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CAPÍTULO 16
MELINA

Minha casa nunca mais foi a mesma, faltava os sons dos instrumentos de Bernardo, as risadas de Marina, as broncas da minha mãe e tudo isso em conjunto faltava vida aquele lugar.

Eu sinto tanta falta deles.

Agnes estava cada dia pior e isso me matava por dentro. Eu já não sabia mais como lidar com tudo isso. Essa já era a quarta vez que eu corria com ela para o hospital e aqui estava eu, esperando que o médico viesse e me desse qualquer palavra de esperança.

Minha cabeça latejava de dor e meus olhos estavam inchados do choro que me acompanhou toda madrugada. Eu queria poder ligar para minha mãe ou até para Marina, eu precisava delas nesse momento.

Vejo a doutora se aproximando e me levanto depressa me sentindo zonza. Me apoio na parede e espero que ele chegue até mim.

- Srta. Aldaberon? Está tudo bem? – A doutora pergunta com o olhar preocupado.

Rapidamente recupero minha postura e busco nas feições da médica algum indicio de positividade.

- Sim, estou bem. – Falo rápido. – Como ela está, doutora?

- Agnes está dormindo agora. – Ela olha sua caderneta e depois volta seu olhar para mim. – Melina o que tenho para te falar não é nada que você já não saiba, mas preciso que dessa vez você escute com atenção e abra seus olhos para o que todos os médicos desse hospital vem lhe falando a muito tempo. – A doutora me encara séria.

Engulo em seco e me sento novamente, eu sabia que não podia filtrar nada de bom da conversa que estava por vir.

- Não sei se estou preparada para escutar tudo o que tem para me falar. – Digo já sentindo o peso da conversa cair sobre meus ombros.

- Infelizmente acho que não é uma escolha sua. – A doutora diz e afaga minhas mãos com as suas. – Para o bem da Agnes, eu preciso que você me escute com atenção.

- Sim, eu sei. Só que é tão difícil, eu estou sozinha e não posso perde-la... – O choro aperta a garganta.

- Melina, ela não tem muito tempo. A saúde de Agnes está ainda mais debilitada e ficar trazendo ela ao hospital sempre pode piorar ainda mais, ela está sujeita a várias doenças aqui. A Agnes já não responde mais aos tratamentos e a única coisa que podemos fazer por ela é que ela viva no conforto agora.

- Não... – Balanço a cabeça de um lado para o outro freneticamente.

- Ela não precisa mais sofrer com agulhas em seus pequenos braços, Melina. Torne a passagem dela mais tranquila e fique ao lado dela, aproveite ela o quanto você pode e esteja com ela. Agnes precisa somente disso agora, não mais desse hospital frio e silencioso.

- Não posso perde-la. – Falo novamente.

- Ela ainda está aqui, faça cada momento ser único. – A doutora fala e se levanta ainda com os olhos grudados em mim. – Ela ficará de observação pelas próximas horas, mas ainda hoje eu a libero, espero não te ver aqui tão cedo Melina, essa menina é uma criança e merece se sentir como uma.

Fico sentada vendo a doutora se afastar e deixo todas suas palavras invadirem minha cabeça e eu me sentia tão relutante em aceitar aquilo, eu não podia perder a única família que me restou, não podia perder o pedaço que Melissa deixou no mundo.

Após algumas horas Agnes foi liberada e voltamos para casa. Eu a levo direto para o quarto, devido aos remédios ela estava sonolenta. Depois de ter certeza que ela dormiu eu me deito e permito que toda angustia me consuma.

Perdendo-se no Passado I Livro 05 -  Série ObscurosWhere stories live. Discover now