Egoísta

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Finalmente depois de semanas finalmente pude comer a maior delícia já inventada. Meu adorado bolo de morango. Era meu momento especial e eu adorava demais aquilo bendito bolo.
Jenny's estava vazio aquele horário e por isso toda noite eu conseguia escapar dos olhos curiosos da alcatéia e vir aqui para ter um pouco de tempo somente para mim. Depois de dias corridos e infestados de confusão, o bolo de morango do Jenny's era a única coisa que eu precisava naquele momento para em fim, acalmar meus nervos. Dei mais uma garfada no delicioso bolo e senti meu corpo relaxar e quase pude ver estrelas.
- Vejo que ainda é seu favorito - Uma voz conhecida me tirou da excitação que aquele bolo me trazia intensamente - Como vai Erza?
- ... - Franzi o cenho e observei o estranho conhecido que andava de forma calma em direção. Nada pareceu ter mudado nele durante todos esses anos em que esteve longe, estudando os vampiros. Sua tatuagem em um dos olhos parecia perder um pouco do pigmento, seus cabelos azulados estavam um pouco mais longos do que da última vez em que nos vimos, e isso foi a doze ou treze anos atrás enquanto eu estudava arte em Paris - Quando voltou?
- Bem... - Ele puxou a cadeira a minha frente e se sentou, cruzando os dedos das mãos em cima da mesa, continuei com meu cenho franzido achando que ele poderia ser apenas uma miragem que minha mente estava fazendo já que estava se deliciando demais com o bolo - Eu estive em vários lugares.
- Não quero saber de por onde esteve Jellal, quero saber quando você voltou? - Senti minha voz assumir brevemente um tom sério demais durante minha pergunta. Mas eu havia ficado treze anos longe de meu companheiro, ele não havia me enviado uma carta ou ligado e a única coisa que me fazia ter certeza de que ainda estava vivo era Natsu, já que sempre mantinha contato com ele.
- A menos de uma semana, os mestres me pediram para manter distância por um tempo - Observei o azulado dar de ombros enquanto ainda me encarava, seus olhos demonstravam toda a ansiedade que ele evitada a todo custo demonstrar fisicamente - Erza eu sinto...
- Não começa - Cortei suas palavras antes que ele dissesse algo que, eu tinha certeza que ele diria - Foram treze anos Jellal, sem uma carta, ligação ou se quer sinal de vida!
- ... Eu sei... E sinto por isso, os mestres me pediram isso, fazer o reconhecimento dos vampiros era arriscado demais - Um tom de pura tristeza foi claro em sua voz. Eu sinceramente não sabia se acreditaria nele ou não, mas ele era meu companheiro afinal de contas e querendo ou não iríamos nos acertar mais cedo ou mais tarde e eu preferia que fosse o quanto antes, foram treze longos anos longe um do outro.
- Pelo menos terminou sua missão? - Dei mais uma garfada no bolo, desta vez não sentindo a mesma excitação de antes, o clima estava estranho demais pra isso e a calmaria também havia ido a muito tempo.
- Sim... Temporariamente - Suas mãos foram a procura de algo dentro de seu casaco escuro e alguns papéis foram postos a mesa - Olhe.
- O que é isso? - Pego um dos papéis, um mapa, em minhas mãos e observo os vários pontos vermelhos, azuis e amarelos espalhados - Isso não é confidencial ou algo do tipo?
- Sim, por isso preciso que guarde segredo - Observei o fantasma de um sorriso cruzar seu rosto. Ah sim, agora me lembro claramente de um dos motivos pelos quais a deusa da lua nos uniu, Jellal raramente demonstrava medo diante do perigo que poderia custar sua vida e isso o tornou um lobo destemido, mas as vezes ser destemido significava ser burro - Os pontos vermelhos são os lobos - Meu companheiro apontou e eu observei com atenção, a maior parte destes postos estavam próximos a Irlanda, onde atualmente nos encontrávamos - Os amarelos são as bruxas - Estes pontos eram um tanto quanto raros pelo mapa e isso me assustou um pouco, será que este mapa significa o que eu acho? - E os azuis são os vampiros... - Os pontos azuis eram predominantes em todo o mapa.
- Estão crescendo - Digo em um sussurro mais para mim mesma do que para qualquer outra pessoa - Mas se... A população vampirica está crescendo tão rápido, o que está acontecendo com as bruxas?
- Desaparecendo - Meus olhos surpresos encararam os seus - Por algum motivo estranho, as bruxas estão deixando de existir... Segundo Makarov é uma causa natural, o mais forte sobrevive.
- Mas isso não explica o por que os vampiros estão crescendo de forma tão grande!
- Meu sincero palpite é que eles estão no meio de uma revolução, nos últimos anos os vampiros estiveram bem... Descontentes com o pacto de sangue.
- Eles vão começar a atacar humanos?
- Esperamos que não... Erza... Eu fui ordenado a ir para mais uma missão... Mas desta vez quero que vá comigo - Afirmou e alcançou uma de minhas mãos.
- O que? Ir com você...? Jellal eu... Sou uma beta... Fairy Tail vai ficar ainda mais desprotegida sem mim aqui... - Sinceramente eu não estava tão segura disso.
- Não, eles não vão, eles têm uma Luna agora Erza - Um pequeno e raro sorriso foi solto por ele - E além disso... Você não acha que tem que ser um pouco mais egoísta consigo mesma as vezes?
- ... - Ele tinha razão? É claro que tinha, passei tantos anos pensando nos outros que minha escapatória acabou se tornando qualquer cafeteria que servisse um bom bolo de morango - Você tem razão... Tudo bem, eu vou com você.
- 🌕 -
- Se afaste! - Minhas mãos tocaram a terra e observei galhos de árvores irem contra o lobo negro, este que pulou para longe e me observou um tanto surpreso. Me levantei o mais rápido que pude do chão e voltei a correr para a casa de Vivian, espero que eu fique protegida aqui dentro. Assim que fecho a porta observo o gato preto me olhando como se soubesse do que havia acabado de acontecer comigo na floresta.
- Bem-vinda de volta querida! - A voz de Vivi veio da cozinha com pressa, tirei meu casaco vermelho e o pendurei em um dos cabides próximos a porta, desviei do gato e fui direto para a cozinha - Levy! O que aconteceu com você? Está toda suja!
- Ah tia... Eu só escorreguei e cai - Oh droga. Eu estava mentindo pra uma bruxa!
- Levy... O que aconteceu? - Observei o gato preto subir a mesa. Ah seu fofoqueiro!
- Um lobo tentou me atacar no caminho pra cá... Mas eu não sei... Ele não queria me machucar e eu percebi isso em seus olhos - Me senti em uma das cadeiras e arrumo meus óculos que, por um intenso milagre divino, não se prenderam em meio a confusão.
- Ele é seu companheiro - Vivian soltou sem pensar duas vezes e eu franzi o cenho, mais do que eu achei ser possível - É algo dos lobos não se preocupe... De qualquer forma, ele não pode machucar você, e correr dele foi uma das coisas mais... - A mulher pareceu procurar pelas palavras certas - Decepcionantes que você pode fazer, mas é compreensível.
- Tia... Eu não quero um companheiro, não quero nenhum relacionamento amoroso com um lobo! Já basta minhas amigas - Dei de ombros e cruzei os braços.
- Sinceramente - O gato em cima da mesa soltou um alto miado. Observei Vivian cruzar os braços nada contente com minha resposta - Levy se eu fosse um lobo te diria que, não sou eu que escolho por quem me apaixono ou com quem tenho um laço formado... Seja lá como for que esse negócio funciona!
- Vivian é simplesmente uma opinião minha e vou me manter nela até o fim! Eu não quero que uma divindade que nem mesmo acredito decida por quem me apaixono! E isso vale pra destino também! Eu não acredito nessas coisas - Respondo a ela da mesma forma em que ela me deu uma bronca.
- Tudo bem, escute o que vou dizer - Observo ela se ajeitar na cadeira de madeira. Cruzo meus braços após ajeitar os óculos e foco minha atenção nela - Rubea Stella, tradução livre para estrela vermelha, era a moça mais bela de seu país e ela possuía um coração enorme... Como filha mais velha do imperador ela teria que se casar com o filho da cidade vizinha e assim evitar uma guerra entre os dois reinos - Fez uma breve pausa e se levantou, procurando por seus armários bagunçados alguma coisa, quando finalmente se afastou e fechou a porta do armário observei um bulli de chá branco com flores rosas desenhados no mesmo - Quando Rubea conheceu Arcenis ela sentiu repúdio, mas aceitaria seu fatal destino.
- Por que ela faria isso? Ela poderia simplesmente fugir - Digo, mesmo sabendo que isso não era possível naquela época.
- Continuando... - Ignorou meu comentário e retirou duas canecas do escorredor de pratos e os colocou em cima da mesa - Mas enquanto estava em seu palácio, Rubea conheceu Solis Sanguine, um jovem general que possuía um coração enorme com os necessitados.
- Ela se apaixonou por ele, não é?
- Obviamente, e ele se apaixonou loucamente por ela... Semanas se passaram e Rubea ficou grávida de Solis... Quando Arcenis soube da gravidez ordenou que Solis fosse preso em uma masmorra e que Rubea fosse presa em seu quarto no Palácio... - Pegou dois pequenos saquinhos com chá e os colocou um em cada caneca - Mas... O Pai observava tudo.
- Quem é o Pai? - Perguntei com curiosidade.
- O criador, ele cria deuses e seres...
- Como o Deus dos humanos?
- Ah não querida, o Pai é muito mais poderoso do que o Deus dos humanos... De qualquer forma... Nove meses se passaram e uma jovem menina nasceu, possuindo toda a beleza da mãe e toda a coragem e bondade do pai... Mas obviamente Arcenis sentiu ódio pela pequena garota e ordenou que a matassem... Rubea assim que soube ficou ainda mais devastada e chorou por semanas, o Pai ficou tão triste por ela que a deu uma escapatória, mas isso teria um preço.
- Tudo sempre tem um preço...
- Correto - O chiar do bulli chamou sua atenção e ela desligou o fogão, colocando em seguida a água quente em ambas as canecas - Tome enquanto está quente... Continuando, Rubea aceitou de imediato e assim na lua cheia daquela noite ela teve sua primeira transformação, sozinha e trancada, mas mesmo assim era uma forma de escapar.
- Mas e Solis?
- Solis estavam tão devastado quanto sua amada, Arcenis havia lhe contado sobre o nascimento da jovem garota e que havia mandado mata-la... Solis não chorou, ele fechou seu coração para seu próprio bem e para o bem de sua amada estrela... Ele tinha que permanecer firme e tira-la dali... - Ela fez uma breve pausa enquanto bebia de seu chá e já aproveitei e tomei um pouco do meu - Então ele fez a única coisa que pode e pediu ao Pai para que lhe desse o poder para sair dali... Uma semana inteira se passou e Solis continuou a pedir a mesma coisa.
- E ele foi ouvido?
- Sim... No sétimo dia o Pai finalmente atendeu seus pedidos e lhe deu magia... Arrombado as portas ele procurou incansavelmente por sua estrela.
- Ele a encontrou não é mesmo?
- Obviamente, ambos tiveram um filho assim que tiveram finalmente um momento de paz e esse foi o primeiro híbrido entre as duas espécies e o nomearam de Pacem...
- Mas por que os lobos e as bruxas continuam tão separados... Quero dizer, nos temos q magia e eles podem se transformar em feras.
- Apesar de Pacem ser um híbrido ele foi o único, seus genes foram sendo passados e certas pessoas conseguiam o genes do lobo e outras o gene bruxo.
- Então as comunidades se formaram e eles não se misturaram mais?
- Exatamente querida, e assim chegamos aos dias de hoje.
- Mas isso não significa que seja verdade tia Vivian... Quero dizer... É apenas uma lenda.
- Toda lenda tem seu fundo de verdade Levy, nunca se esqueça disso - Ela deu entregou a mim uma breve piscada de olho. Provavelmente e obviamente eu não acreditaria nessa lenda, não seria a primeira a ser contada a mim e com certeza não seria a última.
- Mas Tia, o que aconteceu com Artenis?
- Rubea o mordeu sem querer e como sabe, quando um lobisomem morde alguém está pessoa se transforma...
- Ele virou um lobo...
- Sim mas não qualquer lobo... Um lobo das trevas, ou como os próprios lobos chamam, um lobo negro.
- 🌕 -
Acordar ao lado de minha companheira era um prazer enorme para meus olhos, seus lábios pequenos, seus cabelos longos e loiros se espalhavam atrás de si pela cama, seus olhos estavam fechados e seu rosto sereno, eu estou completamente louco por esse mulher e isso é mais do que um fato. Ouvi a porta principal da casa ser aberta com certa pressa, me levantei da cama e no caminho para o andar de baixo coloquei uma camiseta, Mirajane estava no meio das escadas quando a encontrei, seus olhos demonstravam apenas desespero e aquele foi um dos poucos momentos em que algo me assustou momentaneamente. A albina nunca ficava com medo ou assustada com coisa alguma.
- Mirajane o que foi? - Perguntei o mais sério que pude, tentando não demonstrar nada do pequeno susto que levei vendo sua reação.
- Natsu... Natsu a Lisanna... Ela... Ela sumiu.

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