Vinte e Sete Mil Dólares

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A sala do escritório onde Jimin passava seu dia não era tão espaçosa quanto a de Yoongi, no último andar, com uma vista majestosa para o resto da cidade e artigos caros espalhados por todos os cantos. A dele tinha uma janela grande, um aquecedor que funcionava bem e não o decepcionou durante o inverno inteiro, uma televisão onde ele via as notícias e fingia prestar atenção na cotação da bolsa – um disfarce, era sua desculpa –, um sofá aconchegante, e, acima de tudo, tinha seu melhor amigo o fazendo companhia das dez da manhã até às cinco horas da tarde.

Jimin gostava de acordar cedo, sempre gostou. Era um conforto ver o céu ficando claro aos poucos enquanto ele segurava uma caneca quente ou de chá, ou de café, ou até mesmo de chocolate, olhando o dia nascer através da janela de sua cozinha. Às vezes, deixava uma canção escapar de seus lábios enquanto andava de um lado para o outro preparando algo para comer, sempre voltando para sua bebida, sempre procurando se manter aquecido, até mesmo durante o verão. Costumava ser melhor ainda quando tinha a companhia de sua mãe, na época da escola, porque a mulher também o ajudava com as músicas e acordava tão cedo quanto ele. Agora, fazia aquilo tudo sozinho em seu apartamento, mas não deixava de ser uma rotina agradável.

Um hábito que ele havia adquirido depois do ano novo era o de pegar sua nova caneca, colocá-la no assento ao lado do seu no carro, e ir até seu escritório bem antes da bolsa abrir, apenas para ter alguns minutos de paz. O nascer do sol da sua cozinha era muito bonito, isso ele não negaria, mas se sentia na obrigação de admitir que a paisagem dos arranha-céus que via da janela de sua sala era de outro mundo. Naquele dia especificamente, o sol brilhava com força no céu, fazendo seu trabalho de esquentar Jimin no inverno que castigava Seul. Seria um dia bom, ele estava confiante. A temperatura estaria um pouco mais alta em relação à última semana, e tudo que ele queria era se sentar em sua cadeira, tirar seus sapatos e beber um chá enquanto apreciava a vista.

Jimin ficava segurando a caneca com as duas mãos, os pés apoiados em cima da cadeira, encolhido enquanto mantinha o olhar perdido na vista, imaginando o que as pessoas dentro daqueles prédios altos estariam fazendo no mesmo momento em que ele as observava sem conseguir vê-las de fato. Quando focava mais na distância, vendo os edifícios que chegavam perto do céu, imaginava se Yoongi estava em uma daquelas salas no topo do mundo olhando pela janela perdido em seus pensamentos também. Na época em que ainda não o conhecia, Jimin se lembra de ter lido sua mente enquanto ele fazia exatamente o que o garoto estava fazendo naquele instante. Tudo que ambos queriam era paz dentro de suas próprias cabeças, nem que fosse por alguns minutos, e perder tempo admirando a paisagem era uma excelente maneira de conseguir isso.

A caneca que havia ganhado de Natal já estava vazia e abandonada em cima de sua mesa, mas Jimin continuava com o olhar preso na paisagem e a mente distante, porém nunca dentro da mente de outra pessoa. Uma careta se formava em seu rosto toda vez que ele pensava em como não se sentia mais tão confortável entrando na cabeça de Yoongi para fazer o que bem entendesse, não era mais como antigamente quando tudo que ele fazia era ler os pensamentos do homem apenas para tentar descobrir que tipo de pessoa ele era. Ele podia ter algumas características das quais Jimin o acusou de ter quando colocou seu plano em prática, mas Yoongi não era aquilo. Depois de passar tanto tempo vendo quem ele era sem um filtro para impedi-lo de se esconder por trás de mentiras, Jimin percebeu que Yoongi era uma boa pessoa, talvez não do jeito que ele queria que fosse, mas, mesmo assim, não deixava de ser. E muito provavelmente era aquilo que estava o fazendo mudar quanto ao conforto que sentia ao invadir a mente do mais velho.

Enquanto pensava em como faria para continuar ganhando na bolsa passando menos tempo dentro da cabeça de Yoongi, Jimin não notou que a porta de seu escritório se abriu mais cedo que o normal, imerso demais na paisagem e em suas preocupações para perceber que agora ele tinha a companhia de Namjoon. Não ouviu os passos se aproximando, não ouviu quando sua caneca foi tirada de cima da mesa para ser observada pelo amigo, e só reparou que não estava mais sozinho quando ouviu uma voz familiar chamar seu nome, quicando na cadeira com o susto que havia levado.

Kospi {yoonmin}Where stories live. Discover now