capítulo 19

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Théo.

Durante anos eu me martirizei por não estar ao lado da Annie quando Mía veio ao mundo. Eu queria ter sido o primeiro a ver o rostinho da minha filha. Eu queria ter segurado a mão da Annie durante o parto. Eu queria não ter sido um grande babaca.

— Calma, respira — digo para Annie, mas quem precisa respirar sou eu.

Meus batimentos cardíacos aceleram, o que eu tenho que fazer agora? Como eu devo agir nesse momento?

— A gente precisa ir para o hospital - Annie está com os olhos arregalados, deslizando as mãos em movimentos circulares pela barriga.

— Sim, o hospital. Precisamos ir ao hospital - levanto do sofá atordoado, tenho a sensação de estar em uma dimensão diferente. — A chave do carro, cadê a chave do meu carro?

— Théo! - Annie chama minha atenção. Eu paro de andar em círculos para encará-la. — Respira.

Então eu puxo todo o ar capaz de encher os meus pulmões, e solto pela boca.

Calma. Eu preciso manter a calma.

Minhas mãos estão suando, o nervosismo misturado com uma ansiedade fodida aceleram o meu coração, que mais parece uma bateria de escola de samba.

Agora, enquanto me olha nos olhos, Annie está visivelmente mais calma do que eu. Parece até que Matteo vai sair de dentro de mim, e não dela.

— Ok, eu preciso que você mantenha a calma - ela diz, apoiando as mãos no sofá para levantar. Eu me prontifico em ajudá-la. Annie segura firme em minha mão e levanta com dificuldade. —, pega a bolsa de maternidade do Matteo, está no quarto dele, dentro do armário.

Meus olhos passeiam entre ela e a porta do quarto, confusos.

— Está tudo bem, Théo, não é como se eu fosse cair para trás a qualquer momento, você pode me soltar.

— Tem certeza?

Annie ri, como se estivesse em uma mesa rodeada de amigos, e não prestes a colocar para fora do seu próprio corpo outro ser humano. Meu Deus, eu nunca me dei conta do quanto isso é bizarro.

— Tenho, você pode ir, eu estou bem. Não está nem doendo.

Aceno com a cabeça, confiando em suas palavras. Solto sua mão aos poucos, ainda receoso de deixá-la sozinha. Tenho a impressão de que a qualquer momento ela desmoronará no chão, e isso me deixa inquieto.

Trombo com a minha mãe no corredor, e só de me olhar ela percebe o meu estado de puro pânico.

— O que houve?

— A Annie. - Faço uma pequena pausa para respirar. — A bolsa.

— Ai, meu Deus, a bolsa estourou? - Os olhos da minha mãe saltam em surpresa.

Eu apenas aceno em resposta, e dou passos largos até o quarto do Matteo. Por sorte, abro a porta certa do armário e encontro a bolsa azul de maternidade, com um ursinho bordado e um M.

Volto para a sala e vejo que até o meu pai ouviu a movimentação e se juntou a nós. Eles se preocupam e perguntam se Annie precisa de alguma coisa, mas de todos nós, ela é a mais calma.

Ligo para a Melissa assim que saio do meu apartamento, conto que estou a caminho do hospital e peço para que ela venha ao apartamento com a Mía e fique também com o meu pai.

— Sim, é claro que eu vou. Meu Deus, Matteo vai nascer! - Percebo que Melissa afasta o telefone do rosto porque sua voz fica distante, e ela avisa para o Vicente e para a Mía. — O Matteo vai nascer!

Inalcançável - Livro 2Where stories live. Discover now