XIX

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Ana:

Eu estava tão nervosa e trêmula que não me mexi nos primeiros minutos. Meu celular caiu da mão e chocou-se contra o tapete branco do quarto. Ele retornou a tocar e eu apenas o peguei, enfiei no bolso e corri para a varanda para tentar ver algo na rua.

Havia um pequeno alvoroço na frente do condomínio, meu coração acelerou e eu corri para o elevador, descalça e a roupa desarrumada. Pela primeira vez parecia que morávamos no 50° andar e o elevador ia cada vez mais lento. Comecei a bater os pés no chão e roer as unhas, tentando segurar o choro e não imaginar o pior.

Mas claro que tinha um pior. Um homem me ligou, disse que era delegado e informou que eu precisava descer!? Eu estava tentando me enganar, mas com certeza havia acontecido algo com Luísa.

Quando o porteiro liberou minha saída, da qual até ele estava enfiado com a cabeça para fora da janela da cabine, as pessoas cochichavam e não me deixavam passar para observar.

Um carro de polícia estava estacionado do outro lado, com as sirenes ligadas, mas sem barulho. Ou eu estava surda, pois até uma voz de um policial não consegui escutar quando ele disse algo para me afastar. Empurrei-o para o lado, que antes que viesse atrás de mim, notei que outro o segurou e o pediu para manter a calma.

Olhei para o asfalto e Luísa estava caída, de olhos fechados e a blusa branca suja de sangue, bem no seio, do lado esquerdo, perto do coração. Contei dois tiros. Um no peito e outro provavelmente raspando, pois sua cabeça estava levemente machucada, mas era notório que não tinha perfurado, porém sangrava muito.

Me abaixei no asfalto ao lado dela já aos prantos de choro. Eu não conseguia falar, apenas chorar e gritar. Isso eu sabia e lembro. Puxei a cabeça de Luísa para meu colo e afaguei seu cabelo, chamando-a baixinho para acordar, mas ela não se mexia.

- Luísa, meu amor, por favor, acorde... - Falei em sussurro misturado com lágrimas e soluços. - Por favor, me diz que isso é um pesadelo...

Dois homens com macacões azuis se aproximaram com uma maca laranja.

- Vamos leva-la ao hospital. - Um deles falou.

- Pode nos acompanhar na ambulância. - O outro disse começando os procedimentos em minha mulher.

Senti os braços atrás de mim, puxando-me, mas não conseguia me mexer, muito menos falar com alguém. Senti mais uma vez e quando os dois caras a tiraram de mim, para colocar na maca, escutei um deles falando:

- Precisamos ser rápidos. Temos pouco pulso, esse caso é difícil. - Eles falaram e fiquei de olhos arregalados, mas ainda em choro.

- Preste atenção, preciso que me dê algumas informações. - Um homem de social falou ao se aproximar. - Sou delegado Nero, fui eu quem liguei. Aliás, aqui o celular da sua esposa.

Apenas peguei o celular e retornei a chorar, porém mais baixo.

- Preciso que me responda algumas perguntas.

Eu o escutava, mas não conseguia falar um "a" sequer. Vi que colocaram Luísa dentro de uma ambulância com UTI móvel. Me afastei do delegado e entrei junto com um dos médicos, sentando ao lado dela. O segundo socorrista entrou no veículo e logo senti o carro se movimentar.

Segurei a mão dela e comecei a rezar baixinho, atropelando algumas palavras da oração.

Eles tinham colocado alguns aparelhos para ela e faziam procedimentos que eu não entendia, mas que torcia para que desse certo. Por um longo tempo fiquei sem ouvir nada, apenas vendo os movimentos rápidos dos socorristas, Luísa "dormindo" ao meu lado e a rapidez que o veículo andava pelas ruas.

Ela e euWhere stories live. Discover now