14 Tem que ser ganhada

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Três dias depois

— Puta merda! Puta merda! — gritei chorando de dor — Isso tá queimando! 

— Calma Rod. Olha para mim. — Mônica mandou, segurando um dos meus braços.

— O que aconteceu? — chorei — Por que... Por que tá doendo tanto?

— Nós vamos sedar você. — Adriana falou séria, tirando as mãos de mim.

Prendi a respiração — Quero saber o que está acontecendo!

Ela olhou para Mônica. — Vou interromper, quando a medicação pegar, eu volto.

— Espera... Espera... Me fala. — solucei.

— Outra parte do seu enxerto infeccionou, vou ter que remover, mas você vai ficar bem. —ela respondeu sem me olhar, ainda encarando minha perna. E depois saiu do quarto tranquilamente.

Mônica assentiu e aumentou minha medicação. Senti os tremores passando por meu corpo. E percebi meu queixo batendo. De frio.

Ela afagou meu cabelo — Está tudo bem Rod...

— Eu vou morrer Moniquinha?

Ela sorriu meigamente — Não, não vai não. Você está com febre, mas já estamos cuidando disso. Ela vai tirar toda essa pele de você...

— Se eu morrer, você faz uma coisa pra mim? — falei quase sem voz, sentindo as gotas de suor escorrerem por meu rosto.

— Não fala assim Rod... Já passamos por tanta coisa, você vai ficar bem.

Virei a cabeça em direção a sua mão afagando meu rosto.

— Não deixem levarem meu corpo para o Rio. Eu odeio aquele lugar... Nem meus ossos vão ficar felizes se ficarem lá.

Ela sorriu — Cala a boca. Para de falar bobagem.

— Prometa! — falei já com a voz fraca.

— Prometo que vou cuidar de você, agora se acalme.

Parei de lutar contra os remédios que derrubavam meus olhos e finalmente os fechei.

****

Não fazia ideia de por quanto tempo eu havia ficado apagado, mas antes mesmo de abrir os olhos, senti uma mão quente em meu ombro.

Virei a cabeça, ainda com a vista embaçada e me surpreendi ao vê-la ali, sentada em um daqueles banquinhos de plástico, encostada na minha cama, dormindo com sua mão sobre minha tatuagem.

Pigarreei alto, e ela levantou a cabeça, tirando sua mão de mim, e limpando a baba da boca.

— O que está fazendo aqui? — falei ainda sonolento.

Ela coçou os olhos — Mônica precisou ir para a casa dela, algo com o namorado...

— Não precisa ficar...

— Com você dormindo as coisas são mais fáceis.

Cerrei os olhos — E com você me ignorando, minha vida também é mais fácil.

Ela suspirou derrotada. — Rô...

Interrompi-a — Na boa, não me chama assim não... Esse tempo aí, já foi.

Ela assentiu — Tudo bem... Rodrigo, você não me deixou dizer nada. Você não tem ideia do que minha vida virou depois que você foi embora.

— Parece que não fiz tanta falta assim, não é?

— Mas fez. É claro que fez falta. Você era meu melhor amigo, meu amor... — ela balançou a cabeça — Uma semana depois que você partiu, meu pai me buscou, me colocou em um avião e fui estudar nos Estados Unidos. Eu não sabia nem que curso eu ia fazer. Não tive escolha em coisa alguma.

Fechei os olhos "não sinta pena dela, não sinta pena dela".

— Por que está se explicando? Não tô te cobrando nada... Éramos crianças, como você mesma disse... Está tudo certo, você tocou sua vida... Não fez nada errado.

Ela notou meu tom de deboche.

— Acha que não estou sofrendo? Eles eram meus amigos também, quando te vi chamando por ela, mandei os médicos para lá, porque eu sabia sobre suas premonições, sempre levei a sério...

— Achei que o plano fosse você mandar seu pai se foder... — sussurrei.

— Eu não pude... Acredite, eu quis, mas... Acabei me apaixonando pela medicina, descobri que era o que eu queria para mim, e quando voltei ao Brasil, cinco anos depois, você e ela estampavam as capas das revistas, o casal-não-casal do punk. Como eu me encaixaria nisso?

— Não se encaixaria. — soltei o ar. — Você nunca se encaixou em nada. — ela baixou a cabeça — Assim como eu.

Ela sorriu e se abaixou, mexendo em seu tornozelo direito. E se levantou, segurando minha tornozeleira com o berloque de coruja.

Meus olhos se encheram de lágrimas. — Por que guardou isso?

Ela sorriu se aproximando de mim — Para ver se dava mesmo sorte. Alguém me disse que precisa ser ganhada...

— Não comprada. — sorri. — Que bom que funcionou para você.

Ela chorou me olhando. — Não funcionou, não até eu encontrar você de novo.

Fechei os olhos — Para... Para com isso. Eu não consigo lidar com isso agora.

— Você não acha estranho que só ela tenha sobrevivido? — ela sorriu passando os dedos pela coruja em meu braço.

— Não... A cada vez que perco tudo, a única coisa que me sobra é uma coruja. Quando perdi minha mãe, essa em sua mão ficou comigo. Quando fui embora, tatuei essa para estar sempre aqui. E agora...

— Agora você me encontrou.

Arregalei os olhos e ri — Casada... Com uma vida toda planejada... Uma carreira.

— Não fale sobre o que não sabe.

— Eu não faço isso. Não destruo lares, não acabo com casamentos. Não quero esse mal para mim. Você sabe bem sobre meu passado, e não quero repetir os erros dele...

— Mas a Mônica tem namorado...

Abri a boca espantado — O que a Mônica tem a ver com isso?

— Ela está apaixonada por você.

— Não tá não... — falei indignado.

— Nem você é tão ingênuo assim Rodrigo.

Me calei, encarando-a — Você tá se doendo? Sério? Com que direito?

Ela deu de ombros — Nenhum, eu só acho que nós podíamos trabalhar juntos na sua recuperação.

Sorri — Agora você disse uma coisa certa! Afinal, tu é a medica fodona não é? Então, quem melhor para resolver meu problema?

— Você tem para onde ir quando receber alta?

Respirei fundo — Esse... Já não é um problema seu.

— Tudo bem. — ela falou baixo, colocando a tornozeleira sobre minha mão enfaixada — Para te dar sorte, e melhorar logo.

Não respondi, apenas assisti seus passos lentos saindo do quarto. Olhei para a minha mão. A coruja estava preta, descascada, e os cordões de couro tão finos que em várias partes, estava prestes a se partir.

Ela usava... Suspirei. Ela usou todo esse tempo... 

**********************************
E aí? Será que a Moniquinha está no páreo mesmo?

Certo é que agora eles resolveram conversar civilizadamente.

Agora fica a torcida.
Vocês são #teamMonica #teamDri ? Hein... Contém para mim😘

Nos braços do passado Where stories live. Discover now