Catorze Mil Dólares

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Hoseok tinha plena consciência de que esse tipo de coisa só acontecia em desenhos animados, mas ele não conseguia ignorar a sensação de que, constantemente, havia duas pessoas em miniatura pesando em seus ombros, uma angelical, sussurrando bondades em seu ouvido, e a outra o próprio diabo, incentivando-o a fazer coisas das quais ele tinha certeza de que se arrependeria depois.

Em sua imaginação fértil, ele conseguia ver o diabo sussurrando em seu ouvido para ele convidar Seokjin para entrar, porque tanto o próprio Hoseok quanto o outro homem conseguiam sentir a tensão no ar. Mas o anjo, representação de seu peso na consciência, diria que era melhor deixar aquilo para um outro dia, quando ele arrumasse coragem para contar para Seokjin que ele não era só um dançarino, da mesma maneira que Namjoon havia dito. Não sabia se conseguiria. Seria capaz de colocar tudo por água abaixo se o fizesse, e não estava disposto a perder nem sua evolução, nem aquela relação que se construía com o homem mais velho. Chegava a ser incômodo o jeito como ele queria Seokjin por perto, e como queria beijá-lo, abraçá-lo, agarrá-lo no meio do mercado porque ele não conseguia se controlar perto dele.

"Te vejo qualquer dia desses?"

'Sim', era o que o anjo em seu ombro direito dizia, com um sorriso bondoso no rosto para ajudá-lo a seguir o caminho certo. 'Chame-o para entrar', era o que o diabo dizia em contrapartida, tentando convencê-lo a fazer o que ele tanto queria, mesmo que soubesse que, no fundo, seria errado. Estava mentindo para Seokjin, e não se sentia bem fazendo isso, apesar de se sentir bem ao lado dele em todos os outros momentos em que estavam juntos. O beijo na roda gigante, todos os outros beijos que eles trocaram quando, por acaso, Hoseok foi jantar no apartamento de Seokjin e depois foi embora com borboletas voando no estômago... Tudo aquilo o fazia se sentir novo, como não se sentia havia tempos. Mas o peso da mentira o impedia de aproveitar o possível relacionamento desenfreadamente, sem ter que pensar nas consequências de suas ações.

Ainda com sua imaginação fértil, Hoseok conseguiu se ver espantando o anjo que tentava o fazer seguir o caminho certo, o da sinceridade, enquanto dava ouvidos ao diabo que o dizia para puxar Seokjin pela gola de sua camisa, juntando seus lábios de forma bruta, caminhando em direção ao quarto de Hoseok tropeçando nos próprios pés. Ele piscou os olhos algumas vezes, umedecendo a boca enquanto tomava coragem para fazer o que queria.

"Não," Hoseok murmurou, fazendo Seokjin franzir o cenho. "Não, não."

"Não?" Seokjin perguntou e engoliu em seco, com medo do que aquele não poderia significar. Era um fora? Podia ser, ele não ficaria muito surpreso se fosse. Às vezes sentia como se Hoseok estivesse um passo atrás dele durante tudo que faziam. "Não nos vemos depois?"

"Não," Hoseok negou de novo, mas dessa vez puxou Seokjin pela gola da camisa assim como o diabo em seu ombro havia o instruído, unindo seus lábios e fazendo um suspiro escapar de suas gargantas. "Fica." Hoseok os separou e alternou o olhar entre a boca rosada de Seokjin e seus olhos confusos, respirando fundo e pensando no que estava fazendo e em suas consequências. "Eu quero te ver mais agora mesmo."

Eles não sabiam dizer exatamente como chegaram no quarto de Hoseok sem tropeçar e alguma coisa no meio do caminho, mas conseguiram, e não perderam tempo em tirar suas roupas para voltarem a se beijar o quanto antes. Estavam apressados, querendo mais do corpo um do outro logo, e trocando olhares que seriam capazes de criar uma trilha de fogo por suas peles. Seokjin era mais forte do que aparentava, segurando Hoseok por baixo de suas coxas e o imprensando contra a porta, calafrios subindo por suas espinhas de forma tão rápida que quase os deixaram tontos. Era intenso, rápido, e Hoseok nunca agradeceu tanto por ter tomado uma decisão que no futuro seria ruim, mas no presente era ótima.

Hoseok acordou na manhã seguinte com o cheiro de comida o convidando a sair da cama, e, quando colocou os pés dentro da cozinha, precisou conter um suspiro ao ver as costas nuas de Seokjin em frente ao fogão enquanto ele murmurava uma canção qualquer. O anjo em seu ombro o encarava de cenho franzido, querendo o dizer o quanto aquilo tudo era errado e como ele precisava acabar com aquilo de uma vez por todas ou precisava contar a verdade, mas o diabo estava batendo palmas, assoviando, gritando 'homão da porra', e Hoseok precisava concordar. Aquilo era uma visão, das bem boas. Que se dane o peso na consciência, ele podia pensar naquilo depois, agora aproveitaria para comer a comida de Seokjin e talvez ocupar sua boca com outras coisas também.

Kospi {yoonmin}حيث تعيش القصص. اكتشف الآن