo foi ficando ainda mais calmo.

- Eu te amo tanto, minha paz. – Mel sussurra em meu ouvido. – E eu entendo agora. – Ela beija minha testa. – Me perdoe por ser falha com você. – Mel me aperta ainda mais em seus braços. – Você sempre morara em meu coração.

Melina se levanta e se distancia de mim com passos incertos. Eu posso ver seu corpo tremer e ela olha para trás e eu junto todas minhas forças para te dar meu último sorriso.

E eu matava nesse mar minha sede de paz, meu azul, meu novo universo. E eu vi meu último mar.

O vento docemente me afaga e era como se o mar cantasse em meu ouvido e me ninasse para um sono eterno.

Toda dor que passei que antes eu não entendia nesse momento fez sentido, como se o universo me mostrasse o motivo da minha existência.

As noites mal dormidas e as dores que me tiravam o ar na noite solitária que antes me faziam chorar em silencio agora me fazia sorrir.

E no fundo eu entendi, que toda tristeza tem motivos para depois se tornar alegria. E eu fui alegria.

Eu sentia minha respiração mais densa, mais lenta... e eu sentia o mar mais próximo como se fosse me engolir em breve.

Eu queria me afogar ali, eu queria aquela paz que a imensidão azul oferecia.

E eu pude lembrar de todos que fizeram parte da minha vida, o rosto de cada um passava em minha mente com um sorriso breve no rosto, dizendo um adeus singelo.

E a morte tem um gosto doce. 

Perdendo-se no Passado I Livro 05 -  Série ObscurosWhere stories live. Discover now