capítulo 22

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Théo.

É a primeira vez que estou vendo o meu irmão depois de quase dois anos longe. Desde o dia em que eu o expulsei da casa dos meus pais, desde o dia em que eu entrei em uma briga com ele. Eu jurei que nunca mais olharia para o Gael novamente, nem mesmo chegaria perto. E agora ele está aqui, na minha frente, com o filho e minha ex mulher. É irônico como eles formam uma bela família feliz.

Minha mãe, pelo visto, está radiante. Ela brinca com Bento no colo, e eu não posso negar como o moleque é bonito. Puxou algumas coisas da Sarah, mas ele é muito mais parecido com o Gael. A gente não queria contar nada para o meu pai sobre quem era o pai do Bento, achamos que ele não aguentaria mais uma decepção, mas com o tempo ele começou a entender que o menino era filho do Gael. Meu pai está doente mas não é bobo e percebe tudo. Qualquer um ficaria doido tentando entender a minha família, minha ex mulher é a mãe do meu sobrinho.

Margot chega de fininho perto de mim, ela se enfia entre mim e a Annie.

— Eu acho engraçado como ele apresenta a Sarah para todo mundo, como se ninguém conhecesse ela do casamento com o Théo — Margot diz baixinho, colocando a mão na boca e tentando não rir.

Reviro os olhos e Annie coloca a mão sobre os olhos, balançando a cabeça. É inegável que eu sempre fui o preferido da Margot. Meu irmão não é fácil de aturar, desde a infância. Se ele dificilmente respeitava os meus pais, imagina a Margot?! Eu era grudado com ela, como um verdadeiro filho.

— Essa situação é ridícula — digo, bebericando a cerveja que o garçom acaba de servir em meu copo.

Meus olhos acompanham o Gael, inevitavelmente. Eu respiro mais aliviado por ver que ele saiu de perto do Matteo.

— Eu também acho, mas você sabe que isso aconteceria uma hora ou outra. — Margot dá de ombros e afaga minhas costas. — Não liga não, meu filho. Você é muito maior do que tudo isso.

Sorrio de lado para a Margot. Ela dá um beijo no meu braço e sai. Annie não opina em nada, e nem olha mais em direção ao Gael. Dá para perceber de longe o desconforto dela, era isso que eu temia. Levo o meu copo até a boca, ainda observando meu irmão. Bebo um gole da cerveja, que desce com dificuldade pela minha garganta quando percebo que Sarah está me olhando. E sorrindo.

É sério isso?

Fico tão incrédulo com o descaramento dela que só depois de alguns segundos me dou conta de que a Annie está me encarando. As narinas infladas, o bico formado na boca pintada de vermelho... Merda.

— Gostou? — ela cruza os braços, batucando as unhas da mão livre no próprio braço. — Ou melhor, está com saudades?

Merda.

— Annie...

Tento me explicar, mas ela sai marchando em direção a sala. Respiro fundo, me xingando em pensamento. Como eu sou burro. Espero que ninguém tenha percebido isso.

Viro o copo de cerveja mais uma vez, está difícil encarar essa festa sóbrio.

Annie está em frente ao aparador da sala, mexendo no arranjo de margaridas brancas da minha mãe. Seus dedos deslizam suavemente pelas pétalas das flores, é incrível o cuidado e carinho que ela tem com plantas em geral. Aposto que se não morássemos em um apartamento, Annie teria um jardim grande e bonito.

— Amor?

Ela se vira ao me ouvir. Meus ombros caem derrotados, a tristeza no olhar não combina com ela.

— Me desculpa. Eu nem me dei conta do que aconteceu.

Annie cruza os braços e não abre a boca para falar nada.

Inalcançável - Livro 2Where stories live. Discover now