Prólogo

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Um mês antes

Avril sabia muito bem que J.A.R.V.I.S. gostava de atormentar sua vida, só que existia um limite, e o dela era colocar o som mais irritante possível de alarme pela manhã. Para sua surpresa, Steve sequer se incomodava, sempre se levantando depois de alguns momentos e se espreguiçando, devolvendo com simpatia os desejos de bom dia que o sistema lhe dava. Avril, por sua vez, apenas puxava o lençol sobre a cabeça e posicionava o travesseiro do soldado como um escudo para que a luz que atravessava as janelas não chegasse a seu rosto, fingindo que não existia até que Steve liberasse o banheiro e dava início à operação "fazer com que Avril saísse da cama".

- Av... – ele cantarolava, se sentando na beirada da cama, próximo o suficiente para conseguir alcançar a cintura da mulher, apertando a região com as pontas dos dedos para que ela se contorcesse – Vai, levanta ou vou deitar em cima de você. Ambos sabemos que isso nunca termina bem para nenhum dos dois...

- Mais cinco minutos – pediu em um bocejo interrompido por risadas, segurando os pulsos do homem para fazer com que ele parasse, girando o corpo para outra beirada da cama, fazendo com que ele caísse ao seu lado – E já disse que não foi minha culpa você ter caído. Você é pesado e estava me sufocando, não percebi que tinha te empurrado em direção da cômoda...

Steve riu baixo em concordância, satisfeito ao ver a mulher se encolher surpresa depois de um beijo no pescoço.

- Cinco minutos então. J.A.R.V.I.S. vai estar contando, não vai, J.? – o soldado se deu por vencido, se distanciando da mulher e logo se pondo de pé.

- Estarei, senhor.

Resmungando baixo quando já estava sozinha no quarto, Avril esticou o braço para pegar seu celular ao lado da cabeceira da cama. Já fazia um certo tempo que o aparelho lhe fora devolvido, mas evitava mexer nele por estar sempre na companhia de alguém. Era um costume antigo seu sempre checar a Linha do Papai – um canal seguro para momentos de emergência, que impossibilitava qualquer tipo de rastreamento –, mas não fizera isso desde que voltara para a Torre depois da temporada sobre o controle da HYDRA por um simples motivo: com certeza deveria ter algumas mensagens de Tony e Clint na esperança de que ela teria conseguido fugir de quem quer que fosse seu sequestrador, e todos haviam entrado em um acordo de que era melhor ela não ouvir nada daquilo. Ainda era algo muito recente, e com a recuperação lenta que estava tendo, poderia pôr tudo a perder. Já Avril não concordava com aquilo tudo, por isso acessou a linha na primeira oportunidade que teve.

A primeira gravação era de Clint, algo padrão e codificado. Pedia alguma forma de contato, algum sinal de que ela estava bem e em segurança. Claramente fora uma medida desesperada, já que o protocolo seria ela enviar alguma mensagem a ele, coisa que nunca aconteceu. Depois vinha uma mensagem de Tony, praticamente um mês depois de seu sequestro pelo que entendera, sem nem um pouco do tom profissional que o arqueiro tentara fingir na sua mensagem. Pela sua voz mole e arrastada, provavelmente já tinha bebido demais, e talvez tivesse a esperança que ela magicamente teria acesso àquela mensagem, retornando a ligação em seguida. Um aperto insistente em sua garganta avisou Avril de que talvez os outros estivessem certos, que ouvir aquilo não lhe faria bem nenhum, mas mesmo assim ela continuou. Não planejava tão cedo estar em uma situação que aquele canal fosse necessário, mas era melhor manter ele limpo.

A mensagem seguinte era em um código de toques estranho que ela não entendeu em um primeiro momento, o que a fez xingar o próprio nome por aquela linha não permitir repetições, e que definitivamente não era de nenhum dos Vingadores. Com aquilo ainda fresco na memória, ela se pôs a repeti-lo, tentando reconhecer o seu padrão para decifrá-lo. Depois de repeti-lo umas cinco vezes, e aquele incômodo no peito apenas se intensificar a cada tentativa, que Avril tanto o reconheceu como também decodificou.

Espero que você consiga um dia voltar para casa.

Era um sistema de códigos da HYDRA, tão antigo que eles sequer o usavam mais. A mensagem seguinte também apresentava o mesmo código, constituindo-se de uma sequência numérica de onze dígitos. Com a respiração travada da garganta, Avril decorou os números, os digitando com agilidade depois de fechar aquela linha, mas não antes de garantir que aquela ligação não poderia ser rastreada. Ela apertou o botão de chamada.

Quando sua mão trêmula conseguiu finalmente levar o aparelho ao ouvido, a ligação já estava no meio do terceiro toque, sendo atendida apenas no sexto. Seu coração batendo forte contra as costelas em expectativa talvez pudesse ser ouvido do outro lado da linha, onde o silêncio predominava. Quem quer que fosse, assim como ela, também prendia a respiração, sem saber o que fazer.

- Sim? – respondeu a pessoa do lado da linha, a voz baixa e grave, com um leve ruído de sua respiração pesada batendo no microfone. Avril no mesmo instante ofegou, levando a mão livre à boca para tentar abafar qualquer som surpreso que ainda poderia vir a produzir. Só havia uma pessoa que ela poderia esperar usar aquele código, e aquela voz ela poderia reconhecer em qualquer lugar.

- Bucky?

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N/A: SE NÃO É PRA CHEGAR CAUSANDO EU NEM MANDO CONTINUAÇÃO.
PS: Na cronologia certinha, essa cena é o começo da cena final do 39, quando a Valerik invade a Torre. Boa bad pra vocês.

The Real Side II: Dark TimesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora