Capítulo Dois

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  • Dedicado a Camila Campos
                                    

Alguns anos se passaram e o tio Otávio se tornou uma alegre lembrança. Herdei muitos de seus bons hábitos, como caminhar de manhã, o gosto por teatro e escrever poesias.

Pois é. Eu escrevo poesia, mas não saia espalhando por aí, ok? Não consigo imaginar o que aconteceria se a turma do futebol descobrisse esse fato.

Os adolescentes possuem o estranho hábito de considerarem as coisas diferentes engraçadas e dignas de chacota.

A poesia na minha vida sempre fora um hobby, depois se tornou meio que uma válvula de escape. Na vida, você usa máscaras o tempo todo. Com os amigos, com os pais, com a namorada... Você está o tempo todo ajudando a moldar a perspectiva que eles possuem de você.

Na poesia, é possível ser você mesmo, sempre. Pode transparecer quem você é de verdade, escrevendo até sobre as coisas pelas quais você sente vergonha em você mesmo. Sou um menino comum até demais, mas é a poesia que me deixa são e, muitas vezes, é o mundo normal que me deixa à beira da loucura.

A importância das poesias na minha vida não me impede de escondê-las a sete chaves dentro de uma caixa de videogame antiga embaixo da minha cama.

Provavelmente, minha mãe já deve tê-las encontrado em algum momento, várias vezes ela é quem faz a faxina no meu quarto. Se for o caso, foi sensata o suficiente para não comentar algo comigo e com o meu pai. Ele simplesmente não entenderia.

Sou atacante e artilheiro do time de futebol da escola. Gosto muito de jogar, apesar de aparentemente não levar o futebol tão a sério quanto o resto do Brasil (e boa parte da Europa).

Só entrei no time por muita insistência do meu pai, o Josué, mas tenho que admitir, a ideia dele não foi tão rui assim. Gostei da experiência de jogar bola.

Enfim. 

No início do dia de aula, uma linda garota loira chamada Jéssica se dirige a mim, ainda no meio dos corredores da escola:

— Oi, tudo bem? Meu nome é Jéssica.

— Eu sei — respondi. — A gente já se conhece.

— Ah! Nos conhecemos? — ela pareceu desconcertada com a gafe por um segundo, (apenas um segundo), depois voltou a esboçar o seu lindo sorriso como se fosse a solução de todos os problemas do universo, voltando a falar. — Eu te vi jogando. Você é ótimo, sabia?

— Obrigado — não sabia ao certo o que responder.

— Então. É que eu queria te convidar. Hoje vai ser a minha festa de aniversário no boliche da cidade, conhece?

— Sim, claro, conheço — basicamente, há muito tempo que praticamente todas as festas de aniversário das garotas ricas e bonitas ocorrem naquele boliche. Não me pergunte o porquê.

— Eu gostaria muito que você fosse — Jéssica disse, dando três passinhos na minha direção. O reflexo natural quando uma pessoa chega tão próximo de você é dar um passinho para trás também, mas por algum motivo (talvez o perfume dela), permaneci parado no mesmo lugar, ficamos muito perto um do outro. — Você vai, né? Hoje à noite?

— Estarei lá — respondi fazendo todo esforço do mundo para não encarar o seu decote.

Mal sabia que tinha acabado de aceitar um convite que mudaria a minha vida para sempre.

***

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A VIDA DESENCAIXADA DE ICK FERNANDES (história completa)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora