EPÍLOGO

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A mulher já estava na casa dos setenta ou mais, era alta, corpulenta e não tinha uma cara de boa gente. Estava vestindo preto e branco, um figurino que a fazia parecer um pinguim gigante. Ela se aproximou da cadeira e ficou ali de pé, encarando Suzy, que estava sentada a sua frente com uma carranca pouco animadora.

Suzy usava um micro short jeans, camiseta de uma banda pop (que a mulher não conhecia), sapatos de salto (Meu Deus, nessa idade!) e uma bolsa de grife no colo. Muita maquiagem.

Aquela senhora estranha, analisou a garota de todos os ângulos. A menina se vestia de forma vulgar, com certeza. Tinha um comportamento deplorável e cruzava as pernas de maneira nada elegante. Um desastre, ela avaliou.

- Muito bem, garota. Meu nome é Efigênia. Irmã Efigênia. Sou a madre superiora, responsável por esta escola. Aqui as regras são bem claras: – ela foi até a mesa, pegou uma folha de papel e entregou a Suzy – você vai acordar às 5h e vai tomar seu banho. O café é servido às 6h. Você terá meia hora para fazer seu desjejum e, então, ficará responsável pelo galinheiro. Vai recolher os ovos, limpar o local e garantir que nossas galinhas sejam muito bem alimentadas. Suas aulas começam às 8h em ponto... nós não toleramos atrasos, que fique bem claro. Seus estudos vão até as 17h, quando você ajudará um outro grupo de meninas a limpar os banheiros do andar de baixo da escola. vai para a cama às 18h e as luzes se apagam às 21h. Entendido?

Suzy olhava para aquela figura dantesca, saída de um filme da idade média, com incredulidade.

- Nem pensar! – disse a garota.

- Como é que é?

- Eu não vou fazer nada isso. Não sou sua empregada.

A madre superiora sorriu.

- Sim, você vai fazer tudo o que eu estou dizendo. E vai fazer com um sorriso nesse seu rostinho lindo.

Suzy negou com a cabeça.

- Sabe o que eu vou fazer? Eu vou ligar pra o meu pai e vou pedir que ele venha me buscar agora.

A garota abriu sua bolsa Miu Miu, retirou o celular de lá de dentro e apertou o ícone dos contatos. A ação de irmã Efigênia foi mais rápida e Suzy não soube nem quando veio a golpe. Só sentiu sua mão arder como se pegasse fogo. Ela olhou espantada para a mulher-pinguim com uma enorme régua de madeira nas mãos.

- Celulares não são permitidos aqui.

- Você tá louca! Isso que você fez é crime! Agressão a uma menor de idade – gritou Suzy apontando o dedo para a madre superiora e levando outra reguada que a fez encolher a mão e gemer de dor.

- Disciplina, senhorita Suzy! A primeira lição que você terá aqui será sobre disciplina.

Suzy começou a chorar.


******


Joana estava sentada na área externa de uma cafeteria badalada de Paríso, tomando um expresso e olhando para as águas negras do Estige, quando sua amiga Carola se sentou ao seu lado com um copo enorme de café nas mãos.

- E essa cara de felicidade, doutora Joana?

- E não poderia ser diferente, minha amiga. O dia hoje está lindo.

- Está mesmo.

Joana a encarou, tirou os óculos e sorriu.

- Hoje foi um dia de boas notícias também.

- Como o quê, por exemplo?

- Como um certo incidente que aconteceu em uma certa clínica psiquiátrica que nós duas conhecemos muito bem.

A amiga assentiu.

- E não é, garota? Fiquei sabendo que houve uma pane total na noite passada, que algumas portas destravaram assim... do nada. Olha que loucura.

- Pois não é? – Joana ajeitou-se na cadeira. – Sempre achei que essas portas eletrônicas não era lá tão seguras assim. Ah... também fiquei sabendo que houve uma fuga. É verdade?

- Só uma. Um certo rapaz que estava ali, contra a própria vontade, para se curar de uma condição para a qual nós duas sabemos que não há cura. E que também não é errada.

Joana concordou com a cabeça.

- Melhor assim...

- Com certeza...

As duas brindaram e continuaram olhando paras as águas do Estige. 

Entre Meninos (Romance gay) - Concluído Where stories live. Discover now