― Eu juro sempre me lembrar da Casa que me aceitou.

Parecia pensar no que falar, buscando as palavras certas. Embora Ettore se divertisse com a agonia do homem, se sentia entediado, não confiava em Giuseppe e sabia que tinha algo de errado.

― Eu juro lutar sempre para os bens de meus irmãos.

O incômodo era visível a cada vez que uma nova palavra era pronunciada e quando abriu os olhos foi possível confirmar tamanha a sua dor, pois as orbes claras estavam cheias.

Ettore se contorceu em seu interior, porque já tinha visto de tudo naquelas cerimônias, mas choro foi a primeira vez.

Aquele cheirava a covardia. A fraqueza.

E não era de seu agrado ter um irmão fraco ao seu lado.

― Que a minha carne queime como essa Santa se eu falhar de manter meu juramento.

A primeira lágrima escorregou e Ettore deu as costas, achando patético aquele ato. Mas os olhos estavam fixos em suas mãos, depois de seu pai eram as únicas mãos masculinas que não tinham cicatrizes de queimaduras.

Mas uma queimação se fez presente no topo de seu estômago, mas sem dúvida alguma ele teria escolhido que a cicatriz que tem fosse nas mãos, não na alma.

Sua iniciação, anos atrás, tinha sido mais letal que passar uma Santa de mão em mão. Porque não matou sua sensibilidade no tato, cortou sua alma em pedaços.

Assim que um grito abafado ecoou pelo lugar, Ettore se virou para o homem no centro do galpão, tentando sufocar os pensamentos que o perturbaram.

A Santa foi consumida com o fogo, sobrando apenas suas cinzas aos pés de Giuseppe, que também não aguentou de pé e caiu sob seus joelhos, resmungando baixo demais para qualquer um escutar antes de cair por completo no chão desacordado.

Foi tudo em um mesmo segundo, pois Ettore já estava com uma pistola na mão, dando um tiro próximo ao Giuseppe, o barulho do tiro fez com que o homem se sentasse desorientado no mesmo instante.

― Estou dentro? ― Os olhos caíram sob onde o projétil estava, perto demais de seu corpo para um erro, mas levantou os olhos para quem atirou.

― Sim, filho. ― Leonel passou por Ettore, esbarrando propositalmente em seu ombro pela impulsividade, reclamando silenciosamente. ― Bem-vindo à famiglia. A Giostra agora é sua Casa.

Ettore observou seu pai sentar-se ao lado de Giuseppe com uma bandeja dourada com alguns remédios para ajudar o novo soldado. Ao mais novo aliado.

Limpou sua ferida com soro e depois cuidadosamente passou uma pomada para assadura nas palmas das mãos, enrolando tudo com uma gaze para impedir qualquer infecção futura.

Tudo foi feito sob o grito contido de Giuseppe, que horas mordia os lábios e outras fechava os olhos em uma preze angustiada que tudo terminasse logo.

― O que eu devo fazer agora?

Ettore novamente se viu desejando estar no lugar do homem, mas também se sentia enojado com ele, porque entre tantas escolhas que poderia ter feito Giuseppe escolheu logo a Máfia.

E aquele definitivamente não era o caminho mais fácil.

Mas ele escolheu, se sujeitando a tantas coisas, queimar às mãos ainda não era nada comparado ao que estava por vir.

Ettore se abaixou junto de Giuseppe, pegando na mão o projétil amassado que tinha endereço certo, mas que acabou tendo que ser desviado, porque uma pequena insegurança não deveria interferir nos julgamentos de quem vive ou morte.

Ainda mais quando se trata de um aliado.

O currículo dele era impecável, sem um único erro, perfeito demais para ser possível uma confiança repentina.

Do dia para noite. Que foi assim que ele tinha conseguido um lugar na família.

Mesmo com todas as recomendações de Ettore que estava cedo demais para aceita-lo, que confiança vinha com o tempo, com atitudes.

Não com uma simples passagem livre pelo mediterrânico.

― Esperar, irmão. Esperar....

― Esperar? Esperar o que? Eu sou famiglia.

Ettore sorriu vaidoso e se levantou, brincando com o projétil amassado entre os dedos, jogando para cima e pegando novamente.

Negou com a cabeça e fechou o semblante, não dando de ombros ou irritado, mas incomodado com aquela pequena atitude desesperada.

― Cuide-se primeiro, filho. Cuide-se. ― Leonel voltou a dar voz ao ambiente, dando dois tapinhas no ombro de Giuseppe. ― Quando seus serviços forem solicitados, será o primeiro a saber, sim?

― Isso, Giuseppe. Cuide-se. Não se esqueça da nossa pequena comemoração, irmão.

― Sim. Estarei bene para isso. Para selarmos nosso acordo publicamente.

Uma troca de olhares fora trocada entre os homens presentes, até que um a um deixasse o local. Abandonando aquele galpão empoeirado, esquecendo o que tinha acabado de acontecer.

Uma pequena lei sempre se fazia presente; um rito de iniciação deveria sempre ser esquecido da memória, lembrado apenas nas cicatrizes profundas nas mãos.

Uma pequena lei sempre se fazia presente; um rito de iniciação deveria sempre ser esquecido da memória, lembrado apenas nas cicatrizes profundas nas mãos

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Giostra - Máfia Siciliana (CONCLUÍDO)Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz