Capítulo 113

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Observei Charlie bem quietinho nos braços de Anthony e percebi que havia se passado um tempo desde que ele me disse algo em italiano. Respirei fundo e desvio o olhar do pequeno bichinho.
Será que Charlie não poderia ter ficado em casa só por hoje ?
- a única coisa que eu entendi foi sobre o gato, e sim, Charlie é meu. - cruzo os braços e encontro seus olhos curiosos me medindo de cima a baixo. - mas eu acho que você já sabia disso, não é ?
- tem informações demais na coleira dele, não acha ? - ele solta o gato no chão e Charlie entra devagar, passando o rabo em meus calcanhares. - endereço, nome e algo que me animou muito, o seu telefone.
- o que você quer ? - suspiro pesado e ajeito os óculos.
- o que eu quero ? - ele olha o céu, na tentativa de fazer seus neurônios funcionarem e volta a me olhar. - se me deixar entrar eu posso mostrar a você.
Estico os braços e coço a nuca, o coração acelerado, o sangue correndo rápido por minha veias e o ar se tornado pesado. Os olhos azuis ferozes e zombeteiros, os lábios rosados em um sorriso de lado, o braço direito, agora escorado no batente da porta.
- vá embora e eu finjo que você não falou isso. - dou um passo para trás.
- e seu eu quiser que você fale ? Que diga ao meu Caro fratello ( querido irmão ) o que eu tentei corromper a flor vermelha dele.
- não vou ser uma peça nesse seu jogo sádico Anthony, e sugiro que você saia daqui, meu avô não gosta de visitas inesperadas. - faço minha melhor cara de deboche e sorrio de lado quando vejo mais ao fundo meu avô chegando devagar.
- você é difícil ruiva. - Anthony enfia as mãos nos bolsos frontais do jeans e faz um bico com os lábios por alguns segundos. - confesso que vai ser divertido te ter por perto.
- some daqui Grayson.
Ele gira os calcanhares e sai bem devagar, olhando os arredores e parando derepente.
- espero te ver no jantar amanhã Mia.
Arregalo os olhos e meu avô me olha confuso por ver Anthony, saindo do nosso gramado, ao invés de Andrew. Vejo quando vovô se aproxima, agora  com um pouco mais de pressa, e ajeita os óculos redondos sobre o nariz.
- já não bastava um, agora vou ter que aturar dois Grayson's na minha casa Mia ? - seu tom sai sério, mas sei que ele está se questionando sobre o por que de Anthony estar aqui depois de quatro anos.
- ele só veio trazer o Charlie vovô, vem, eu fiz o jantar.
- ótimo, e enquanto ao Grayson, diga para manter o irmão longe de você. - ele cerra os olhos. - esse Anthony cheira a problema.
Anthony Grayson é o problema em pessoa.

" "

Dentro da biblioteca de meu avô, procuro devagar entre os exemplares de Shakespeare algum que eu ainda não tenha lido.
Romeu e Julieta
Sonho de uma noite de verão
Hamlet
A tempestade
Julio Cesar
Todas eu já li pelo menos uma vez, então, o que me resta é : comprar um livro novo de Shakespeare ou ler novamente algum desses exemplares aqui. Ainda de cabeça quente por conta das palavras de Anthony, decido deixar a escolha para amanhã. Apago a luz e saio, fechando a porta atrás de mim e esticando os braços, apago a luz da sala de jantar e caminho devagar e com preguiça até o sofá. Vovô está assistindo a um programa de prêmios na televisão, os olhos fixos na tela grande. Me sento ao seu lado e deito a cabeça em seu ombro.
- como foi a fisioterapia ?
- cansativa, mas valeu a pena.
- e a aula de pintura, conseguiu adiar para quando ? - a mulher na televisão dá uma dica aos participantes sobre o preço da lava louças.
- para quarta que vem. - ele diz baixo, prestando atenção nos lances dados.
- Andrew queria lhe fazer um convite.
- que tipo de convite ?
- Jen vai fazer um jantar amanhã para festejar a volta do filho mais velho, fora que os pais dele querem conhecer o senhor. - o homem loiro na televisão acerta o lance e vibra ao ganhar a lava louças.
- tudo bem.
- obrigada vovô.
- eu faço qualquer coisa por você Mia.
- o senhor falando assim, parece que está fazendo um sacrifício ! - rio baixo.
- é só um modo de me expressar, não dificulte as coisas.
- tudo bem.
O programa chega ao fim em menos de quinze minutos, o homem loiro ganhou quase o necessário para criar uma loja de móveis e eletrodomésticos. Vovô permanece calado ao meu lado, os olhos quase de fechando e os óculos um pouco caídos na ponta do nariz.
- vamos, o senhor precisa descansar.
Ele resmunga algo que eu tentei não decifrar e me levanto, o segurando pelo braço e o puxando para se levantar. Vovô respira fundo e se apoia em mim, normalmente ele não fica tão cansado depois da fisioterapia, mas hoje, particularmente, ele está um pouco mais sonolento. O ajudo a subir a escada e dar os passos até o corredor, abro a porta de seu quarto com o pé esquerdo e o levo para dentro. Ele se senta na cama enquanto eu retiro as almofadas verdes de cima dos travesseiros, as costas curvadas levemente para frente só me mostram que preciso conversar com os médicos responsáveis pelos exames, com um dos braços puxo vovô parara trás e ele se deita, jogo uma das cobertas sobre suas pernas e as puxo até o pescoço. Pego seu óculos e os deixo sobre o criado mudo de madeira escura, ele me encara um pouco sonolento.
- obrigada Mia.
- não tem o que agradecer vovô, boa noite. Eu te amo.
- também te amo minha neta.
Deixo um beijo em sua testa e acendo a luz do pequeno abajur, apagando a luz ao sair do quarto e deixando o corredor escuro ao entrar no meu. Retiro o chinelo dos pés e com um elástico, prendo os cabelos em um coque no topo da cabeça. Avisto o celular em cima da cama e o apanho depressa, desbloqueando a tela e encontrando a seguinte mensagem :

Fique o mais longe possível de Anthony, ele vai tentar te usar para me atingir e eu juro por tudo o que é mais sagrado, que se ele te machucar de alguma forma, vai encontrar o inferno mais cedo do que esperava.
Andrew ❤️.

Obrigado pelo aviso meu amor, mas acho que seu irmão está pouco se fodendo para o que você pode fazer contra ele.

GraysonOnde as histórias ganham vida. Descobre agora