Capítulo 17.

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Sophie

— O que? — Perguntei, enquanto o russo me encarava com os braços cruzados.
— Nós não vamos. E muito menos com você vestida assim
Eu revirei os olhos. Nem estava usando minha roupa mais ousada. Quis rir ao imaginar a reação dele se estivesse.
— Gostou? — Sorri, dando uma volta para que ele pudesse apreciar melhor minha escolha do vestuário: Usava um collant preto com um decote que destacava meus seios e uma saia jeans combinada com uma meia calça arrastão, além da minha bota favorita.
— Que pergunta é essa? É claro que eu gostei, mas não mude de assunto, eu...
— Gostou mesmo? — Fiquei de costas, empinando um pouco a bunda e o olhando por cima do ombro
— Sophie, você não vai me fazer mudar de ideia. — Ele respondeu, mas sua voz já não estava tão firme.
Eu então me virei para ele e me aproximei devagar, empurrando-o no sofá e sentando em seu colo. Vi uma sombra de um sorriso em seus lábios, e sua mão foi até minha cintura.
— Por favor? — Insisti, dando um beijo devagar em seus lábios.
— Se alguém nos ver...
— Ninguém vai. Estaremos em Nova Orleans. — Assegurei, agora dando alguns beijos em seu pescoço. Ele apertou onde suas mãos estavam e eu suspirei.
Tentava convence-lo a ir em algum bar ou balada já tinha umas duas semanas. Naquele dia, decidi já ir até sua casa pronta, e assim seria mais difícil dizer não. Meu pai passaria o fim de semana em algum tipo de convenção da qual não me importei em lembrar, e eu sabia que seria a oportunidade perfeita.
A ideia era ir até outra cidade para que ninguém nos reconhecesse. Afastei meu rosto de seu pescoço para o encarar.
— Meu pai está viajando, iremos para longe...Vamos! A gente só fica aqui, assistindo um catálogo questionável de filmes e documentários.
— Voce gostou daquele sobre o Egito.
— E não me orgulho disso. — Brinquei, e pude ver que ele estava quase cedendo — Será que podemos esquecer o que é certo só por hoje?
Ele suspirou pesadamente e eu sabia que tinha vencido. Nem esperei uma resposta sair de seus lábios, levantei-me animada. O mais velho, com uma expressão quase que de derrota, foi até o quarto para se arrumar. Pude escutar o barulho do chuveiro e tive vontade de me juntar a ele, mas achei melhor ficar ali ou não sairíamos da casa naquela noite. Além do mais, ainda não havíamos ido tão longe e eu não sabia o quanto estava confortável para fazê-lo.
Peguei meu celular enquanto aguardava, mandando uma mensagem de texto para Sienna.
"Adivinha para onde vamos?"
"Ugh, finalmente!" - Foi a resposta da morena, e eu ri sozinha.
"Você tem certeza que esse bar é legal?"
"Acredite em mim. Vocês vão se divertir."
"Espero que sim."
Larguei o celular e encarei o teto. Realmente esperava. Seria muito ruim se ele não se divertisse e acabássemos voltando entediados. Aí estava a parte ruim de estar com alguém mais velho e com gostos tão diferentes.
— Sophie... — O sotaque acariciou meus ouvidos. Eu gostava de como meu nome soava em sua boca, mas gostava ainda mais quando ele me chamava pela versão russa. — Pode vir aqui?
Sim. — Levantei-me e caminhei em direção ao quarto, me deparando com um Nikolai vestindo uma calça jeans - o que era difícil de ver já que ele parecia só ter moletons -, um tipo de coturno que combinava até demais com o homem. Sua camiseta era branca e justa, as mangas deixavam os músculos de seu braço evidentes e a gola V de alguma forma deixava a peça sexy. O cabelo escuro estava ainda úmido, penteado para trás, e eu quase desisti do passeio para me jogar na cama minuciosamente arrumada.
Você está...caramba. — Eu tentei dizer, sem realmente saber como colocar em palavras. Um Deus russo?
— Spacibo. — Eu já havia escutado aquela palavra um número de vezes suficiente para aprender que era "obrigado". Ele então me mostrou o motivo de ter me chamado ali, estendendo dois perfumes e perguntando qual eu gostava mais. Apesar de um detalhe bobo, achei uma graça o fato de que ele queria saber qual usar para me agradar. Após escolher o recipiente azul escuro, que continha um cheiro mais cítrico. Ele borrifou algumas vezes e então estava pronto. — Você tem o endereço?
Depois de uma resposta positiva por minha parte, ele pegou o restante das coisas que precisava - carteiras, Chaves - e fomos até seu carro. Antes de dar partida ele hesitou um pouco, e eu coloquei a mão por cima da sua.
— Vamos nos divertir. Nem tudo tem que ser pensado vinte vezes antes.
— As possibilidades de algo acontecer são...
— Pequenas. — Interrompi. E de fato, eram. Iríamos para Nova Orleans, que ficava a uma hora de distância dali, em um bar não tão famoso. — Promete que vai tentar se desligar e se divertir?
E com um longo suspiro, ele concordou e começou a dirigir.

Nikolai

— E você queria mesmo ser professor? Ou foi algo que só aconteceu? — Sophie, perguntou, já mais da metade do caminho.
— Apenas aconteceu. Eu sempre fui bom em esportes mas não era exatamente uma paixão, então eu sabia que não conseguiria seguir a carreira. Não com a dedicação necessária. Então eu acho que vi isso como uma outra opção.
— E tem algo que você gostaria de fazer?
— Na verdade, não. — Encolhi os ombros, os olhos na estrada. — Nunca aspirei grandes coisas. — Admiti, imaginando o que a mais nova pensaria sobre aquilo.
— Você é feliz no que faz?
— Sim.
— E mudaria algo em sua trajetória até aqui?
— Acho que não
— Então você aspirou grandes coisas. Mas grandes coisas para você. As vezes as pessoas acham que só tem um caminho para felicidade, e não é assim. Isso é tão pessoal. Quer dizer, não buscamos a felicidade? Se você se sente realizado com o que tem, então está exatamente no patamar que muitos tentam chegar.
— Você é inteligente demais para uma garota da sua idade.
— Eu sei. — Ela de gabou, jogando o cabelo em tom de brincadeira
— E você? O que pretende fazer na faculdade?
— Na verdade, eu estava pensando em Psicologia.
— E você se inscreveu em quais faculdades?
— Em algumas na Califórnia, mas a que espero entrar é UCLA.
— Oh. — Arqueei as sobrancelhas, levemente incomodado, por falta de melhor palavra, com a distância.
— Um pouco longe. — Ela reconheceu, sabendo onde meu pensamento estava. Mas eu tirei meus olhos rapidamente da estrada para lhe dar um leve sorriso.
— Você vai conseguir entrar.
Ela sorriu, e ficou em silêncio alguns minutos antes de continuar.
— Como acha que vai ser? Quando eu for para a faculdade?
— Não sei. Mas não deveria pensar nisso. Apenas coloque seu futuro antes de qualquer coisa, o resto a gente da um jeito.

O TreinadorWhere stories live. Discover now