você sabe que eu só quero cuidar de você

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Que todos corram de mim, que tenham medo de mim, pois eu farei qualquer coisa para protegê-lo. As dondocas espetam-me com o olhar azedo ao sentirem meu corpo impedi-las de empurrar meu bebê enquanto entramos no vagão. Eu não me preocupo se querem disputar lugar com empurrões, mas saibam que meus braços estão protegendo Ten por uma razão e, caso acertem ele, eu vou xinga-las e não vai ser em francês porra nenhuma.

Okay, só talvez eu esteja sendo muito super protetor e Ten não gosta disso — tanto que ele tenta fugir do casulo que formo ao redor dele para que alheios não empurrem-no. Eu tenho as mais nobres intenções. Eu quero fazê-lo se sentir especial, porque ele realmente é.

Hoje não nos beijamos nenhuma vez e eu queria perguntar a um profissional se essa ansiedade faz bem. Estou sendo cuidadoso, juro. Estou sendo cuidadoso para cuidar de mim. Mas eu me vejo nesse dilema estúpido que é amá-lo sem querer. Mas eu escapo dos meus próprios cuidados para zelar por ele. Hoje não nos beijamos e continuo amando-o como Edward provavelmente amava a Bella — pois eu duvido, amigos, que aquele homem tenha convocado uma legião de vampiros para uma farsa, um teatrinho romântico.

No meio da euforia, apenas um lugar resta a nós dois. Eu, cavalheiro, gentil, apaixonado; insisto: sente-se. Mas ele: nah! Ele sempre vem com esses nah, essas caretas, essas recusas, esse chacoalhar desgraçado da cabeça e eu sou boboca pelo preto do seu cabelo, sou louco para tocá-lo e cheirá-lo. Me contenho e insisto: sente-se. E então ele: nah! Eu amo Ten.

— Vai, sente antes que alguém faça — empurro-o gentilmente pelas costas.

— Mas e seu joelho ferrado? Você que deve sentar — ele dá um passo para trás. Eu respiro fundo.

— Senta logo, deixa de besteira — forço-o a sentar-se, mas ele, atrevido, se levanta.

— Você chorou mais cedo por conta desse joelho, ô panaca, acha mesmo que vou te deixar ficar em pé? — era pra ser carinhoso? Me sinto afagado desse jeito.

— Mas você é o mais novo e o menor, então precisa se sentar — aponto para o assento.

— E o Kiko? — ah, pronto, vai me dizer agora que ele conhece tudo quanto é gíria?! — Vamos, sente logo, antes que eu chute seu joelho.

— Você é tão baixinho que, no máximo, vai chutar minha canela — eu rio da minha própria piada e escoro-me da barra de ferro enquanto Ten arremessa um olhar azedo.

— Isso não foi engraçado — ele está sério, fingindo os punhos cerrados para mostrar quão violento pode ser. — Retire o que disse.

— Só se você sentar — sorrio debochado, feliz da vida por ter usado chantagem para conseguir o que quero.

— Só se você sentar no meu colo — ele mesmo quem melhora a proposta e eu fico uns longuíssimos segundos olhando para a cara dele de "você não vai negar isso nem morto".

E, bem, cá estou eu sentado no colo dele. Não neguei nem morto, confesso que estou gostando. No início, sentei na pontinha. Mas Ten me puxou pelo quadril e eu deslizei pelo seu colo até sentir seu rosto encostar nas minhas costas. E é estranho estarmos fazendo isso em público. Mas ninguém parece ligar. E, se assim fizessem, eu e Ten seríamos que nem Bonnie e Clyde. É, sim.

Estou comportadinho sobre as coxas dele, olhando a paisagem pela janela e quase esquecendo do braço que envolve a minha cintura e os dedos que sobem e descem nas minhas costas, com cuidado e atenção. A pontinha do seu nariz roça a minha nuca e eu me arrepio, porque eu nunca que iria imaginar que Ten Chittaphon estaria me cheirando. Eu estou ficando vermelho de vergonha. Agora sinto-o acariciar o meu cabelo e isso é demais para eu lidar.

— Você sabe que eu só quero cuidar de você, né? — ele sussurra e eu tremo todo. Sua mão desce pelas minhas costas e para no cós da calça. — Hm? Você sabia disso? — ele me beija nas costas e graças a Deus eu não estou usando jaqueta e minha camisa é fina. — Só quero cuidar de você, tá bom?

— Uhum — é o que respondo, mordendo o lábio de nervosismo. Estamos em público, Ten. É melhor ele parar com isso.

Então ele me abraça por trás e eu relaxo com nosso contato. Isso é tão raro, tão precioso e único. Eu gamo inteirinho nisso e confesso que iria até a última das estações assim, só para prolongar. Mas a nossa estação chega e eu sou obrigado a levantar. Quero estar de volta no seu colo e escutá-lo dizer que quer cuidar de mim. Eu quero ser cuidado por ele. Eu quero cuidar dele.

— Vamos para uma outra linha — ele conta enquanto sigo-o no meio da aglomeração. É uma estação bastante movimentada. — Me siga.

Ele conhece Paris como as palmas das mãos. Sabe exatamente por onde ir e eu sigo-o como se ele fosse uma luz num túnel escuro. Assim que chegamos na plataforma, o trem para e nós entramos. Protejo ele outra vez, mas desta vez não há um só lugar livre. Fico em pé num canto e Ten também, embora ele fique paranoico com a ideia de me arranjar um lugar.

— Quê? Não precisa, eu estou bem — torço o nariz e cruzo os braços.

— "Ai, eu tô morrendo, Ten" — ele faz uma voz grave e revira os olhos ao me imitar. — Vê se engana outro.

— Esquece isso — abano minha mão no ar. — Você não vai me abraçar?

— Você não está merecendo — ele me dá língua e se vira para olhar através do vidro da porta. Eu rio, porque ele estava fazendo isso agora há pouco e agora decidiu se fazer de difícil. Pior que nem tem espaço para ficarmos grudados. O que é uma pena.

Estou admirando-o quando o trem para e a voz da moça no alto-falantes anuncia qual estação estamos. Ele arregala os olhos e se apressa em dizer que é a nossa, é a qual vamos descer. Ele consegue desviar rapidamente dos cidadãos que impedem-o de sair, mas eu estou lento e debilitado devido ao meu joelho e acabo por não conseguir tal façanha. A porta se fecha na exata hora que vou sair e a velocidade do veículo ganha corpo e proporção.

Puta merda. Eu me perdi de Ten. Ele saiu. Eu fiquei. Eu não sei para que merda de lugar eu estou indo e, se Ten não está comigo, nenhum lugar é legal. Eu estou irritado, porque tinha três parasitas me impedindo de passar e mesmo que eu tenha dito excuse moi trezentas vezes, ninguém se mexeu a tempo. Maravilhoso e lindo eu estar perdido aqui.

Queria poder ter sido mais rápido, eu não sei se consigo pegar outro trem e encontrá-lo onde ele está. Porque eu não sei onde ele está. Mas quando eu era pequeno, minha mãe dizia que, caso eu me perdesse, era melhor eu ficar no mesmo lugar e esperar ela aparecer. Então eu acho que vou descer na próxima estação e esperar Ten aparecer. Eu espero que ele apareça logo.

É o que faço. Saio na outra estação e procuro um banco para me sentar. Checo o horário e observo as pessoas indo e vindo. Eu espero que ele apareça. Eu não gosto de me sentir perdido e desamparado. Não gosto de me sentir dependente, mas sou. Preciso dele para inúmeras coisas, não só para andar pela cidade livremente. Eu preciso dele para manter o meu sorriso. E eu estou mofando nesse banco preto e duro. É provável que a noite chegue e Ten não meta as caras aqui.

Toda vez que um trem para, eu procuro-o cheio de expectativas. Mas só tem gente comum; homens, mulheres e crianças, nada do meu Chittaphon. É o segundo trem que para, e mais uma vez ele não aparece. Eu cedo num banco vazio, suspirando. Daí vem o terceiro e eu resolvo moscar aqui.

A mesma aglomeração de pessoas apressadas, entrando e saindo dos vagões. Eu me sinto um intruso aqui, no meio de pessoas desconhecidas falando coisas desconhecidas. Eu me sinto deslocado.

Me basta só sentir braços ao redor dos meus braços e um queixo tailandês sobre meu ombro e já me sinto em casa outra vez. Ele está inspirado em me abraçar por trás hoje e eu estou amando. Sinto-o me apertar, sinto seu rosto escorregar para a curva do meu pescoço.

— Você me deixou preocupado, estrupício — ele resmunga. — Vê se não fica lerdo.

Eu rio.

café et cigarettes༶✎༶tae•tenOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz