você é uma gracinha envergonhado

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O foda disso tudo em relação ao Ten é que ele é um completo desinteressado. Eu sei que ele não quer algo comigo. Eu sei que ele não sabe que eu não quero querer algo com ele. E ele não sabe que eu infelizmente estou querendo. Sei lá, acho que essa merda toda começou quando ficamos jantando juntos e pude conhecer um pouco dele. Eu não me senti atraído por ele por conta do seu corpo — aliás, eu mal percebia isso. Eu me senti atraído por quem ele é, suas metas, seus defeitos. Eu me atraí pelos seus defeitos, gosto de todos eles.

Porque, cá entre nós, qualidades todo mundo vê e todo mundo gosta. Qualquer um pode gostar das minhas qualidades, mas se só fosse isso o que pudesse fazer alguém se apaixonar por mim, eu já estaria casado com Zac Efron e estaríamos nos agarrando em Maldivas num verdadeiro "piscininha amor".

O que quero dizer é que esse jeito despreocupado dele — quando eu como, claro — e esse ego sensacional me prende muito. Por mais que seja mandão, queira as coisas do seu jeito, vez ou outra chega a ser insuportavelmente subjetivo (eu gosto mesmo assim) e me force a ser do jeito que quer que eu seja... por mais que eu momentaneamente não goste disso, eu sempre gosto de estar com ele porque ele faz isso e é tão único. Pode soar confuso, mas eu gosto de não gostar de certas coisas nele. E eu procuro-o por conta delas.

— Agora vou te desmascarar... — resmungo comigo mesmo, saindo rapidamente da cama e indo até sua mala.

Me sinto um sujeito malvado ao abrir sua mala e procurar algum bastão, algum chicote ou qualquer coisa esquisita desses sex shop por aí. Eu estou imerso nessa ideia, estou doente. É possível alguém ser tão bonzinho assim e não cobrar nada em troca? Nos livros que li no ensino médio, sempre acaba em cena +18 com essas chantagens ridículas. Quero estar vacinado.

Ufa, não tem nada aqui e eu não consigo evitar me sentir culpado. Minha mãe não me criou assim e eu até que nem gostaria de ter visto suas roupas, objetos e afins. Quer dizer, é melhor eu parar por aqui. Não vou checar a segunda mala tampouco a mochila. Admito que estou sendo ridículo. Sento logo na cama e pego o iPad de Doyoung.

Ten estava certo, ele demorou bastante no banheiro. Está saindo com o rosto molhado e o cabelo pingando. Acho que ele esqueceu de levar sua roupa, então pega-a na mala e volta ao banheiro. Se bem que ele poderia ter me chamado, eu não iria hesitar. Mas deixo ele com seus motivos.

— Ei, Taeyong — ele grita lá dentro. — Troca de roupa, vamos sair.

— Mas já é noite e eu estou exausto, Ten — respondo, já tirando a camisa. Eu sei quem vai ganhar essa discussão.

— Eu estou morrendo de fome, aquela comida de avião me deixou enjoado — ele tenta me convencer. — E você não tomou café na Coréia.

— Quê? — finjo desentendimento enquanto procuro uma camisa que combine com a calça. Eu não quero trocá-la e não vou fazê-la só de pijama. — Eu tomei, sim.

— Você não comeu exatamente nada. Fumou e bebeu café, como sempre — sua voz agora está vindo bem de trás de mim, fazendo-me dar conta de que ele já saiu do banheiro.

— Por que fala com tanto desprezo? — tento relaxar ao saber que ele está parado olhando diretamente para as minhas costas nuas. Relaxa, relaxa... Eu saí da paranoia, mas a paranoia ainda não saiu de mim. Ao contrário também serve.

— Como não? — ele aparece bem ao meu lado e começa a procurar comigo, como se eu tivesse convidado-o. Seu jeitinho grosseiro de se intrometer na minha vida me dá raiva, porém gosto. Ele pensa mais em mim do que eu mesmo.

— Não sabia que você me odiava assim — resmungo. Seu braço está grudado ao meu. Surto ou surto?

— Agora deu para ser dramático? — ele é rude e levanta uma camisa de Star Wars. — Você usa roupa de adolescentes.

café et cigarettes༶✎༶tae•tenWhere stories live. Discover now