Cap. 05 - Uma cena encantadora

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Renato puxou uma cadeira de madeira que mais parecia feita de chumbo considerando seu peso. Com muita dificuldade e fazendo um tremendo barulho (espero que minha mãe não ouça e venha ver o que está acontecendo), colocou-a perto da enorme janela que ia quase do piso ao teto. Sentou-se ali, puxou a cortina e ficou observando o delicioso rapaz que se exibia, sem perceber que era notado, lá embaixo, protegido pela sombra de duas enormes jaqueiras que ficavam em frente a cada da fazenda da avó.

Vestindo uma bermuda jeans, camiseta regata branca coladíssima ao corpo, chapéu de palha estiloso, Wesley parecia um astro de cinema. Era impressionante o poder que aquele cowboy tinha sobre a imaginação do "roqueirinho". Como assim roqueirinho? O que será que ele quis dizer com isso? Por que o diminutivo? Será que estava tirando onda com a minha cara aquele dia na cachoeira? Não, provavelmente tenha sido apenas "jeito de falar", Renato não acreditava que Wesley fosse capaz de agir com ironia ou deboche. Ele era um menino ingênuo do interior. Calma lá, rapaz, lembre-se de que aquele gostoso lá embaixo acaba de passar no vestibular para veterinária. Não deve ser assim tão ingênuo ou inocente. Nem todo garoto do mato é ingênuo!, protestou o lado racional da mente de Renato.

Em frente a casa, e ainda sem ter consciência de que era analisado, Wesley se divertir correndo de um lado para outro, brincando com o velho Tupã, um labrador que Vanda comprara ainda filhote para alegrar os netos quando eles iam à fazenda. Renato lembrava pouco do cachorro, mas calculou que ele tivesse por volta de 11 anos, quase a idade da sua irmã Suzy, portanto já se tratava de um cachorro idoso. Observando a animação do animal com as brincadeiras de Wesley, surpreendeu-se com a disposição do cão. O cachorro estava muito bem para a idade que tinha, e continua muito bonito. Quando a avó aparecera na fazenda com o bicho, ele era muito novo, tinha uns quatro anos e ficou fascinado com o animal, o tempo passou, as visitas à avó foram ficando cada vez mais raras (foi o período em Joana estava atolada com a faculdade de medicina) e Tupã caíra no esquecimento. Talvez ele pudesse descer e fazer a linha, fingir que estava morrendo de saudade do cachorro. Seria uma boa desculpa para se aproximar de Wesley. Ou talvez fosse melhor ele ficar ali mesmo quieto no seu canto, sem dar muita bandeira.

Wesley abaixou-se, pegou um graveto e atirou a uma distância considerável, Tupã correu atrás do pedaço de madeira, agarrou-o com a boca e voltou alegre na direção do rapaz, o rabo balançando freneticamente de contentamento. Wesley abaixou-se, abraçou o cachorro e cobriu-lhe de beijos, Renato sentiu uma pontinha de ciúmes, queria estar no lugar de Tupã. Ah, como gostaria de ser ele a receber aqueles beijos e abraços.

Batidas na porta do quarto fizeram com que Renato tirasse os olhos da cena bucólica lá embaixo, saísse de seus devaneios e virasse o rosto.

- Quem é?

- Sou eu, Renato – disse Joana do outro lado.

- Entra.

A porta se abriu e Joana colocou a cara para dentro do quarto.

- Judite fez bolo de fubá para o lanche, num quer descer? Tá maravilhoso.

- Não tô com fome, mãe. Obrigado.

- Se quiser, eu posso trazer um pedaço pra você.

Renato abriu a boca para falar, de forma um tanto grosseira como vinha fazendo nos últimos tempos, que já havia dito que não estava com fome e que a mãe deveria parar de insistir naquilo,  mas desistiu de fazê-lo. Realmente nos últimos dias, a mãe estava fazendo um grande esforço para parecer agradável, talvez ele pudesse dar uma chance à médica. Talvez estivesse na hora de deixar o rebelde sem causa de lado um pouco e dar à mãe a chance de ser uma pessoa bacana. Parar de brigar com a mãe teria seu lado positivo, ele teria uma adolescência mais tranquila.

Entre Meninos (Romance gay) - Concluído Where stories live. Discover now