9 Rádio...

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Rod

— Rodrigo? — Mônica entrou no quarto, e parou atrás de mim — Preciso te levar de volta.

Assenti, e sorri para Val — Ela não é a coisa mais linda que você já viu? — sussurrei chorando.

Ela ignorou a pergunta — Podemos ir?

Baixei a cabeça, assentindo. E ela começou a me movimentar na cadeira para voltarmos ao meu quarto. Pegamos o elevador, e vi ela me olhando pelo espelho, mas eu não estava a fim de dizer nada.

Meu peito ardeu, mas não como a dor, ou a sensação de queimação. Ardeu como se eu fosse me desintegrar. Vê-la daquele jeito, inacreditavelmente sem nenhum arranhão aparente, mas praticamente morta. Enquanto eu todo fodido, aqui, acordado, falando...

Tudo parecia fora do lugar. A falta deles, da minha família, esmagava meu coração a cada segundo, e meu único pensamento era o de que eu queria muito estar com eles. Queria muito não estar vendo tudo de fora, como a merda de um excluído de novo. Eu queria pelo menos uma vez não ser a exceção.

Não ser o único dos filhos de outra mãe.

Não ser o único a não pagar o colégio.

Não ser o único a ter que trabalhar para poder estar lá aos sete anos.

Não ser o único a sobreviver...

Estava cansado, cansado de não ser como o restante das pessoas.

Dois enfermeiros me colocaram na cama. Mônica tirou a roupa plástica de mim, e me limpou mais uma vez. Olhei para os curativos e os vi encharcados novamente. Aquilo era tão nojento que eu evitava olhar. E o cheiro? O andar inteiro fedia a carne queimada. Se o inferno era mesmo como descreviam, aquela era a copia perfeita.

Renata já me esperava no quarto. E tentou até um sorriso para mim.

— Você está bem?

Assenti. E Renata me observou atentamente, eu estava agradecido pelo que ela tinha feito, ver a Val era o que eu mais queria, mas precisava assimilar as coisas.

— Rodrigo, você prometeu, me arrisquei muito te levando para ver sua amiga. Não volte a me ignorar.

— Tudo bem. — falei de cabeça baixa.

— Volto amanhã para conversarmos, tá bom? Mônica vai te fazer companhia.

Assenti.

Acompanhei com o olhar até que ela saísse do quarto.

Mônica sorriu para mim.

— Ela não é minha amiga. — soltei quase como uma confissão — É minha mulher... Eu tinha acabado de pedi-la em casamento. Minutos antes de... De tudo aquilo.

Mônica apertou os olhos — Sinto muito.

— Eu também... Principalmente por ela não ter aceitado. — falei baixo.

— Sério? Mas por quê?

— Ela queria saber por que eu era esquisito, por que eu fazia o que eu fazia...

— É isso que foi contar a ela?

Arregalei os olhos. Então ela ficou me espionando? Que merda!

— O que você ouviu? — falei assustado.

— Nada... Não se preocupe. — ela continuou limpando meu antebraço, mas sabia que não estava concentrada naquilo.

Sorri tentando ignorar a dor. — Eu tinha uma clave de sol bem aí.

Ela ergueu os olhos para mim — Eu sei, tenho todas as revistas sobre a Handtak.

Nos braços do passado Where stories live. Discover now