21 Não é uma escolha

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Ela ficou distante depois da conversa da tarde. Ela se afastou de mim, e aquilo me doeu mais do que eu podia imaginar. Ela trocou meus curativos, me deu banho na cadeira improvisada do novo apartamento. Depois de um jantar leve, me ajudou a chegar até a cama novamente. Mas não sorria mais, não trocamos palavras além do meu pedido de deixar meus braços sem as faixas, eles estavam me enlouquecendo de coceira. Ela estava tão aparentemente cansada, que nem tentou discutir comigo. Cobriu a pele apenas com o ryaon e saiu do meu quarto.

Por que sonhei com aquele show? Por que ela resolveu me mostrar aquilo?
Será que estava vendo tudo da forma errada?

Olhei para meu tablet sobre a cama, e ouvi a cama no quarto ao lado ranger quando ela se deitou. Baixei os olhos e puxei o tablet para mim. Procurei pelo show de 2010, e para a minha sorte, ele estava completo no YouTube. Um show que poderia ter entrado para a história, e que eu mal me lembrava até hoje.

Assisti chorando, vendo todos eles ali, como se nem fossemos nós mesmos. Era tão difícil vê-los daquela forma agora. Eu nem tinha ideia se um dia conseguiria pisar em um palco sem eles. Ou mesmo cantar outra vez.

Senti o sono me carregando, deixei o tablet de lado e me arrumei para dormir. Com os remédios era fácil, mais fácil do que eu gostaria. Mais fácil do que eu merecia.

*****

— Pega mais gaze! E a Sulfa! —  ouvi gritos do meu lado e abri os olhos sem conseguir mexer o braço.

— Aqui está... Me deixa ajudar, me diz o que fazer. — era a voz da Mônica, desesperada.

— Sai! Já "ajudou" demais garota! — Adriana gritou para ela, ajoelhada na cama fazendo compressa no meu antebraço e minhas cobertas estavam cheias de sangue.

— O que está acontecendo? — falei assustado, olhando para as duas. Mônica baixou os olhos, e Adriana estava mais concentrada em fazer o curativo em meu braço novamente.

— Pode ir Mônica! — Adriana olhou séria para ela.

Fiz força para me sentar e olhei para meu braço e a quantidade de sangue sobre mim.
Mônica se virou para sair do quarto, e vi as horas no relógio atrás da porta.

— Espera, já é tarde, não precisa ir embora agora. — falei quase desesperado. — É perigoso.

Ela se virou para mim, mas não me olhou —  Eu volto amanhã Rod.

— Moniquinha... — quase implorei.

Com um sorriso quase de choro, ela colocou a mochila nas costas e saiu.

Encarei Adriana. —  O que foi que aconteceu?

—  Você se cortou... Ficaria aqui sangrando sozinho se eu não tivesse chegado.

— Mas... Como? —  falei confuso.

Ela segurou minha mão, mostrando  meus dedos. — Assim, suas unhas estão compridas e a Mônica não fez o curativo como devia, a pele nova é sensível, qualquer fricção pode rompê-la...

Olhei para minha mão, meus dedos ensanguentados.

— Fui eu que pedi para ela não colocar as faixas... — falei baixo, me odiando.

Ela balançou a cabeça negativamente e se sentou na cama, cruzando as pernas, limpando meus dedos com gazes e soro. — A Mônica é inexperiente Rodrigo, ela não tem capacidade para cuidar sozinha de você. — Ela segurou meu rosto me dando um selinho nos lábios. — Vou encontrar alguém mais capacitado para o trabalho, amanhã cuido disso.

Minha respiração falhou. —  Não faça isso. Por favor, Dri, não tire a Moniquinha de mim.

Ela sorriu. — Ela pode ser sua amiga Rô, mas não pode cuidar de você. Ela precisa amadurecer, precisa de mais tempo dentro do hospital. Ninguém experiente cometeria um erro desses.

Nos braços do passado Where stories live. Discover now