UM NOVO SENTIDO

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Tales já vinha falando em sair pela Terra Devastada há algum tempo, mas suas palavras, embora medo não fosse seu problema, tinham jeito de ser um mero blefe, tanto para ele quanto para qualquer um, era insanidade sair de uma colônia por simples curiosidade.

Mesmo Nísis ainda em fase de recuperação, não havia um lugar mais seguro, a colônia levaria muitos anos ainda para chegar ao ponto onde tudo se perdera e, provavelmente, algumas coisas nunca mais seriam as mesmas, como um contingente de seis RDs por exemplo, mas sair pela Terra Devastada e ficar a mercê de todos os seus perigos era uma verdadeira loucura.

Entre as coisas que nunca se recuperaram em Nísis, também estava o velho Daril, que ainda caminhava esclerosado e completamente inconsciente da realidade, o velho vivia apenas da piedade dos moradores que conheciam seu passado de homem respeitado. Agora não era capaz nem de se comunicar.

Desde que perdera tudo, Daril ainda repetia as mesmas palavras que disse no dia do ataque. Osíris sabia que ele sempre o observava com certa atenção e ele também passou a observá-lo assim, não era à toa, mas Daril, de alguma forma, lembrava muito seu pai na época agradável antes de tudo acabar em cinzas.

Um dia, o velho começou a adoecer e definhou até não conseguir mais nem se levantar. Em pouco tempo sua saúde o deixou quase em estado vegetativo. A única coisa que conseguiu dizer foi para chamarem ''o menino''.

- Chama o menino, o filho de Ângelo, o filho... – Disse.

Ele queria falar com Osíris, apenas com Osíris, algo que todos estranharam porque nem desejos o velho tinha mais nos últimos tempos. Todos sabiam que ele morreria logo e por isso, atenderam seu pedido. Osíris foi levado para seu leito de morte e Tales, a apesar de não gostar nada da ideia, o acompanhou. Seu receio era sempre que Osíris sofresse alguma influência já que às vezes parecia tão atormentado quanto o velho, mas desta vez era diferente.

Osíris e Tales se aproximaram e o viram deitado, quase desacordado com a boca seca se mexendo tentando ainda repetir a mesma frase.

Osíris sentiu o que já era esperado, uma mistura de melancolia, nostalgia e pena tomou seus sentimentos, olhar para Daril lembrava Cipriano, Cipriano lembrava Ângelo e Ângelo lembrava o lugar para onde ele sempre queria voltar, o passado seguro e livre de qualquer angústia. Seu rosto começou a suar, suas pernas tremeram e Osíris começou a passar mal, nos últimos anos nunca esteve tão perto de Ângelo como naquele dia, descobriu que era isso que sempre despertava seu medo e sua curiosidade em se aproximar do velho Daril, parte deste elo com um passado tão distante e natural em seu presente, estava agora definhando com o tempo e com tudo o que desejou que nunca tivesse passado.

Os olhos semiabertos de Daril o encontraram ao lado da cama e fixaram em sua imagem melancólica. Daril parecia prestes a fazer alguma coisa. Sua mão, com dificuldade arrastou-se até a jaqueta de Osíris encostada na beira da cama e a seguraram, Osíris e Tales, sem palavras, observaram sua estranha reação, todos que estavam ali se assustaram, há muitos dias Daril estava em estado quase vegetativo e agora, de repente, parecia estar reagindo. Sua mão começou a escalar a blusa de Osíris até chegar próximo ao pescoço. Tales quis impedir, mas esperou um pouco, Daril precisava falar alguma coisa.

- Levaram eles! Eu vi! Levaram eles!

- Quem? - Sussurrou Osíris ainda trêmulo.

- Eu vi...

- Levaram quem? – sussurrou Osíris.

- Meu filho – sussurrou Daril com dificuldade.

- Seu filho? – Perguntou Osíris.

Osíris Bahr e a Torre  - Livro 1Where stories live. Discover now