Cap. 35 - Tudo pode piorar

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- Quem diria que a gente ia se esbarrar logo no meu segundo dia aqui em Paraíso. O mundo não é mesmo pequeno? – Juliano não tirava o sorriso do rosto.

Elvis olhava de Renato para Juliano sem entender o que estava acontecendo. Ele não sabia quem era aquele rapaz vestindo um jeans preto coladíssimo e uma camisa xadrez Burberry, mas já o odiava.

- É... muito pequeno... minúsculo eu diria – respondeu Renato, sem muita empolgação.

Houve um breve momento de silêncio, em que Juliano e Renato apenas ficaram ali parados, um de frente para outro, encarando-se. Uns três ou mais minutos de puro constrangimento quebrados, finalmente, por Juliano.

- Quem é esse? – ele apontou para Elvis. – Seu amigo? Você não vai me apresentar ele?

Renato olhou para Elvis e depois para Juliano. Uma vez a professora de matemática lhe disse que ele só melhoraria suas notas em exatas se aprendesse a se controlar. Dona Cátia, a professora baixinha e gorducha, chegou a recomendar aulas de yoga ou meditação. Talvez, se tivesse seguido as dicas da professora; hoje, Renato não estivesse com uma vontade enorme de esfregar a cara de Juliano no chão do shopping.

Tentando se controlar ao máximo, Renato disse baixinho:

- Esse é o Elvis...

Juliano se adiantou e pegou a mão de Elvis antes mesmo que ele pudesse estendê-la.

- É um prazer te conhecer, Elvis! Eu sou o Juliano, um novo amigo que o Renato fez em Rio das Pedras.

- Amigo? – questionou-se Renato, surpreso.

- Claro que somos – afirmou Juliano. – Eu pelo menos, já te considero como um amigo.

Elvis levantou uma sobrancelha, desconfiado.

- Eu sei quem você é. O Renato já me passou sua ficha.

Juliano sorriu para Elvis e, em seguida, para Renato. Tinha a cara mais deslavada que Renato já vira na vida. Que cínico, fica aí com esse sorrisinho idiota tentando fingir que está tudo bem, se manca, seu merdinha! Pensou Renato.

- Quer dizer que você andou falando de mim, Renato? – Juliano deu um tapinha no ombro do rapaz. – Espero que tenha dito apenas coisas boas.

Pode apostar que não, idiota! Só disse a verdade. Só disse o quanto você é escroto!, pensou Renato.

- Mas e aí? O que os meninos estão aprontando?

- Nada! – adiantou-se Elvis. – Só estamos batendo perna à toa mesmo.

Juliano arqueou as sobrancelhas.

- É isso aí! Eu também amo dar voltinhas pelo shopping. Nada como fazer comprinhas num sábado à tarde – ele levantou algumas sacolas que trazia consigo. – Temos muita coisa em comum, afinal.

- Será? – Elvis tentou parecer debochado.

- Somos pessoas de bom gosto – Juliano sorriu.

Elvis mediu o rapaz dos pés à cabeça.

- Até que você tem razão... seu estilo não é dos piores...

O sorriso de Juliano desapareceu imediatamente. Elvis, sentindo-se vencedor, puxou Renato pelo braço e começou a se afastar.

- Foi um prazer te conhecer, Fabiano.

- É Juliano!

- Como?

- Meu nome é Juliano e não Fabiano.

Elvis deu de ombros.

- Tanto faz... como eu disse: foi um prazer.

Elvis e Renato deram as costas para Juliano, que aumentou o tom de voz.

- Estou terminando de montar meu apê aqui em Paraíso, gostaria de que vocês fossem na festa de inauguração.

Renato parou de repente, obrigando Elvis a fazer o mesmo. Em seguida, virou-se para Juliano.

- Você vai morar aqui em Paraíso? – quis saber Renato. – Mas sua faculdade fica em Ressurreição.

- Pois é, no início eu até pensei em alugar algum lugar por lá mesmo... mas quer saber? Os apês aqui em Paraíso são bem mais confortáveis. E depois, nem vou ficar tão longe assim da facul... é só atravessar o rio, né?

- Pois é... – resmungou Renato.

Antevendo que um novo silêncio se instauraria ali, Juliano se adiantou.

- Então, realmente foi muito bom ver você, Renato... e conhecer você, Elvis. A gente se vê por aí.

Juliano deu um tchau com ares de superioridade, girou sobre os calcanhares e deixou Elvis e Renato parados no meio do corredor. O queixo de Renato tremendo incontrolavelmente, de raiva.

- Ela até que é uma bichinha bonitinha...

Renato cerrou os olhos, respirou fundo, abrindo-os novamente para encarar Elvis com ar de censura.

- Que foi? – protestou Elvis. – Ela não é feia... não vou mentir que achei ela horrorosa.

- Que ótimo amigo eu fui arranjar – brincou Renato.

- Eu disse que ela é bonitinha, mas não falei que é gente boa.

- Menos mal, né?

- Pra falar a verdade, eu achei a energia dela bem ruim... você sabe que eu sou sensitiva, né?

- Desde quando? – Renato tentou controlar o riso.

- Desde sempre, mana. Eu sinto a aura das pessoas... sinto a vibração delas, entende?

Renato ficou alguns segundos encarando, incrédulo, o amigo. Elvis sentiu o olhar crítico do amigo sobre ele.

- Afff... já vi pela sua que você não acredita em mim.

- Cara, já pensou em procurar ajuda especializada?

Elvis revirou os olhos.

- Ok, não quer acredit, não acredite. Mas que eu senti uma energia ruim vindo daquela bicha, eu senti.

- Elvis, aquela bicha é o Juliano. Ele é a energia ruim em pessoa... ninguém precisa ser a Zatanna ou o Dr. Estranho... ou sei lá mais o quê, para perceber isso.

- Olha só: você está debochando do meu dom paranormal.

- Não estou debochando de nada – defendeu-se Renato.

- Está, sim. Mas quer saber? Problema seu! Se você não acredita, então eu nem vou falar sobre a vinda do seu namorado... porque eu sei quando ele vai se mudar pra cá.

- Eu também sei. Ele me disse por telefone. Chega semana que vem.

Elvis fez uma careta.

- Viado, a senhora é um saco.

Renato riu.

- Vamos comprar logo aquela camisa para o seu primo.

Eles seguiram pelo corredor lotado do shopping. Na direção oposta àquela que Juliano tomou.

Entre Meninos (Romance gay) - Concluído Where stories live. Discover now