VII.V - Duas Condessas

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- Se os vossos corpos fossem envidraçados e de tal modo pudésseis olhar para o coração de outrem, com facilidade desbravarias mais do que um rosto obtuso poderia revelar

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- Se os vossos corpos fossem envidraçados e de tal modo pudésseis olhar para o coração de outrem, com facilidade desbravarias mais do que um rosto obtuso poderia revelar. Alguns ventos também perdem a própria direção e destroem tudo aquilo que levou tempo a ser construído.

       Eleanor ainda se lembrava de quando se despediu de Severine numa tarde amena coberta por um sol opaco que bailava no céu opalino. Entre lágrimas de tristeza pela separação em simultâneo com a felicidade por saber que a sua primeira amiga naquele castelo partia para uma nova vida repleta de amor junto de sua irmã mais nova – Angeline – em direção à Londres onde se casaria numa cerimónia simples com um jovem trabalhador que se apaixonou desde o momento que colocou os olhos nela. Graças ao dote que o Conde certa vez a teria ofertado e as poupanças do futuro marido, poderiam ter uma vida digna e sem muitos sobressaltos.

"Escreva para a minha pessoa. Hei de querer estar a par de todas as novas deste castelo antes mesmo que toda a corte." A antiga camareira teria dito enquanto balançava o lenço para o alto com um sorriso que ia de ponta à orelha em contraste com as lágrimas que desciam de seu rosto rechonchudo.

E era em correspondências que segurava em suas mãos enquanto olhava através das janelas dos seus aposentos para o pátio do castelo. Ainda se mantinha no mesmo quarto, mesmo que Camden não dormisse mais lá, e nunca se tinha sentido tão sozinha apesar das gémeas fazerem de tudo para que sorrisse um pouco mais. Era dele que sentia falta, a ausência era sentida como adagas afiadas que deslizavam em sua pele como forma de tortura sem nunca a querer matar. Ele desaparecia o dia todo – fosse por vergonha de olhar em seus olhos ou por não conseguir camuflar suas feições como sempre tinha feito – mas aparecia para jantar por conta de uma educação que não o permitia se ausentar por completo.

Eleanor tinha entendido muito bem suas palavras na última vez que se deitaram naquela cama, com os olhos fixos no teto alto e os dedos das mãos tão próximos quanto distantes. Os cabelos dourados se espalhavam na almofada e a voz branda estava quase rouca.

— [...] Por vezes, deveremos saber quando recuar antes de atacar. Muitas guerras foram perdidas pela sede de avançar e enfrentar o inimigo sem antes descobrir quais táticas este mesmo esconderá. A prepotência não há de ser nossa inimiga, não poderei permitir, por isto, vos peço que escutais atentamente. — Ele teria dito. — É de coração partido que por ora me despeço de vossos lábios e do calor do vosso corpo, lamentarei por não mais abrilhantar este vosso sorriso que tanto venero. As lágrimas que derramardes inundarão meu coração, talvez por isto, nossos olhos estarão distantes na maioria do tempo. Hei de vos pedir toda paciência do mundo. I beg you — rogou.

— A meio de tantos palavreados bonitos, hei de questionar por quanto tempo teremos de viver de tal forma. A bem ou a mal, os títulos sempre se destacam como uma mais valia mesmo que os nossos corações toquem em uníssono. — Ela estava apoplética, seus olhos até então teriam secado e respirar nunca teria parecido tão difícil. — Não é de meu interesse ser a coitadinha e digna de pena novamente. Não darei importância ao que as bocas dirão sobre tudo isto, nunca antes a minha pessoa se importou, a única questão é a de que seguir restritamente as regras corroem a alma que em mim habita.

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