Capítulo Quarenta e Três

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Entramos naquele carro luxuoso (que Jéssica adorava e olhava para cada detalhe como se quisesse decorar) e fomos dirigidos até um aeroporto próximo. Em vez de entrarmos no portão número um como todo mundo, entramos por um pequeno portão na parte de trás do aeroporto, onde encontramos um discreto jatinho à nossa espera:

            — Ele tem um jato particular! — Jéssica agarrou no meu braço e sussurrou, espantada, no meu ouvido. Quase podia ver os seus olhos brilharem, era uma cena engraçada.

            Por um minuto, o piloto que nos esperava ficou acanhado em decolar, devido à gravidez da Jéssica.

            — Pelo amor de Deus, Leonardo! Você ainda acredita nessas lendas urbanas? Pode decolar sem medo, nada irá acontecer com o bebê dessa garota. — E assim decolamos.

            Por mais interessante que seja a sensação de viajar pela primeira vez dentro de um jatinho particular, eu, ao contrário da Jéssica (que parecia saborear ao máximo essa nova sensação), não conseguia me concentrar em nada. Respondia vagamente às perguntas feitas por Katsu e não ouvia absolutamente nada do que Jéssica dizia, apenas pensava na possibilidade de reencontrar Samaris. Principalmente nas milhares de possíveis reações que ela poderia esboçar.

            Horas de viagem. Não sei ao certo quantas até chegarmos ao destino. No aeroporto, um grande carro nos esperava. Já havia escurecido, fiquei imaginando que tipo de história meu pai inventou para acalmar a esposa.

            Uma hora a mais de viagem ou duas talvez, dentro do luxuoso carro. Ele entrou em uma estrada de terra, adentrando uma mata que, à medida que avançávamos, se tornava cada vez mais e mais densa. Fiquei apreensivo quanto a isso. Se eles eram tão ricos, não deveriam morar no centro ao invés de dentro do mato?

            Katsu retirou um celular do bolso e mandou um sms "para avisar ao porteiro que estamos chegando" explicou para mim, exibindo o seu constante sorriso.

            Em meio às arvores surgiu um portão enorme e enfeitado, como os dos parques de diversões que costumamos visitar quando criança. Parecia ser de ferro puro, com vários detalhes esculpidos, se abriram ruidosamente enquanto nos aproximávamos, entendi por que Katsu tinha que avisar que estávamos chegando minutos antes, demorava mais ou menos quatro minutos para abrir um portão daquele tamanho.

            A casa realmente me impressionou. Chamá-la de casa seria até um erro, quando na verdade o nome mais apropriado para essa construção seria "mansão". Samaris já havia comentado que vinha de uma família bem-sucedida financeiramente, mas a palavra "milionária" nem ao menos passou pela minha cabeça.

            "Uau" - sussurrou Jéssica, deslumbrada com o glamour da mansão à nossa frente. Katsu sorriu ao ver a expressão de Jéssica.

            — Samaris pertence a uma família muito tradicional. — O que isso quer dizer ao certo, eu não sei. Mas para Katsu pareceu ser o suficiente para explicar tudo, pois nada mais foi dito depois disso.

            Nada naquela casa lembrava a Samaris, nem a decoração, nem o luxo, nem o tamanho, nem o clima, nem as cores... Nada. Era muito difícil acreditar que ela já morou ali e mais difícil ainda acreditar que ela tenha vontade de continuar morando.

            Fomos conduzidos pelo corredor gigante cheio de ecos e quadros com fotografias de pessoas desconhecidas (todas com traços orientais) até uma porta grande com uma maçaneta enfeitada que Katsu abriu lentamente.

            O quarto era enorme e redondo, as mobílias se encontravam sempre perto das paredes, exceto a cama, que ficava exatamente em contraponto à porta em que entramos. Em meio a tantos cobertores coloridos, mosquiteiros que se penduravam no teto formando um véu por cima da cama e travesseiros, se encontrava dormindo, com o aspecto de uma boneca indefesa, quase que perdida em meio a tanta coisa grande, respirando lentamente, estava ela:

Samaris.

A VIDA DESENCAIXADA DE ICK FERNANDES (história completa)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora