Pílula

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Me virei e revirei na cama várias e várias vezes seguidas, tentando encontrar a posição perfeita para um sono tranquilo. O problema era que aparentemente não teria uma posição possível está noite, não sem um remédio para dormir. Empurro as cobertas de cima de mim e anda em meio a escuridão até o banheiro, acendo a luz fraca do mesmo e me olho no espelho. Eu estou horrível. Abro o espelho e pego um dos potinhos de plástico branco e dele retiro uma pílula, a jogo na boca e engulo sem água mesmo, coloco o pote no lugar onde estava e fecho o espelho me encarando mais uma vez. Não é culpa sua Lucy. Sussurro mentalmente para mim mesma e abro a torneira, junto minhas mãos e jogo um pouco de água em meu rosto, eu com certeza teria pesadelos aquela noite.
Apago a lâmpada do banheiro e me deito na cama mais uma vez, me cobrindo com as cobertas, respirei fundo e olhei para um canto aleatório do quarto enquanto o remédio começava a fazer o efeito desejado e mais rápido do que eu esperava, um par de olhos vermelhos me observava com... Preocupação? É o sono Lucy,  apenas o sono, você está delirando de cansaço, o dia foi cheio e exaustivo. Me virei para o outro lado e em pouco tempo adormeci.

A voz de Hyolyn em See Sea começa a tocar e meu olhos - cheios de preguiça - se abrem. A luz do sol já inundava o cômodo de forma traiçoeira e eu nem havia percebido. O remédio funcionou. Me sentei na cama e peguei o celular, desligando o alarme.
- Ah a luz... - Solto fechando meus olhos e recuando um pouco assim que abro mais as cortinas e os raios de sol entram com ainda mais força do que antes.
Vou para o banheiro e faço minhas higienes e vou para a cozinha tomar um bom café da manhã. Preparo os ovos mexidos e bacon, em seguida um café com leite, eu posso até ter nascido na Inglaterra mas meu coração pertence ao café e não ao chá. Olho em volta e algo parecia diferente, minha sala estava estranhamente bagunçada. Eu devo ter bagunçado ontem à noite sem perceber, minha cabeça estava tão cheia, volto para o quarto e coloco uma jeans e uma camiseta de mangas longas, escovo meus dentes com certa paciência e após pegar meu celular e minha mochila, eu saio em direção ao hospital.

- Bom dia - Digo assim que vejo Levy e Juvia de trocando.
- Bom dia - Ambas respondem em uníssono.
- Conseguiu dormir? - Levy pergunta enquanto arrumava o laço em seu cabelo para que os fios não caíssem em seu rosto ao longo do dia - Eu não dormi nada.
- Um pouco, mas foi com um remédio - Dei de ombros e comecei a me trocar - E ainda por cima tive pesadelos terríveis a noite inteira.
- Eu também, toda vez que pregava os olhos vinha a imagem de um paciente diferente - Juvia disse com um olhar cansado.
- Quantos acham que sobreviveram? - Perguntei a elas e coloquei minha calça do uniforme.
- Poucos... Estavam todos com fitas amarelas e vermelhas - Levy disse e soltou um longo suspiro - Mas vamos logo, vamos enfrentar isso juntas e de cabeça em pé.
Entramos o hospital e Suzi veio logo nos receber.
- Quantos ainda estão vivos? - Juvia perguntou.
- Uns nove ou dez - Ela respondeu triste, e tanto eu quando minhas colegas soltamos um longo suspiro em tristeza. Ontem, cerca de vinte e cinco pessoas chegaram ao hospital para primeiros atendimentos, e apenas tão poucos acabaram sobrevivendo, é triste mas... Temos que entender que não foi nossa culpa eles terem vindo a óbito mas, é difícil. Basicamente, passamos a manhã inteira ajudando a doutora - que nos disse que se chama Evergreen - e ao doutor Adam. Os pacientes ainda estavam sobre uma dose intensa de medicamentos para ficarem desacordado, os familiares já estavam nos quartos e o hospital continuava silencioso.

No horário de almoço, eu e as minhas duas novas amigas acabamos por decidir almoçar no restaurante - mais pra lanchonete - do hospital mesmo, já que nenhuma de nós queria o azar de estar longe caso um paciente acordasse dos medicamentos.
- O que acham de ir lá em casa? - Olho para elas enquanto mexia na comida em meu prato com o garfo.
- Não acha meio cedo? Esse tipo de intimidade... - Juvia brincou tentando amenizar um pouco o clima.
- Eu tenho uma garrafa de vinho que minha mãe me deu, acho que ela precisa ser aberta - Digo largando o garfo de lado e a comida, afinal, não estava com fome.
- Isso sim é um convite apropriado - Levy sorri de canto - A gente vai com você.
- Graças a deus, eu ia ficar com medo de ficar muito tempo naquele apartamento sozinha... - Estremeço me lembrando dos olhos vermelhos que me encararam na noite anterior.
- Lucy que tipo de remédios você tomou mesmo? - Levy brincou.
- É mesmo? Sabe que maconha é proibido aqui né? - Desta vez, Juvia disse em um tom de brincadeira.
- Ah só por Deus vocês duas mesmo, eu não usei drogas! E além disso, deve ter sido o sono intenso mesmo - Me reencosto melhor na cadeira enquanto encaro as duas a minha frente.

Wind Flower era cantada pelas vozes maravilhosas das integrantes de Mamamoo como música de como fundo, Levy, Juvia e eu acabamos por descer e comprar mais duas garrafas de vinho barato assim que acabamos com o vinho que minha mãe me deu, graças ao universo amanhã era sábado e não iríamos trabalhar então a opção de ficar bêbadas foi a melhor que fizemos naquela semana.
- Tudo bem! - Levy disse levantando uma das mãos, conseguindo minha atenção e a atenção de Juvia de forma imediata - Eu, terminei com meu namorado.
- O que? Pensei que gostasse dele! - Juvia exclamou e eu apenas a encarei, nenhuma amiga minha havia ficado tão feliz com um término tão recente antes e para falar a verdade eu não sabia muito bem como reagir naquele momento.
- Eu também! E aí é que tá! Eu não gostava! E além disso ele me traía todo sábado a noite com a Suzi - Ela disse colocando o copo na mesa e o enchendo, mesmo que ainda estivesse pela metade.
- Suzi? A secretária do hospital!? - Perguntei surpresa e virei o líquido avermelhado em meu copo para dentro - Como assim!?
- Pensei que ele ia visitar a mãe doente... Oh só tem esse hospital na cidade... Putz... - Juvia falou mais para si mesma do que para Levy.
- Sim Lu, eu fiquei sabendo por uma amiga que viu os dois de mãos dadas no cinema - Bufou a azulada e observei ela dar um longo gole no vinho em seu copo.
- Sempre soube que ela era uma vaca, quero dizer, já prestaram atenção nas roupas que ela usa? - Juvia se pronunciou enquanto rodava o copo entre os dedos.
- Não - Tanto eu quanto Levy dissemos.
- A gente geralmente tá ocupada falando mal de alguém na internet - Levy diz e eu não consigo deixar de rir disso.
- Vocês me deixam fora disso!? Como podem? - Juvia pareceu ofendida, mas mesmo assim riu, o álcool realmente estava fazendo efeito em todas nós.
- Enfim... Alguém pode me dizer se essa cidade tem alguma coisa de estranha? - Ambas olharam para mim - Quero dizer - Terminei meu vinho - Estou aqui a quase três semanas e a coisa mais incrível que eu fiz foi engessar um braço.
- Não, isso foi o máximo que eu já fiz aqui também - Levy deu de ombros.
- Vovó diz que aqui tinha lobos - Juvia disse.
- Faz sentido, estamos rodeados por uma floresta.
- Não, não esses lobos, lobisomens.
- ... - Levy e eu nos entre-olhamos e caímos na gargalhada.
- Isso é loucura Juvia! - A azulada baixinha disse - Lobisomens não existem.
- São apenas lendas Ju - Sorrio para minha amiga.
Meu Spotfy resolve mudar de música e Mamma Mia da banda ABBA começa a tocar e meu sorriso aumenta, pego o controle da televisão e começo a cantar.
- O que está fazendo sua louca? - Levy pergunta e continuou. Ando até Juvia e a puxo e a mesma começa a cantar comigo.
- Vem - Por último puxo Levy e juntas começamos nosso showzinho particular para ninguém em especial e pela primeira vez, agradeci ao destino que meus dois vizinhos mais próximos trabalhassem durante a noite.
A noite seguiu desta forma e foi a primeira vez que acabei por não ligar para minha mãe, mas, como ela também não me ligou eu simplesmente deixei isso de lado, eu realmente estava necessitando de uma noite como essa, me divertir, beber, dançar e falsamente cantar. Eu jamais sairia desse lugar na vida, era perfeito.

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