Cap. 63 - CADA UM PARA SEU LADO

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Voltando da área externa, Renato passou apressado pela sala de jantar, entrou na sala principal ainda confuso. Não sabia a direção que deveria seguir. Sentia-se completamente perdido. Desviando de alguns convidados mais animados, outros um tanto quanto altos em função do álcool, ele foi em direção a cozinha. Precisava encontrar Elvis e sair dali o mais rápido possível.

- E aí, mano. A fim de um baseado? – perguntou uma rapaz, colocando-se na frente de Renato e enfiando um cigarro de maconha na sua cara.

- Não, muito obrigado – Renato afastou o cigarro com as mãos.

- Tu é careta, é?

- O quê?

- Você é daquele tipo que se acha melhor do que os outros só porque não fuma um unzinho. Eu tô sacando qual é a sua.

- Olha aqui, garoto. Eu não sou nada, ok? Só me deixa passar!

O rapaz abriu caminho para que Renato pudesse ir em frente.

A cozinha parecia um cenário pós-apocalíptico: garrafas e latinhas espalhadas por todos os lados, guimbas de cigarro e copos plásticos cobriam o chão melado devido às bebidas derramadas. Alguém havia vomitado na pia.

Renato ficou na ponta dos pés, esticou o pescoço a procura de Elvis, mas não o viu entre a multidão. Foi até a porta e abriu. Lá estava o amigo, embaixo uma armação de madeira coberta por parreiras. Ele parecia feliz. Ria alto e se agarrava a dois meninos.

Sem querer incomodar, Renato fechou a porta com cuidado para não chamar atenção do trisal e voltou à cozinha. Não era porque sua noite tinha sido uma merda, que ele precisava estragar a noite do amigo.

Seguindo o caminho de volta, Renato procurou a porta de saída.

Enquanto se afastava da casa, o som do funk ia ficando cada vez mais baixo. Renato seguiu até o final da rua, olhou da direita para a esquerda e viu uma parada de ônibus vazia e iluminada por uma totem publicitário. Com passos firmes, ele seguiu até lá.

Sentado sozinho naquela quadradinho iluminado por uma lâmpada piscante, que insistia em morrer, Renato contemplou o céu escuro e úmido. Uma tempestade se aproximava. Raios riscavam a noite, anunciando a chuva. No entanto, nenhuma tempestade era maior do aquela que ele estava vivendo. Sua mente, seu corpo, sua alma, tudo fervilhava. Renato fechou os olhos, recostou a cabeça no vidro da cabine da parada de ônibus e quis chorar, mas as lágrimas vieram.

Então sofrer por amor era aquilo? Aquela era a sensação da dor de amor? Um dor que doía todo o corpo?

Alguns carros passaram em alta velocidade pela rua. Um ou outro buzinava para o rapaz solitário, porém ninguém parava para saber se estava tudo bem. Para saber o que estava acontecendo. Se ele precisava de ajuda. E Renato agradeceu por isso. Não queria ter que compartilhar seu sofrimento com um estranho qualquer.

Mergulhado no seu inferno pessoal, ele ficou ali por uns longos vinte minutos. Pensativo e silencioso. Cansado de procurar uma explicação para tudo que lhe tinha acontecido, ele abriu os olhos e decidiu encarar a realidade. Não dava para amanhecer o dia largado à própria sorte ali naquele lugar.

Com o celular nas mãos, Renato abriu o aplicativo de viagens para procurar um carro, foi quando viu um ônibus surgir no início da rua. Esperou o veículo se aproximar com o celular a postos e respirou aliviado ao ver que o ônibus seguia para a avenida da orla de Paraíso. Ele então desistiu de chamar um Uber e resolveu encarar o transporte coletivo. Com certeza, sua dor ficaria mais invisível no transporte coletivo do que dentro de um carro particular.

Entre Meninos (Romance gay) - Concluído Where stories live. Discover now