6 Aquele "Não"

2.9K 244 107
                                    

Entramos no ônibus, e esse era o especial da turnê, era equipado com um quarto nos fundos, com uma cama até que bem espaçosa, era bem melhor que as camas estreitas da frente. Não costumávamos fazer muitas viagens de ônibus, mas como as cidades eram próximas e os quatro próximos shows seriam no estado, optamos por seguir na estrada.

Tomei um banho antes de sair, aproveitei que a chuva havia finalmente parado, entrei no ônibus com minha garrafa térmica de café já gelado e esperei pelos outros.

— Olha só que porra, já está na internet. — Pete me olhou de cara feia, me mostrando o celular.

Val se sentou ao meu lado — Dessa vez, eu dou razão ao Rod, alguém podia ter morrido naquela merda.

— E ele ajudou muito, quase matando o cara.

Baixei os olhos — Foi mal, mas puta merda, não aturo essas coisas, fico puto com esses arrombados, o que eles ganham?

Val riu — Processos, cinco minutos de fama. A real, é que ser socado por você é quase um troféu.

Art bufou — E nem é tão difícil assim de acontecer.

Eu ri — Pode apostar que fica cada vez mais fácil.

Val se levantou — Bom, ninguém cancelou a turnê até agora, então vamos para Santa Barbara. — ela passou por nós indo para o fundo do ônibus — Vou dormir um pouco, me chamem se precisarem.

Assentimos, e acompanhei-a com o olhar até ela fechar a porta.

Me virei para eles — Acham que essa merda estragou meus planos?

Pete me olhou quase incrédulo — Vai mesmo fazer isso?

Assenti dando de ombros — É o plano.

— Comprou um anel? — Gambé me estudou por um tempo.

— Anel? — falei confuso. — Não...

Ele revirou os olhos — Rod, precisa de um anel, de preferência daqueles com um diamante bem grande.

Mordi o canto da boca — Que merda. Não pensei nisso.

— Para com essas ideias cara, deixa como está. Não sei porque complicar tudo, casamento é uma perda de tempo. Você tem vinte e três anos Rod, tem muito o que viver ainda.

— Eu sei... Quer dizer, eu pensava como você, você sabe Art, mas ultimamente eu ando pensando que... Se algo acontecer com a gente, com a banda... Comigo. — sussurrei — Não quero deixar ela sem nada. Eu já estive na merda, e não desejo isso para ela.

Pete cerrou os olhos para mim. — Você... — ele tremeu — Você teve aquele negócio?

Balancei a cabeça e sorri de nervoso — Não, fica de boa, Pete.

Ele se levantou e se sentou mais perto de mim. — Esses seus surtos, essa "vontade" de casar... Não está escondendo nada de nós, está?

Tomei um gole de café — Claro que não... É só que... Sei lá eu tô a fim de crescer, saca? Trabalhar menos, ter um lugar... Sabe, para ter para onde voltar. — eles me olharam com olhos arregalados, engoli seco e ri. — Nossa, que bosta de papo. Acho que preciso dormir.

Ele segurou meu braço. — Por que está tomando café gelado agora?

Olhei para a garrafa — Faz uns dias que não consigo beber nada quente... — Fiz um gesto com as mãos fazendo careta — Sabe... Desce mal.

Ele me olhou desconfiado, e vi a preocupação em seus olhos. — Tem certeza que está tudo bem Rod?

Eu ri — Claro, tudo certo, relaxem aí.

Nos braços do passado Onde histórias criam vida. Descubra agora