você é feito de açúcar, docinho

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Meus olhos abertos arrancam-me do sono. Gotas pesadas d'água tamborilam na janela fechada do quarto, fazendo-me pensar em quando foi que tivera sido fechada, visto que na noite anterior o vento surrupiara toda a suíte. Respiro fundo, sentindo o ar fresquinho percorrer a parte superior nua do meu corpo. Acordei por intermédio do galã ao meu lado, afastando-se do toque acalentador da minha mão antes pousada no seu quadril. Parece que o efeito do pozinho mágico se foi.

Ele se levanta, agarra o prendedor, prende a franja e ajeita o short no corpo. Observo-o caminhar até a janela, olhar para o lado de fora enquanto respira fundo. Eu queria tanto, mas eu queria tanto que fôssemos perfeitos um para o outro. Mas é foda amar em dobro. Não posso fazer isso mais.

— Meu corpo está dolorido — comento baixinho, espreguiçando-me sob as cobertas. Minha cabeça alcança o travesseiro de Ten e aqui tem o cheiro dele. Flores, baunilha e mel. Eu odeio gostar dele.

— E seu joelho? — vira-se para mim, abraçando-se.

Afasto o cobertor do corpo e dou uma olhada no meu joelho. Bom, aparentemente nenhuma paleta da Pantone pode comparar-se a isso aqui e confesso que estou assustado. Encosto o dedo e pressiono um pouco, para enfim perceber que isso é o suficiente para que doa mais. Chittaphon me olha com pena.

— Está tudo bem — asseguro.

— Tem certeza? — caminha até a cama e senta-se com cuidado. Observo-o coçar os olhos após o meu "uhum" baixinho, porém pouco convicto. — Por que não damos uma olhada nisso no hospital?

— Ah, não precisa. Eu acho que não é tão sério assim, Ten — me acalento com o doce e leve contato da mão dele no meu joelho e isso me faz lembrar de ontem e de como ele me tocou na coxa.

— Mas e se tiver quebrado algo? — ele me encara com essas suas amêndoas que, cá entre nós, é definitivamente o charme dele. Eu confesso que sou incondicionalmente apaixonado pelo formato dos seus olhos.

— Se tivesse quebrado, eu não estaria andando — respondo com cuidado, para que não soe uma grosseria. Sua mão ainda está no meu joelho. Seu toque quente no meu corpo frio arrepia-me.

Ele diz que tudo bem, então. Eu fico quieto e sigo com ele para o banheiro, pois então acabamos por escovar os dentes juntos. Ele reclama da musiquinha que cantarolo e eu reclamo do fato de ele sempre reclamar comigo. Acho que somos cão e gato. Ou gato e rato. Tom e Jerry.

Há sentimentos jorrando do meu peito. Ele sabe disso. Ele sabe que amo-o e não sei se isso é bom. Sinto-me nu, vulnerável. Sinto o medo de ser usado, sinto o medo de ser machucado e, agora percebo, que aqui estou eu sofrendo previamente. E se ele não quer algo sério comigo, por que não tornar dos nossos momentos um show de provas de que talvez apenas sair comigo e me pegar não é bem o tipo de coisa que eu mereço? Eu mereço alguém que fique comigo e quero que seja ele.

Caminhando em silêncio com ele pelas ruas parisienses, incrivelmente delineadas por uma arquitetura de tirar o fôlego e belezas extraordinárias, afundo-me no pensamento de que um de nós precisará mudar para algo dar certo entre nós dois. Hoje ele não está segurando minha mão, não está dizendo que quer cuidar de mim, não está me puxando pela cintura para um beijo.

— Posso te abraçar uma vez? — pergunto, sedento.

— Hm? — Ten vira-se para mim. Não escutou muito bem. Também, eu havia falado mais pra dentro do que pra fora.

— Nada — desvio o olhar para as placas e ele não toca no assunto.

Mas sabe qual meu erro? Meus quinhentos erros com Chittaphon foram todos os pensamentos no futuro, sobre que raios vai acontecer comigo. Se eu parasse um pouco de pensar nisso e agradecesse por ter alguém que me empurra lentilha no café da manhã e apreciasse sua companhia, com certeza estaria mais feliz. Devo parar de pensar no futuro e focar no presente. Focar em Chittaphon roubando minha xícara de café ao dizer que vou morrer de overdose.

café et cigarettes༶✎༶tae•tenWhere stories live. Discover now