21/22 Out - Cap.3

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Entrei dentro de casa e olhei para ela.

"O que é que foi aquilo?" Revirei os olhos ao pousar a mochila no sofá.

"Estava a conhecer melhor um dos teus amigos." Ela fala como se fosse obvio.

"Ele nao é meu amigo." Digo seca e suspiro.

"Mas é da tua turma, logo é teu colega."

"Colega não é amigo." Vou à cozinha.

"Não interessa, estava a conhecer o teu colega." Ela dá ênfase à palavra.

"Oh, agora também controlas as pessoas que tenho na turma." Tirei os meus cereais do móvel de cima.

"Ele vai fazer um trabalho contigo?"

"Não, ele que faça com a Bella, sei me desenrrascar sozinha." Tirei o leite do frigorífico.

"Para teres negativa de novo?" Não, nem pensar. Ele que venha aqui amanhã." Ela coloca as mãos na cintura.

"Quer dizer, não posso sair de casa mas vem um estranho e ele que venha jantar aqui?" Comecei a comer.

"Eu não falei em jantar. Vocês vão fazer na sala eu vou estar bem de olho em vocês."

"Que diferença te faz as minhas notas? Mesmo que arranje um emprego decente, o que duvido porque não me vais deixar entrar na universidade, nunca me irias deixar sair de casa para ir trabalhar!"

"Deixa de ser ridícula, tu não és responsável o suficiente para sair assim, é por isso que não deixo." Ela começa o seu café.

"Tu nunca me deixaste provar-te que sou responsável!" Começo a elevar o tom de voz.

"A mesma história de novo?!" Ela eleva também, está a testar-me?

"Eu já estou farta, tu prendes-me aqui como se fosse um passarinho numa gaiola." Elevo os braços enquanto falo. "Mas eu não sou mais o teu passarinho, eu vou fazer 19 anos! Sou uma adulta, eu cresci e tu não queres aceitar isso!"

"Maria Carolin Jones! Não me voltes a levantar o tom de voz ou eu-"

"Ou tu o quê?" Acalmei mais a voz. "Pões-me de castigo? Força, já não tenho vida, que mais me vais tirar? Um rim?" Levantei-me calmamente e sai da cozinha enquanto o olhar pesado da minha mãe pairava sobre mim.

As lágrimas caiam do meu rosto, estou tão farta. Farta dela! Eu já não sou uma criança de 6 anos que precisa de ajuda para calçar umas meias. Será que ela não percebe isso?

Dei um pontapé na mesa o que a fez cair e deitei-me de barriga para baixo na cama a agarrar uma almofada. Adormeci passado uns instantes.

**

A luz invadia o meu quarto, olhei o relógio na minha mesa de cabeceira e vi '05:12h'. Fogo, acordei tão cedo mas não tenho sono. Olhei para mim, dormi com a roupa do dia anterior.

Fui até à casa de banho e fiz a minha higiene matinal, vesti-me e quando fui até à sala a minha mãe não estava lá, talvez eu possa sair agora.

Fui até à maçaneta e rodei-a. Trancada? Merda. Procurei pela chave, tem de estar algures aqui.

Olho em todos os cantos possíveis w imaginários para encontrar aquela porra mas nada. Desisto, se não está aqui, está com ela. E se sair de casa ainda lhe provoco um ataque cardíaco ou então ela mata-se e depois eu vou presa por ter morto a minha mãe e aí não tenho liberdade nenhuma.

Andei até à cozinha e tirei uns cereais, sentei-me na mesa e olhei o meu relógio de pulso, são 6:30h e faltam duas horas para a escola começar.

O que uma rapariga normal faria? Mexia no seu telemóvel ou ia ter com alguém entretanto. O que eu faço? Deprimo num canto da sala a ver Pokemon.

"Bom dia." A galinha diz passado uns 15 minutos de eu estar a ver televisão.

Não lhe respondi, e ela não se deu ao trabalho de repetir porque sabia que não iria responder de novo.

"Nós temos internet?" Olhei para a box que dizia 'Zon' em azul.

"Porquê?" Ela pergunta e vai até à cozinha, que por acaso é tipo mesmo ao lado da sala.

"Porque se o Louis vem aqui hoje, e vamos fazer um trabalho, convem ter net." Afirmo rude.

"Sim, temos. Mas apenas a usamos para trabalhos da escola." Ela mete o café a fazer.

Bufo, e coloco as minhas pernas em cima da mesa de centro.

Olho para as vans vermelhas e lembro de como as comprei. Ou melhor, como a minha mãe mas comprou. Ao envez de ir como uma rapariga normal à loja, com a minha mesada, não. Para já nem tenho mesada. De que adianta ter se não podes sair para a gastar? A minha mãe é que as foi comprar. Que raiva, eu pedi umas pretas a ela, e como não havia essas comprou vermelhas.

Mas não me queixo em relação à cor, já tenho tantos sapatos pretos.

**

Eu ODEIO tanto Físico-química. Para que é que eu preciso de saber se um pedaço de madeira é constituído pela molécula foda-se e pelos átomos caralhos? Para nada!

Conseguia ver pelo canto do olho que Louis me observava, isso estáva-me a irritar bastante porque ele olhava como se eu fosse alguma espécie de animal raro, espera. Eu sou mesmo, um lobo solitário.

Tocou para sairmos e eu peguei nos meus cadernos demasiado grandes para a minha pequena mochila da Eastpak e andei até o meu cacifo.

"Podes parar de me seguir?" Disse enquanto andava.

Ok, ele acabou de me ignorar por completo, tudo bem.

Abri o cacifo e coloquei dentro os meus livros, e tirei outros para a próxima disciplina. Ele não disse nada, eu também não. Silêncio nos rodeia mas nem quero saber.

"Sobre o trabalho." Ele fala finalmente quando fecho o meu cacifo.

"Sim a minha mãe quer que vás lá hoje." Rolei os olhos e continuei a andar em direção ao bufê.

"Por mim tudo bem." Ele sorri e continua-me a seguir.

"Queres mais alguma coisa para além de saber do trabalho?" Perguntei ao chegar ao bufê e pedi um pão misto.

"Não."

"Então porque me segues?"

"Estás sempre sozinha." Revirei os olhos e a senhora deu-me o pão.

"Então deixa-me continuar sozinha." Comecei a comer.

"Não tens amigos?" Ugh que irritante, preferi ignorar. "Porquê?"

"Não preciso deles."

"Ou então ninguém quer ser teu amigo." Auch, mesmo no meu coração gelado. Mentira, eu própria sabia que ninguém o queria.

"Pareces uma criança de 5 anos, e eu odeio crianças."

Ele não disse mais nada e após eu comer o pão entrei na sala a sacudir a farinha das mãos.

"Atrasados." O stor rabisca algo no seu caderno e continua a falar. "Hoje vamos falar sobre-" ignorei completamente o resto, e comecei a desenhar coisas aleatórias no meu caderno.

Olhei para o resultado final da minha obra de arte e até não ficou assim tão mal, então comecei a pintar com as minhas esferográficas.

**

Abetoei o meu casaco e ao ver a minha mãe chegar olho para Louis que não transmite quaisquer emoções.

"Boa tarde." Ela diz animada, sempre tão educada.

"Boa tarde." Louis sorri e comprimenta a minha mãe.

Entramos ambos dentro do carro e a minha mãe vai fazendo perguntas ao Louis, e esta é mais uma das razões pelo qual eu não tenho amigos.

Rebel |L.T|Where stories live. Discover now