capítulo 5.2

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Annie.

Fred está com a cara fechada quando entro no carro. Peço para ele dirigir devagar, já que estou carregando Mía dormindo em meu colo. Ele concorda com a cabeça e dirige em silêncio.

- O quê foi, Fred?

Ele vira o volante para o lado esquerdo, fazendo a curva.

- Não é nada.- Fred balança a cabeça para os lados. - Eu vou ficar quieto porque disse que não brigaria mais com você.

Solto um grunhido frustrado. É por causa do Théo que ele está assim. Toda essa situação é tão delicada e complicada, é a vida de Mía, e não a minha. Não sou eu que está convivendo com Théo, e mesmo assim Fred parece não entender.

- Mía tem o direito de conviver com o pai.

Fred aperta o volante com as duas mãos. Quando está furioso ele não consegue controlar a raiva. Eu me sinto pisando em ovos constantemente, tendo que pensar duas ou três vezes sobre quais palavras usar, evitando a qualquer custo um surto da parte dele. É estressante, e às vezes fico esgotada.

- Eu não gosto daquele cara - Fred diz, sem desviar a atenção das ruas. - Não gosto mesmo. Pra mim ele é um imbecil que fez merda e agora quer voltar bancando o bom moço arrependido. Você é burra por cair no papo dele.

Minha boca está seca ao engolir a saliva com dificuldade. Meus ombros caem, eu sinto nas costas o peso de suas palavras. Tivemos uma noite tão agradável, fomos ao cinema, jantamos juntos, e tudo acaba da mesma forma de sempre... com Fred cuspindo palavras nada delicadas em mim.

- Fala direito comigo, eu não sou burra por deixar o pai da minha filha conviver com ela. É um direito dele. - Tento controlar meu tom de voz para não acordar Mía.

Fred solta um riso nasalado, carregado de deboche.

- Não vê que ele é um merda? Eu seria um pai muito melhor que ele. - Fred coça o queixo e alisa a barba por fazer com a mão que não está segurando o volante. - Por falar nisso, você parou de tomar o anticoncepcional? Eu quero ter um filho até o final do ano que vem, você sabe.

Um suspiro exausto escapa da minha boca.

- Já conversamos sobre isso - digo, firme com minha decisão.

Ele me olha de soslaio.

- Eu quero um filho. Não vou ficar esperando a sua boa vontade, Annie.

Quando ele quer ser grosso consegue, e isso me machuca. Nós já conversamos tanto sobre isso. Não quero ter filhos no momento, nem sei que quero outro, pra falar a verdade, mas Fred insiste. Ele quer um filho a qualquer custo, e eu não estou nem um pouco disposta a isso. Quero construir a minha carreira, me dedicar em meus projetos, e não parar tudo de novo para criar mais uma criança.

Fred vira o volante, entra na rua do seu condomínio e não demora para estacionar o carro na vaga de sempre. Eu abro a porta quando ele desliga o carro.

- Adote um. - Dou de ombros, ajeito Mía em meu colo e saio do carro. - Você consegue se virar sozinho.

Eu bato a porta sem muita força. Escuto Fred pisar fundo em minha direção logo em seguida. Antes que eu possa caminhar até o elevador, ele agarra meu braço.

- É só você encontrar com ele que fica cheia de graça, já percebeu?

Ele me fuzila com os olhos, eu vejo fúria neles. As narinas estão dilatadas, ele respira pesado, inflando o peito com ódio. Me encolho. Em outras situações eu levantaria a cabeça, mas Fred me faz sentir minúscula em ocasiões como essa. O jeito como ele me encara me dá medo.

Inalcançável - Livro 2Where stories live. Discover now