10 O Tamanho do meu mundo

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Abri os olhos vendo o relógio marcando dez e meia. Me lembrei vagamente do "show" da noite. E no segundo seguinte tomei a decisão de não mencionar aquilo. Não devia ter falado tanto.

O sol entrava pelo vidro da janela do quarto, e eu conseguia ver os galhos das árvores da rua balançando. Desejei poder abrir aquela janela e sentir um vento fresco no rosto. Mas a dor me trouxe de volta, e o arrepio de pensar no sol, também.

Bati a cabeça no controle pendurando na minha cama, longe da minha mão, porque eu nunca o usava.

— Mônica, Mônica, Mônica! — falei alto, e sorri animado.

Ela abriu a porta segundos depois. — Você me chamou! Me chamou mesmo? — ela arregalou os olhos rindo — Estou lisonjeada. O que você quer? Café da manhã?

— Morfina, por favor.

Ela revirou os olhos. — Mas vai comer também, não é?

Assenti. — Pode ver o que houve nas minhas costas?

— Sim, já conversei com a Renata, na hora do seu banho, vamos ver o que houve, está bom assim?

— Tá, valeu.

Sem me olhar, ela aumentou minha medicação, e saiu para buscar meu café.

Tentei me mexer, mas senti como se estivesse colado na cama.

Alguns minutos depois ela voltou com o meu café da manhã, elevou um pouco a cama e aproximou a bandeja de mim.

— Suco?

Olhei para ela. — De quê?

Ela leu a embalagem — Maracujá.

Eu ri — Meu preferido.

Ela sorriu e furou a caixinha com o canudo para me dar. Tomei dois goles sofridos e fiz careta para ela.

— Não é bom não? — ela riu.

— Senta comigo. — Olhei para minhas pernas e pelo menos naquela manhã, a cama estava seca.

Ela arregalou os olhos — Você tá louco Rod? Não posso, vou ser demitida.

— Tranca a porta e coloca um papel naquela porra de vidro, aposto que aquela enxerida vai passar aqui daqui a pouco.

— Não, ela foi para São Paulo hoje.

— Então senta, ficou me irritando todos os dias para eu falar com você, e agora vai me fazer desfeita?

— Rod...

— Senta! Eu tô pagando esse hospital, não tô?

— Na verdade não, você está em um hospital público.

Fiz careta — Sério? No Rio não é assim não...

Ela riu. — Se eu for despedida, vou processar você.

— Há, há, muito engraçado. — desdenhei. — Adoro processos.

Olhei para a bandeja, mas realmente... Não tinha vontade nenhuma de comer.

— Quando vão tirar essas mangueiras de mim?

— Quando voltar a se alimentar direito, e conseguir chegar ao banheiro sozinho.

— Droga.

— Você vai começar a fisioterapia hoje também. Quero você em pé logo.

Suspirei só de pensar — Você não sabe a saudade que eu estou de ficar em pé, e mijar... Moniquinha... Mijar em pé é uma delicia que a gente só se dá conta, quando não consegue mais.

Nos braços do passado Onde histórias criam vida. Descubra agora