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gotham city, 3:58am
apartamento de
Maddie Oceans

               JASON TODD acordou e não enxergou nada no início. Quando seus olhos se acostumaram à escuridão e ele não reconheceu onde estava, suas mãos foram instintivamente para a arma na sua cintura, mas ela não estava lá, nem o seu coldre, nem a sua calça.

               Ele olhou para seu corpo. Havia um cobertor branco, e por baixo, estava seminu. O Capuz Vermelho se esforçou para lembrar dos últimos momentos conscientes: uma batida policial coincidiu com o dia que ele escolheu para acabar com um cartel conhecido por vender drogas para crianças, mesmo depois dos seus avisos, e as coisas não podiam ter sido piores.

               Se lembrou que matou um policial, um traidor que ia executar a parceira por algo envolvendo dinheiro. Bateu na própria testa. Por isso ele foi atacado pelos outros. E por isso sua última memória era de pular do galpão em direção a um carro. E por isso suas costas doíam tanto.

               Ele jogou o cobertor para o lado, e notou que haviam muitos ferimentos espalhados pelo corpo, e que estavam todos cobertos com curativos de gaze improvisados.

               Ouviu passos, e mesmo com todos aqueles ferimentos, ele pulou para trás do sofá onde antes estava deitado. Espiou, e viu uma silhueta com algo na mão, que ele não pode identificar porque sua visão ficou embaçada de repente. Mas isso não o impediu, ele tinha lutado em condições muito piores antes.

               Seu oponente não teve tempo de reagir. Jason surgiu por trás e apertou seu pescoço contra a parede. Algo caiu e quebrou. Sua visão voltou ao normal, e ele viu pedaços de cerâmica e café derramado. Depois voltou a olhar para a frente, e recuou de repente. Era a garota, a policial que seria morta pelo outro policial se Jason não tivesse atirado. Ele ainda não sabia como tinha parado ali, mas tinha a impressão de que ela não era uma ameaça.

               Houve um silêncio desconfortável enquanto ela voltava a respirar normalmente e Jason se sentiu culpado.

               — Você está bem?

               — Eu estou bem. — ela falou ao mesmo tempo que ele perguntou.

               Os olhos castanhos da garota alternavam entre o rosto de Jason e o canto da sala de estar, ela parecia estar pensando no que dizer ou fazer. De repente, se abaixou e começou a juntar os pedaços da xícara quebrada. Jason a ajudou.

               — Eu vou servir mais café. — ela disse depois que eles terminaram, voltando para o cômodo onde estava antes, que Jason presumiu ser a cozinha.
              
               Ele a seguiu, olhando ao redor. Era um apartamento relativamente grande para apenas uma pessoa. Sem fotos de família espalhadas; na verdade, sem fotos de família em lugar nenhum. Tudo era bem organizado e parecia que seus utensílios de cozinha, como a cafeteira, combinavam com todo o resto.

               — Essa é a sua casa?

               Ela estava colocando café em duas xícaras, e não se virou, mas balançou a cabeça e respondeu:

               — É.

               — Você me trouxe?

               — Trouxe.

               — Sozinha?

               — E quem poderia ter me ajudado? — ela finalmente olhou para ele, estendeu um xícara de café enquanto levava a outra aos lábios.

               Jason hesitou, mas acabou aceitando.

               — O que fez com o carro?

               — Explodi. — ela respondeu simplesmente e Jason engasgou com o café.

               — Então como-

               — Eu roubei outro depois. Foi assim que te trouxe.

               Um silêncio estranho se instalou na cozinha. O rapaz parecia digerir as respostas e ela olhava fixamente para o fundo de sua xícara, em uma espécie de transe, do qual despertou de repente.

               — Eu lavei as suas roupas.

               — Você o quê?

               Ela saiu com alguma pressa, parecendo satisfeita por ter algo para fazer além de olhar para a própria xícara. Voltou pouco tempo depois, com uma pequena pilha de roupas pretas, uma jaqueta e, como a cereja do bolo, o capacete vermelho.

               — Eu não sabia se isso podia ir na secadora, então... — ela tentou um sorriso, era meio triste.

               Jason recolheu as roupas e o capacete, era a primeira vez que não cheiravam a pólvora e morte.

               — Por quê?

               — Salvou a minha vida.

               — E agora a condenei. — ele deixou a camiseta, a jaqueta e o capacete sobre o balcão, para ficar com as mãos livres e vestir as calças. — Não devia ter me ajudado.

               — Você também não.

               — Não sou um bom exemplo.

               Quando ela se virou, ele já estava vestido. Seus olhos se detiveram sobre o símbolo vermelho, um morcego, mas ele não era nada parecido com o Batman.

               — Eles não sabem. — Maddie disse baixo, mas o cômodo estava tão silencioso que Jason a ouviu bem. — Acham que eu saí de lá porque estava abalada pela morte do meu... parceiro.

               — O que significa que acham que eu roubei e explodi o carro da polícia.

               — E roubou outro carro depois.

               Eles riram brevemente. Após isso, ele colocou o capacete.

               — Obrigado pelo café e pelos curativos, mas não faça nada assim de novo. Ou vai acabar morta.

               — Isso é uma ameaça?

               — Sim. Mas não minha, dos seus amigos da polícia.

               — Está dizendo que Mitch não era o único.

               — Devia começar a pensar que você é a única.

               — A única?

               — Que não é corrupta.

               A garota não pareceu surpresa, mas sim decepcionada, como se já esperasse mas não quisesse aceitar. Jason sentiu um pouco de pena, ela parecia uma boa pessoa, mas, perdida em um ninho de cobras, não duraria muito.

               — Tome cuidado. — ele sugeriu, passando por ela e abrindo uma janela próxima.

               — Você não pode sair pela porta? — ela perguntou, mas ele já tinha pulado.

a heavenly way to die × jason toddWhere stories live. Discover now