Cap. 41 - A PROVA DE UM CRIME

2.3K 312 53
                                    


A porta do escritório no final do corredor estava trancada. Lá dentro, sentado e silencioso como um predador que observa a presa, a poucos metros de onde Joana e Renato tinham batido aquele papo enigmático, Manuel girava a cadeira de um lado para outro. A cara amarrada e olhar fixo sobre a mesa, quase sem piscar. A luz vinda do abajur refletia em seu rosto, dando a ele um aspecto mais carrancudo ainda.

Depois de um tempo, contemplando o nada, o policial fitou o porta-retratos ao lado. A foto, tirada há alguns anos, numa praia qualquer do Nordeste, mostrava uma família aparentemente feliz. Coisa que nunca foram. Ele sabia que a felicidade nunca fizera parte do seu casamento, mas isso não importava. Na foto, Renato – apenas um garotinho – exibia um sorriso encantador. Um sorriso capaz de enganar qualquer pessoa, fazendo-a crer que ele era um menino normal. Ele não era!

Manuel esticou o braço e virou o porta-retratos, escondendo a fotografia da família. Não se sentia à vontade com aqueles rostos alegres e seus olhos vívidos a observá-lo. Em seguida, pousou as mãos paralelamente ao objeto retangular que estava ali sobre a mesa, fechou os olhos e respirou fundo.

Num ato contínuo Manuel voltou a encarar a prova do crime. Cuidadosamente, ele abriu mais uma vez o moleskine de Renato. Aos poucos, as figuras de corpos masculinos, minuciosamente desenhados, foram sendo reveladas. Como se todos aqueles rabiscos, quase eróticos, não fossem perturbadores por si só, havia o detalhe principal. Todos aqueles homens seminus eram, na verdade, um único homem: o peão da fazenda de Vanda.

Furioso, Manuel fechou o pequeno caderno com força e o jogou dentro da gaveta. Ele precisava tomar uma atitude sobre aquilo. 

Entre Meninos (Romance gay) - Concluído Where stories live. Discover now