Cap. 65 - ABRINDO OS OLHOS

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Primeiro ele viu a luz. Uma luz branca e forte. Uma luz que o envolveu de alguma forma e o fez querer sair de onde estava e ir até ela. Mas, logo a luz se transformou. Não era uma luz mágica ou sobrenatural. Também não era uma luz com viés religioso, como muita gente poderia supor, era apenas uma lâmpada comum. Uma lâmpada fluorescente em forma de bastão. Um sabre de luz branco pregado ao teto e que piscava a intervalos regulares, esforçando-se para se manter aceso. Quando se firmava, iluminava todo o teto. E esta foi a segunda coisa que lhe chamou a atenção: o teto branco.

Piscando freneticamente, a fim de enxergar com mais clareza, Renato tomou consciência de que estava estirado em uma cama, de barriga para cima, fitando um teto branco com luz oscilante.

Uma vez ciente de si mesmo, Renato tentou sentir seu próprio corpo, mas era como se ele não tivesse pernas, braços, pés ou mãos. A sensação era de ter apenas um cérebro preso a um corpo inerte. Renato fechou os olhos e contou até cem. Lentamente, exercitando uma auto-hipnose e ordenando seu cérebro que ele tomasse posse do resto de seu corpo.

Funcionou. Pouco a pouco, sentiu um formigamento nos pés e os dedos das mãos se moveram.

Aos poucos, outras sensações foram chegando. Um som. Um bipe. Outro som: sua respiração ofegante.

Renato virou o rosto com dificuldade e teve um breve vislumbre do dia lá fora. Havia uma cortina. Havia uma pequena fresta na cortina, que permitia a entrada da luz e possibilitava a visão da área externa. Pelo pequeno espaço entre os dois tecidos, Renato conseguiu distinguir o que seria uma parte do letreiro de um McDonald's. Ele sentiu fome e ficou feliz, isso significava que estava vivo.

Eu estou vivo.

Eu sobrevivi.

Eu sobrevivi? Mas,... sobrevivi a que mesmo? O que foi que aconteceu comigo? Onde eu estou afinal de contas?... eu quero um Big Mac... com batatas fritas e uma Coca-Cola gigante!

Outro barulho. Alguém abriu a porta. Que porta mesmo? Renato podia jurar que uma porta havia sido aberta ali perto. Ele não conseguia levantar a cabeça para se certificar disso, mas podia apostar seu futuro Big Mac que a porta do quarto, ou sabe-se lá de onde ele estava, tinha sido aberta por alguém.

- Renato?

Primeiro veio a voz, depois surgiu o rosto de Joana, pairando sobre ele e ela estava sorrindo.

- Mãe?

Joana tentava conter as lágrimas, mas a emoção foi mais forte do que ela e o choro veio compulsivamente.

- Mãe, o que tá acontecendo? Onde eu estou?

- Renato, meu amor. Você acordou?

Joana se atirou sobre o filho, abraçando-o com tanta força que fez seu corpo doer. Estou sentindo dores, isso é bom, né? Deve ser bom sim, pensou; enquanto era sufocado pelos braços de Joana.

- O que está acontecendo?

Joana finalmente soltou o filho e se afastou um pouco, olhando-o com admiração. Puxou uma cadeira e se sentou perto de Renato.

- Que bom que você acordou.

- O que aconteceu?

Joana ajeitou-se na cadeira e franziu a testa.

- Do que você se lembra, Renato? Qual a sua última memória?

Renato fechou os olhos e tentou puxar alguma lembrança da mente.

- Eu me lembro... eu me lembro do meu pai... a gente no escritório, eu estava segurando o revólver dele aí... aí tudo ficou escuro.

Joana assentiu com a cabeça. Colocou a mão sobre os lábios, ficou por alguns segundos encarando o filho e começou:

- O Manuel se jogou em cima de você. Vocês dois... – ela fez uma pausa, olhando para o teto e tentando conter mais lágrimas. – Vocês dois começaram uma luta e a arma disparou.

Renato arregalou os olhos.

- Como assim a arma disparou? Então, o meu pai... ele está...

- Não. Não, meu querido, não aconteceu nada com seu pai... ele não foi ferido, mas você...

- Mas eu o quê?

- A bala acertou sua barriga e... não acertou nenhum órgão vital – Joana fez questão de enfatizar – ... mas você precisou passar por uma cirurgia. E o importante é que tudo acabou bem. Olha só: você acordou.

Renato ajeitou-se na cama e, finalmente, conseguiu mover a cabeça com mais facilidade. Aos poucos, ia tomando conta dos próprios músculos. Com o alhar espantado, ele achou que estava internado em um jardim. O quarto estava repleto de flores.

- Nossa! Isto aqui tá parecendo uma floricultura.

Joana sorriu.

- Seus colegas de escola, meus colegas de trabalho... todo mundo enviou flores.

Os olhos de Renato pousaram sobre um enorme quadro do Harry Styles estava quase imperceptível atrás de vários buquês de rosas amarelas e vermelhas.

- O que aquilo?

Joana acompanhou o olhar do filho e foi o quadro animada, erguendo-o.

- Este é foi presente do Elvis. Ele disse que você precisava ver um boy bonito, quando acordasse... ou algo assim.

- Elvis? Claro. Tinha que ser.

O vento balançou as cortinas. Renato olhou para o teto. Fixou os olhos sobre a lâmpada, que havia parado de piscar.

- Mãe...

- Sim.

- Quando foi isso?

- Como assim, meu amor?

- Há quanto tempo eu estou aqui?

Joana segurou a mão do filho com carinho.

- Você dormiu por quase três meses, Renato.

- Caramba... – o garoto suspirou.

O barulho da porta se abrindo novamente e a voz dele, invadindo o quarto.

- Dona Joana, não tinha cappuccino, mas eu trouxe um café com leite pra senhora e... – Wesley paralisou ao ver Renato acordado, segurando a mão da mãe. – Meu Deus, você acordou – o cowboy deixou o copo de cappuccino sobre a mesa e correu para próximo da cama com lágrimas nos olhos.

- Você tá aqui – disse Renato, sentindo os lábios do amado tocar os seus.

- Ele esteve aqui todos os dias, o tempo todo – disse Joana, levantando-se e indo em direção à porta. – Vou deixar vocês a sós... sua avó está perambulando pelo hospital, vou avisar a ela que você acordou. Ah, e obrigado pelo café, Wesley.

Joana pegou o copo sobre a mesa e deixou o quarto.

Entre Meninos (Romance gay) - Concluído Where stories live. Discover now