24 Planejando o futuro

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Acordei antes mesmo que o  sol estivesse alto. O apartamento não tinha som algum, além do ronronar do ar condicionado e da respiração da Mônica ao meu lado.

O aperto no meu peito diminuiu um pouco depois de algumas horas de sono, mas ainda doía. Fechei os olhos absorvendo aquela energia do show que eu havia visto no sonho. Era real, tudo aquilo, porque vi minhas mãos cobertas de cicatrizes segurando o microfone. Então sim, eu voltaria a cantar. De alguma forma, e com forças que eu ainda não tinha, mas eu voltaria.

Ouvi a porta da frente se abrindo e me sentei na cama, esperando ela aparecer no quarto. Seus olhos foram direto para Mônica dormindo ao meu lado. Fiz um gesto para ela não fazer barulho, e pedi, sussurrando que ela me ajudasse a levantar.

Meio emburrada ela veio, passei o braço por seus ombros e apontei o banheiro.
Ela me ajudou, me amparando na frente do vaso e depois até me debruçar na pia.
Fechei a porta atrás dela, e me sentei no vaso com a tampa fechada.

— Que bom que veio Dri — sorri e segurei seu rosto, lhe dando um selinho.

— Por que ela dormiu na sua cama?

Eu ri, e mostrei o braço sem as faixas para ela — Para não acontecer mais nenhum acidente. — sorri segurando sua mão — Quer conversar?

Ela assentiu — Pode ser em outro lugar?

Olhei em volta, e assenti sorrindo . — Me arrasta até a sala?

****

Ela fez mais que isso, me levou até a sala, preparou o café da manhã e se sentou comigo, me ajudando a comer, sendo carinhosa como antes. E imaginei na hora que aquilo era a preparação para a conversa.

— Ela sempre dorme tanto assim? —Dri apontou para o corredor.

— Eu não costumo dormir com ela.— Sorri, e ela fechou a cara — Ela está cansada, tivemos uma longa noite. Deixe ela descansar. Você está aqui agora, não é?

Ela me olhou séria — Você teve sonhos?

Assenti — Tive, e sei que quer falar comigo.

Ela retirou a bandeja do meio de nós, colocando-a sobre o tapete, e se sentou colada a mim, entrelaçando nossos dedos, apoiando a cabeça em meu ombro.

— O seu caso me deu visibilidade, e querem que eu passe um semestre no hospital referência em queimaduras na Austrália.

Me obriguei a sorrir, porque não queria ouvir o que ouvi no sonho, isso eu podia mudar  — Uau... Isso é... Deve ser incrível... Sabe, ser reconhecida assim...

Sua mão tocou meu rosto, me fazendo encará-la. — Vem comigo. Pode ser que lá eu consiga te ajudar ainda mais, eles têm técnicas novas, é um hospital de referência, com algumas cirurgias, podemos diminuir muito suas cicatrizes.

Sorri segurando sua mão sobre meu rosto. — Dri... Eu não posso. Não posso ir com você, eu quero melhorar e voltar para a minha carreira. E... Não quero me livrar das cicatrizes. Quero olhar para elas, e me lembrar que fui o único que saiu vivo disso. Me lembrar que estou aqui por algum motivo...

— Mas...

— Precisamos tomar fôlego Dri... Ainda não é a hora. Isso tudo... É rápido demais, não parece certo.

— Então eu fico até você estar bem...

Balancei a cabeça negativamente — Você vai. Eu fico. São seis meses... Isso não é nada perto de sete anos. Podemos nos falar nesse tempo.

— Isso é por causa do que o seu pai te disse?

— Não, quer dizer, claro que pensei nisso. Nem você tem que ser meu bibelô, nem eu tenho ser seu troféu. Se temos que ser algo assim um para o outro, então tem algo errado, você não acha?

Nos braços do passado Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum