Cap. 30 - Cúmplices e amantes

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Renato acordou por volta das 9h. Há tempos não tivera uma noite de sono tão tranquila. Assim que despertou, a lembrança do que tinha acontecido na noite anterior lhe provocou um sobressalto. Meio zonzo, e ainda mergulhado na escuridão do quarto, ele tateou a cama e percebeu que estava sozinho. Será que foi tudo um sonho?, pensou. Não, não foi. Ele ainda podia sentir o cheiro do perfume de Wesley em seu travesseiro.

Confuso, ele se levantou, pegou uma toalha no armário e foi tomar um banho. Talvez a água pudesse reavivar sua memória e ajudá-lo a se lembrar do que tinha acontecido depois que ele caiu no sono. Afinal, a que horas Wesley deixara o quarto?

Renato ligou o chuveiro e deixou a água cair sobre o seu rosto por um longe tempo. Aos poucos, ele foi tomando consciência do que havia feito na noite anterior. Há um mês, a possibilidade de ter uma noite regada a amasso, beijos e sexo nem passava pela sua cabeça. Mas ele não havia apenas transado há poucas horas. Ele tinha feito amor. Agora ele entendia o sentido daquela expressão. E não era só isso. Havia o fator loucura. Afinal, ele e Wesley fizeram amor, enquanto a irmã dormia no quarto ao lado e seus pais também sonhavam a poucos metros dali. Isso, sim, era ousadia.

Ao se lembrar de que o quarto de Suzy ficava grudado ao seu, Renato não conseguiu segurar o riso. A gargalhada veio tão forte que ele engasgou com a água e precisou desligar o chuveiro para se recompor. Será que ela ouviu algum som que não deveria ouvir?, ele pensou. Pouco provável. Até onde ele sabia, Suzy tinha o péssimo hábito de dormir com os fones do celular enfiados nas orelhas. Com certeza, enquanto ele e Wesley se entregavam um ao outro, sua irmãzinha estava apagada com alguma boy band idiota gritando em seu ouvido.

Naquela manhã, Renato demorou mais tempo do que o normal para escolher a roupa que iria usar. Enquanto decidia, entre três ou quatro camisetas, qual seria a da vez, ele percebeu que toda aquela indecisão tinha nome e endereço: Wesley, que dormia no quarto ao lado da biblioteca. Mesmo inconsciente, o que Renato estava fazendo era se arrumar para o seu boy magia.

- Caramba, o que tá acontecendo comigo? – perguntou-se, empurrando uma camiseta estampada com uma imagem do Sandman para o lado, abrindo espaço para se sentar. – Eu estou parecendo uma adolescente bobinha. Vamos lá! Postura, Renato! – disse, colocando-se de pé.

Quinze minutos depois, Renato escolheu uma camiseta cinza, que parecia propositalmente desbotada, e que trazia o dragão de três cabeças da Casa Targaryen estampado no peito. A calça preta rasgada nos joelhos e um par de All Star, também preto, que a mãe tentara jogar fora várias vezes (Pelo amor de Deus, esse tênis já deu o que tinha que dar, Renato!), completava o figurino. Renato observou-se mais uma vez no espelho e gostou do que viu. Suas roupas podiam não agradar a todos, mas aquele era ele. Medindo-se da cabeça aos pés, ele ficou um tempo maior observando o All Star. Renato não podia culpar a mãe por querer se livrar deles. Eles certamente já haviam tido dias melhores, mas sua mãe não entendia que era justamente aí que estava o charme daquele par de calçados.

Sorridente, Renato deixou o quarto. Enquanto atravessava o corredor, pensou no que o seu amigo Elvis diria quando soubesse de tudo o que tinha acontecido. Miga! Você finalmente desencantou? Já tava na hora, sua louca!, a voz do amigo ressoava em sua mente.

Assim que entrou na cozinha para tomar seu café, Renato deu uma estacada ao ver Wesley sentado à mesa. Passado o susto, ele também se sentou. De frente para o cowboy.

- Bom dia – disse Wesley.

- Bom dia – respondeu Renato na direção de Wesley e cumprimentando com um gesto de cabeça Judite, que estava ao lado do fogão.

- Pensei que ocê não fosse descer hoje pra tomar café – sorriu Judite, colocando uma xícara na frente de Renato.

- Eu acabei perdendo a hora...

- Noite agitada? – perguntou Wesley, disfarçando um sorriso atrás da caneca que levou à boca.

- Um pouco...

- Impressionante. Quer dizer que você conseguiu achar um pouco de diversão neste fim de mundo?

- Pois é. Tudo é uma questão de procurar no lugar certo.

- Interessante – por baixo da mesa, Wesley começou a roçar a sua perna na de Renato.

Renato olhou para Judite nervoso. Como ela continuava distraída mexendo uma enorme panela de ferro, ele acabou relaxando e entrelaçou suas pernas na de Wesley também.

- E a sua noite? – devolveu Renato, com os olhos fixos no cowboy. – Como foi?

- Maravilhosa! Acordei renovado e fui correr um pouco com Tupã numa trilha atrás da casa.

- Acordou cedo então?

- Sempre acordo. Mas hoje, digamos que eu madruguei.

- Algum motivo especial?

- Tinha que cuidar de umas coisas... garantir que estava tudo em ordem.

- Do que ocê tá falando, meu filho? – quis saber Judite, que se aproximou da mesa para depositar um pequeno cesto cheio de pão de queijo quentinho entre os meninos.

- Nada, não, vó. Só estava conferido se não estou esquecendo de por nada nas minhas malas, esqueceu que semana que vem eu vou pra universidade?

Judite suspirou.

- Nem me lembre disso. Dá um aperto aqui no peito, só de pensar que vou ficar longe d'ocê.

Wesley segurou a mão da avó, beijando-a.

- Eu vou estar aqui de quinze em quinze dias, dona Judite. Relaxa.

- É verdade... – disse Judite. – Mas ó... eu quero dizer que eu tô muito feliz do meu menino tá entrando na faculdade.

- Eu sei, vô – Wesley puxou a mão de Judite até seu rosto.

- Mas vamos deixar de tristeza, né? – Judite desvencilhou-se do neto, voltando para perto do fogão. – E ocês dois come logo esses pão de queijo antes que esfrie.

Renato sorriu para Judite e depois para Wesley. Esticou o braço para pegar um pão de queijo, fazendo questão de esbarrar na mão do cowboy. 

Entre Meninos (Romance gay) - Concluído Where stories live. Discover now