Capítulo Dezessete

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Horário? Dez da manhã. Local? No quarto 402 da pousada, encharcado pela chuva, recolhendo vagarosamente os meus pertences jogados pelo quarto, meu tênis, minha carteira, meu anel...

... O anel com as inscrições "Isso também passará" estava em cima do criado mudo, inocente, inanimado, me trazendo uma montanha de lembranças que eu não queria ter. O pego e ergo na altura dos olhos, por um minuto fico o admirando, perdido em meio o meu devaneio, e um surto de realidade repentino o lanço com todas as minhas forças janela afora.

De nada adiantou, as lembranças dela estavam em toda parte. Na meia que ela esqueceu, na carta que ela deixou, no cheiro que se pregou nos lençóis da cama.

No ônibus, voltando para casa, reli a carta várias vezes, ela basicamente diz que me ama, mas que está indo embora. Se me ama de verdade, por que ir? Sinto tristeza, sinto raiva, sinto até um pouco de dó dela, sinto remorso e contra toda a minha vontade, ainda sinto amor.

Droga de sentimento.

A VIDA DESENCAIXADA DE ICK FERNANDES (história completa)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora