Eu fico feliz por eles. Melissa decidiu ficar em Florência, alugou a galeria e começou o seu próprio estúdio fotográfico. Ela também alugou um apartamento pequeno porque queria dar um passo de cada vez em sua relação com Vicente, ela não quer levar uma vida de casada tão rápido assim. Eu apoiei sua decisão e fiquei feliz demais por ter minha melhor amiga pertinho de mim outra vez.

Parece que a vida de todo mundo está caminhando. Lívia também está em um relacionamento. Com uma garota. O nome dela é Lía e elas são a coisa mais linda quando estão juntas. Elas se conheceram através de um amigo em comum, e se deram bem de cara. Depois de algumas semanas, acabaram ficando juntas e não se desgrudaram desde então. Lívia está radiante e apaixonada. Ela merece demais ser feliz.

E tive outra mudança em minha vida. Minha floricultura fechou. Eu conversei muito com Gutierre, e nós achamos que era uma decisão sábia. Meu coração ficou pequenininho quando eu cheguei enfim nessa decisão, mas foi o melhor para todo mundo. Durante anos a minha floricultura foi o meu único sustento, era uma das minhas maiores realizações. Fui muito feliz naquele lugar, cuidei de tudo com muito amor, cada detalhe era pensado com carinho. Mas tinha chegado ao fim.

Já iniciei e fechei tantos ciclos em minha vida, mas ainda não me acostumei a dizer adeus. A cada despedida eu deixo um pedacinho meu para trás. E com a floricultura não foi diferente. Eu dei adeus ao meu pequeno sonho, à Annie corajosa e cheia de esperança que nasceu no momento em que eu coloquei os meus pés dentro daquele lugar. Eu dei adeus à Annie que me fez crescer e virar dona do meu próprio nariz. Uma parte do meu coração estava lá, e ficará para sempre. Mía's Fleur foi a minha realização.

Pensar nisso me deixa com um nó na garganta, não de completa tristeza, mas sim de dever cumprido. Respiro fundo antes que eu comece um filme da minha vida em minha cabeça e acabe chorando com toda a reviravolta de todos esses anos. Continuo caminhando até a cozinha, e encontro uma Margot feliz, cantarolando junto com o rádio ligado em cima da ilha da cozinha. Ela me olha e sorri.

A última vez que vi Margot foi conturbada. Eu estava indo embora, com a minha filha, fugindo de um lugar que me fez feliz e triste ao mesmo tempo. Eu me lembro dela me pedindo para não ir embora, e de quando ela e Tina me observavam da janela sem saber o que fazer enquanto eu entrava no táxi. Ainda bem que tudo se ajeitou, o mal entendido foi resolvido e ela me recebeu de braços abertos, mais uma vez.

— Precisa de ajuda, Margot?

— Eu aceito sim, minha filha — Ela seca as mãos em um pano de prato e indica a ilha da cozinha com um aceno. —, pode cortando os legumes pra mim?

— É claro.

Puxo uma banqueta e me sento de frente para a ilha. Enquanto corto os legumes, aproveito para botar o papo em dia com a Margot.

— Ela convidou alguns amigos do clube, mas é só velho — Margot diz, com a sinceridade de sempre.

Eu dou risada. Tina decidiu fazer um jantar para os amigos e a família, para comemorar o aniversário. E por falar em família...

— Você sabe se aquele-que-não-deve-ser-nomeado, vem? — pergunto, parando de cortar os legumes para olhar a Margot.

Ela joga a cabeça para trás, e gargalha.

— Você quer saber — ela se aproxima com uma cara de quem está aprontando, e sussurra —, do Gael?

— Esse mesmo. — Pisco em sua direção.

Margot dá de ombros. Com as mãos fechadas em conchas, ela pega um punhado de legumes que já cortei e despeja dentro de uma panela grande com azeite.

Inalcançável - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora