SPRITE & LE JARDIN FÉÉRIQUE

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[20.06.19]

Havia pouco mais de uma semana que Jeongguk se mudara para o apartamento. Tentara participar de três entrevistas até então, mas todas lhe causaram ansiedade por perceber que havia sido um desastre como possível candidato e que certamente não seria chamado. Havia dois dias que fizera a entrevista de emprego no café e não estava lá muito esperançoso.

Naquela tarde, em específico — depois de ter ido à faculdade e percebido que precisava pagar a próxima mensalidade —, ele estava sentado ao piano de Taehyung, tocando algumas notas e se irritando com o fato de não conseguir compôr o que desejava. Já havia amassado três partituras com composições que odiara. Tudo porque estava estressado, nervoso e deprimido, imaginando que não seria chamado para trabalhar no café e que devia sair pela cidade à procura de algum restaurante que quisesse um pianista.

Taehyung havia gentilmente deixado-lhe o celular com para que recebesse a ligação do café, dizendo se o aceitariam ou não, e olhar para aquele aparelho enorme e silencioso o fazia ficar cada vez mais nervoso.

Quando pensava na possibilidade de trabalhar no café, Jeongguk se via animado para finalmente ganhar seu próprio dinheiro e pagar o aluguel, as contas de água e luz, comprar sua própria comida e tentar pagar a faculdade — e, pensando bem, ele não sabia se ia conseguir dar conta de tudo aquilo. Provavelmente não. Aquilo era algo completamente diferente e novo, dava-lhe medo e ao mesmo tempo uma sensação estranha de liberdade.

Mas mesmo assim... seria tão mais fácil com o dinheiro dos pais...

Numa tentativa de afastar aqueles pensamentos que o deixavam para baixo, Jeongguk puxou um caderno de partituras de cima do tampo do piano e o folheou. Uma das últimas composições que havia estudado estava ali. Ma Mère I'Oye: V. Le jardin féérique, de Maurice Ravel. Jeongguk se lembrava de ter escutado Taehyung tocar aquela peça em alguma tarde.

Aquela peça era para ser tocada em um dueto e, de repente, Jeongguk ficou ansioso para que sua companhia no piano voltasse da Universidade.

Enquanto se perdia nas memórias de Taehyung — quase se derretendo no chão ao lembrar que havia dias que dormia abraçado com o namorado —, Jeongguk quase não notou que o celular tocava.

Quase, porque o som estava alto e ele deu um pulo. Agarrou o celular e atendeu atônito.

{...}

Depois de passar quinze minutos tentando se despedir do vizinho idoso — e da dificuldade de dialogar devido à quase surdez dele —, Taehyung finalmente chegou em casa com três latas de Sprite em uma sacola plástica: uma para cada morador do apartamento.

Jeongguk estava tocando uma peça que Taehyung conhecia bem — uma das preferidas de sua mãe e, com certeza, a sua preferida.

O roqueiro encostou a porta em silêncio e ficou parado ali, observando Jeongguk tocar, porque o namorado não havia percebido a sua chegada, tamanha era a atenção às notas que produzia sozinho em algo que devia ser um dueto.

Um sorriso esboçou-se nos lábios de Taehyung enquanto observava Jeongguk.

Até que o jovem o olhou de soslaio e deu um pulo, enfim percebendo a sua presença, apertando as teclas com violência por causa do susto:

sobre todas as bandas de rock que eu não conhecia antes de conhecer vocêOnde as histórias ganham vida. Descobre agora