Capítulo 10

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Megan

    Estava sentada no meu escritório, de frente ao computador, com o pensamento longe. Era incrível, deveria estar me sentindo feliz de estar novamente ali, mas não sentia absolutamente nada.
       Escuto batidas na porta, minha secretária a abre com um pouco de receio, a olho com pouca vontade, esperando que falasse logo o que queria.

- Com licença.- Diz.- Senhor Richard está na linha e gostaria de falar com a senhora, posso passar a ligação?

- Passa.- Respondo revirando os olhos.

     Não demora muito para o telefone tocar, encaro o telefone, respirando fundo antes de atender.

- Alô.- Falo atendendo.

- Pelo jeito você já me esqueceu.- Diz ele indo direto ao ponto.- Você não sai da minha cabeça.

       Sorrio, segurando uma gargalhada, que idiota, todos sempre com a mesma historinha.

- Você tem mulher e filho, isso seria errado.- Digo, me fazendo de boa moça.

- E você se importa com isso?- Pergunta.

- Nenhum pouco.- Falo sedutora, olhando para o relógio.

- Ótimo.- Diz.- Então o que me diz da gente se encontrar hoje a noite?

        Sorrio, outro para a minha lista, que babaca, todos iguais.

- As 19:00 horas te encontro na rua atrás de sua empresa.- Digo entediada.

- Perfeito, mal posso esperar.- Fala contente.

- Preciso desligar agora, tenho um monte de coisas para resolver ainda.- Falo.- Nos vemos a noite.

- Com toda certeza, beijos linda.- Diz.

      Desligo o telefone, respiro fundo, como esses homens eram previsíveis, nenhum deles pode ver um rabo de saia que já vão atrás feito um cachorro. Mas confesso que me divirto com todos eles, mesmo já sabendo que são todos idênticos.
       Pego minha bolsa e a chave do carro, precisava comprar um vestido para o baile beneficente de amanhã, e aproveitaria para me distrair um pouco.
       Dirijo sem pressa até o shopping, já resolvi tudo o que tinha para resolver na empresa, então não pretendia voltar mais hoje. Vou em algumas das minhas lojas preferidas olhar alguma coisa, mas não tinha nada do meu agrado.
        Quando finalmente encontro, decido parar para descançar e tomar um suco. Me sento em uma mesa, fazendo o meu pedido.
         Por um momento fico ali parada observando a movimentação, era tão estranho tudo aquilo, as vezes me sentia como se não fizesse parte desse mundo. Todas as pessoas pareciam ser felizes, pareciam sempre estar motivadas, e eu ali me perguntando como elas conseguiam ser assim, de onde tiravam toda essa vontade de viver.
          Vejo uma mulher e um garotinho se sentar na mesa ao lado, o garotinho estava feliz segurando uma sacola com presente. Observo melhor a mulher, já a vi em algum lugar, sim, a vi uma vez no jornal ao lado de Richard, ela é a sua esposa.
        
- Mamãe, estou com saudades do papai.- Escuto o garoto falar.- Será que ele vai gostar do presente que compramos para ele?

- Acho que sim meu amor.- Diz ela sorridente.

- Ele não vai precisar ficar na empresa até tarde hoje, né?- Pergunta triste.

- Vamos torcer para que não.- Fala a mulher acariciando seus cabelos.

- Queria que ele tivesse mais tempo para a gente.-. Diz pensativo.- Eu amo tanto vocês dois.

      Fecho meus olhos com força, sinto algo estranho dentro de mim, precisava sair dali. Deixo o dinheiro do suco na mesa, sem nem mesmo ter o tomado, pego minhas coisas e saio apressadamente, indo até o meu carro.
        Me sento no banco, encostando minha cabeça na direção, estava me sentindo péssima. Ligo o carro, precisava ir para casa, precisava ir para o meu quarto, precisava fugir do mundo e ficar apenas eu e o meu vazio. Aquelas palavras me atingiram lá dentro, aquele garoto, eles eram uma família, coisa que eu nunca vou ter.
       
        Chego em casa, entro sem nem olhar para os lados, me esbarrando em alguém, rapidamente me agacho para pegar todas as minhas coisas que deixei cair.

- Perdão, culpa foi minha.- Escuto Dylan falar, me ajudando a recolher minhas coisas.

        Por um momento até tinha me esquecido que essa criatura tinha vindo junto para Nova Iorque. Pego minhas coisas rapidamente, subindo sem o responder, afinal, estava sem ânimo para isso.
       Largo minhas coisas em um canto, me jogando na cama, agora estava em meu refúgio, agora conseguia respirar melhor. Talvez o melhor a se fazer era ficar ali mesmo.
       
- Megan, já em casa querida?!- Fala Donna entrando.

- Poisé.- Digo apenas.

         Donna se senta na cama, me observando preocupada.

- O que aconteceu?- Pergunta já percebendo.

      Respiro fundo me levantando, caminhando até a janela.

- Nem eu sei, e odeio me sentir assim.- Digo cruzando os braços.

- Não se odeie por isso, querida.- Fala.- Eu estou aqui para tentar te ajudar.

- Ninguém pode me ajudar, e não sei porque vocês todos ainda insistem nisso.- Digo nervosa. - Eu sou uma pessoa horrível, sou incapaz de fazer alguém feliz, sou incapaz de ter uma família como as outras pessoas têm, então parem de ficarem se iludindo.

        Donna me olha por alguns segundos, podia ver as lágrimas em seis olhos, dou as costas.

- Não diga isso.- Fala me abraçando.- Você é capaz de tudo, você se tornou numa mulher tão forte, e eu me orgulho de você por isso.

- Forte?- Questiono dando uma risada cínica.- Quantas dores, quantos machucados não curados você tem que guardar para si mesmo para ser forte?- Digo a olhando.- Se eu soubesse que para ser forte teria que ser assim, eu nunca teria aceitado ser.

- Não fala assim.- Pedi, deixando as lágrimas caírem.- Nós te amamos muito.

- Me deixa sozinha Donna.- Digo me afastando.

            Escuto seus passos se afastarem, e lentamente a porta se fecha, sinto um nó na garganta se formar, mas não iria chorar, não mesmo.

Jogadas do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora