Capítulo 106

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Aproveitei para tomar um banho enquanto a torta assa e me pego fitando o espelho do banheiro, ainda com a toalha enrolada em meu corpo. Seguro a toalha com força para talvez, só talvez, tentar não pensar em esclarecer minha dúvidas fazendo um questionário ao senhor Scott amanhã. Descobrir o por que dessa merda de trabalho estar mexendo tanto comigo, ainda mais depois do que aconteceu comigo, do que aconteceu com a amizade de Andrew e Daniel e de como eu me sinto culpada por ter criado, de certa forma, toda essa situação.
Apago a luz do banheiro ao sair e entro no closet, prendendo a ponta da toalha com uma presilha para poder pegar um pijama decente. Apanho uma lingerie amarela e um pijama branco composto por short e camisa de manga comprida cheia de desenhos de planetas aleatórios. Retiro a presilha da ponta da toalha e o tecido cai ao chão,o empurro com o pé esquerdo e começo a me vestir.

" "

- a torta está maravilhosa vovô. - levo o garfo até minha boca, mordendo um pedaço da fatia.
- fizemos um bom trabalho Mia. - ele sorri fraco e volta a comer.
- amanhã o senhor vai ficar o dia inteiro fora ?
- não sei, vou ver se consigo faltar a aula de pintura essa semana, a sessão de fisioterapia já vai ser cansativa o suficiente.
- Carla parece ser gentil com o senhor, ela é uma das melhores fisioterapeutas do país.
- Carla é gentil e atenciosa, tem que ser mesmo depois do cheque eu levo para ela todo mês. - ele ri quando diz a última palavra.
- realmente, a saúde tem seus preços. - como mais um pedaço.
- sim, mas eu preciso viver mais uns vinte anos então, Carla é minha melhor alternativa para poder ver você se formar e se casar, quem sabe até me dar um bisneto.
- vovô, não pense demais no futuro tudo bem, sem crianças nos planos por enquanto.
- ah okay, mas eu quero bisnetos assim que você se casar.
- ah claro, quer escolher o nome deles também ? - deixo o garfo no parto e o encaro rindo.
- que tal Conrad Collins II e Elizabeth Collins.
- seu nome e o da vovó ? Sei não, me parecem meio antiquados. - prendo a respiração para não rir escandalosamente.
- são nomes de época e refinados, não ache graça disso.
Vovô me encara sério mas logo depois da uma risada baixa e melodiosa, sendo contagiada pelo seu riso me ponho a rir também, pensando em como meus filhos iam me odiar por lhes dar nomes do século passado.
Comemos o resto do jantar conversando sobre os planos para o baile de boas vindas e em como eu estava na escola, explico a ele sobre minha rotina na escola e recolho os pratos para lavar e deixar no escorredor.
- eu vou deitar Mia, esperar a comida digerir um pouco e ir dormir.
Com as mãos cheias de sábado, me viro para olhar em sua direção. Meu avô parece mesmo cansado da viagem, os olhos estão um pouco mais fundos e o rosto está um pouco mais velho. Ainda com a fisioterapia amanhã, ele vai ficar mais cansado.
- vá e descanse vovô.
Ele vem até mim e deixa um beijo em minha testa.
- boa noite Mia.
- boa noite vovô, durma bem.
- você também.
Vovô se vira e se põe para fora da cozinha, com o olhar, o acompanho até às escadas e só volto a lavar os pratos depois que ele desaparece da minha visão.
Depois de enxaguar o último prato começo a secar as mãos no pano pendurado no gancho, procuro o celular no bolso e me lembro que o deixei em cima da cama quando fui tomar banho. Andrew disse que me ligaria mais tarde e enquanto eu estava com o celular não houve nenhuma mensagem de sua parte, ele poderia estar ocupado.
A campainha toca e eu ando até a sala, olhando o relógio de ponteiro na parede da janela da sala.
Já são nove e quinze.
Giro a chave rapidamente e abro a porta devagar, espiando pelo vão agora existente e suspiro aliviada ao ver Andrew e seu sorriso sacana estampado nos lábios.
- achei que ia ligar. - sorrio tímida e lhe cedo passagem.
- eu liguei, seu avô me atendeu e me disse que eu podia vir aqui ver você, mas sem gracinhas.
- eu esqueci o celular em cima da cama. - rio com a ideia de meu avô atendendo Andrew a essa hora da noite.
- Eu percebi. - ele estende os braços.
- desculpe. - me afundo em seu peito e me sinto melhor quando seus braços me apertam contra si.
- eu estava com saudades ruiva.
- eu também amor.
O cheiro amadeirado de seu perfume impregna a camisa branca.
Eu ficaria bêbada somente por sentir esse cheiro.
Mordo meu lábio e aperto meus braços em volta de sua cintura, tenho certeza de que ele não sentiu muita coisa, os músculos do abdômen são tão fortes e definidos quanto os dos braços e pernas.
- já jantou ? - pergunto me impulsionando para trás, o soltando.
- já sim, obrigada.
Pego em sua mão direita e o levo até o sofá de dois lugares, nos sentamos e deixo minha cabeça cair em seu ombro.
- sente falta de Daniel ? - pergunto baixo, segurando a bile na garganta.
- o que ?
- sente falta do seu melhor amigo ? - vou para frente e encaro seu rosto.
Os olhos verdes amendoados cerrados, o maxilar um pouco mais enrijecido e os lábios em duas linhas finas.
- você não entende né ? - suas mãos se juntam e ele entrelaça os dedos, deixando os punhos fechados em cima das penas. - Daniel tentou se aproveitar de alguém que é menor, mais frágil do que ele. Acha que eu iria sentir falta de alguém que não sabe ouvir um não de uma garota? Que pensa que se pode se livrar de qualquer coisa por ter dinheiro no banco ? Nós éramos melhores amigos Mia, se ele em algum momento sentiu algo por você que passasse de vontade de te irritar era só ter falado comigo. Não precisava fingir que te odiava esse tempo todo e finalmente quando eu resolvo me aproximar tentar te acatar e te ter a força. Amigos contam as coisas e Daniel escondeu de mim que tinha sentimentos por você e fez algo que nem eu mesmo acreditava que ele seria capaz até ver vocês dois naquele dia.
- como sabe que ele sente algo por mim ? - ignoro tudo o que ele disse antes.
- não estava óbvio ? Ele sempre te irritava, sempre tentava te fazer se sentir menor, sempre fazia da sua vida um inferno e tudo isso por que ? Você era a única garota que não estava rastejando aos pés dele Mia, assim como nunca rastejou aos meus pés também. A única diferença entre nós dois é que eu decidi lugar por você depois daquele beijo e Daniel, decidiu te ter da forma mais nojenta e repugnante possível. Como acha que eu me senti quando o vi te cercando aos poucos ? Meu melhor amigo tentando tirar de mim a única coisa que eu realmente quis na vida ?

GraysonOnde as histórias ganham vida. Descobre agora